Tempo de leitura: 5 minutos

Por Mozart Rosa

O Estilo Leopoldina de Ser – Parte 02

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No capítulo anterior você leu sobre a eficiência e importância do padrão Leopoldina; uma breve explanação sobre a guerra das bitolas (assunto que estará online muito em breve em matéria inédita, especial e exclusiva) e a influência que ela teve na decadência da Leopoldina e de linhas em bitola métrica; o uso de locomotivas antiquadas; e a diferença de tratamento e investimentos entre a EFCB e as demais ferrovias.

Neste capítulo você saberá mais sobre:

  • O Sr. Wilson Albuquerque
  • Como o Brasil enriqueceu com a Ferrovia?
  • A importância do estilo Leopoldina de ser.

Desejamos uma ótima leitura a todos. Vamos lá ?

Você conhece o Sr. Wilson Albuquerque? Com certeza não, e isso mostra como o ensino de história no Brasil poderia ser melhor e mais abrangente. O Sr. Wilson é mais um daqueles heróis anônimos cuja história merece ser contada. A história que nos interessa é a relação dele com a ferrovia, entretanto vale a pena lembrar que o Sr. Wilson fez parte da segunda turma de pilotos navais formados pela Marinha do Brasil, de uma época em que avião era movido a lenha (brincadeirinha), que foi a base da Força Aérea Brasileira. Só por isso o Sr. Wilson já merecia fazer parte da história mas quando Getúlio Vargas ordena o bombardeamento de São Paulo durante a revolução de 1930, o Sr. Wilson disse que não bombardearia seus irmãos.
Se reverenciássemos nossos heróis como merecem, isso era motivo de ter uma estátua em homenagem, além de ser nome de rua.

Sr.Wilson é o segundo na fila superior da direita para a esquerda
Foto de Arquivo Pessoal

Foi preso e ao sair da marinha se muda para o interior de Minas Gerais, onde começa a fazer a vida. Se tornou o primeiro vice-prefeito eleito da cidade de Recreio, até então distrito de Leopoldina. Na época se elegiam de forma independente o prefeito e o vice.

Sr. Wilson, eleito o primeiro vice-prefeito eleito de Recreio
Foto de Arquivo Pessoal

Sr.Wilson se tornou também empresário, monta indústrias, e seus produtos eram despachados para todo interior de Minas Gerais pela E.F. Leopoldina. Recreio foi uma grande oficina e um grande entroncamento ferroviário. Com a decadência e o fim da Leopoldina as indústrias do Sr. Wilson decaíram, e a cidade também. Toda a atividade econômica existente em volta da ferrovia evaporou-se, e não estamos falando aqui apenas dos negócios do Sr. Wilson mas de todos aqueles que de uma forma ou de outra negociavam com a, e pela, ferrovia.

Será que todos entenderam?
Não é preciso desenhar, certo? 😜

Cidade de Recreio-MG com o movimento regido e influenciado pelo tráfego de trens da EF Leopoldina
Fonte: Blog O Trem Expresso, do amigo Amarildo Mayrink

O estilo Leopoldina de ser, que hoje chamamos de Short Line e é aplicada em diversos países mundo afora, ajudou o Brasil em seus grotões a crescer. É isso que a AFTR quer, planeja e deseja: o desenvolvimento econômico das pequenas cidades, das empresas pequenas e lucrativas, que fazem parte de um sistema eventualmente alimentando as empresas maiores.

A Kiamichi Railroad Company foi eleita a Short-line do ano de 2018 nos Estados Unidos, reconhecida por seu compromisso com segurança, serviço, crescimento, investimento e velocidade.
Esta companhia
tem participação principalmente no mercado de agregados, pasta de celulose e carvão.
Fonte: Rail Age

Um exemplo prático disso é o funcionamento do Cinema nos Estados Unidos. Assim como as pequenas ferrovias podem suprir e alimentar as ferrovias maiores, o sistema de produção de filmes americanos, onde as Major, como:

  • Disney
  • Warner
  • Sony
  • Universal

produzem e distribuem as tramas, e onde empresas menores (não tão menores) como:

  • Lions Gate
  • Ilumination Entertainment
  • Imagine Entertainment
  • Legendary Pictures

apenas produzem e as Major distribuem.

Exemplos de Empresas produtoras de Cinema de grande porte, as Major

Exemplos de Empresas produtoras de Cinema de pequeno e médio porte, que produzem e fornecem material para as Major

Os americanos são ricos por diversos motivos, um deles é esse. Qual a dificuldade em, pelo menos neste aspecto, imitarmos eles?

Esta é uma questão e um texto para nossos amigos leitores, seguidores, autoridades e demais interessados refletirem. E então, o que acham ?

Gostou? Curtiu ? Comente ! Compartilhe !
Agradecemos a leitura. Até a próxima !

Imagem destacada: Cidade de Recreio, com a bifurcação de dois importantes trechos da EF Leopoldina. Fonte: Blog o Trem Expresso

(A opinião constante deste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente, a posição e opinião da Associação)

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

3 thoughts on “O Estilo Leopoldina de ser – Parte 02

  1. Achei a matéria muito interessante.
    Me lembrei de um Sr., mineiro de Pirapetinga, que foi meu chefe anos atrás. Ele falava que Leopoldina abastecia muito bem sua cidade e também levava para o Rio de Janeiro arroz e pedras decortivas, os principais produtos da região naquela época.
    Segundo ele, em sua infância, na decada de 1930, os mais velhos viam o trem com admiração, devido ao progresso que a ferrovia trouxe a região. Na década de 1940 surgiram na região as primeiras estradas asfaltadas, porém não houve uma modernização equivalente na ferrovia. Na decada de 1950 as pessoas começaram a associar a rodovia ao progresso e a ferrovia foi sendo abandonada pelos usuáriuos.

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