Tempo de leitura: 5 minutos

Por Mozart Rosa

Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor como um todo, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.

Continua após a publicidade

A historia é longa, por isso antes de finalizarmos dividimos o nono capítulo desta série em três partes. Vamos à terceira parte agora. Boa Leitura a todos.

09 – O Motivo do fracasso das ferrovias no Brasil: quem efetivamente acabou com as ferrovias no Brasil (Parte 3)

Vamos falar de um personagem que teve nome, sobrenome e motivos louváveis: Carlos Aloísio Weber. Conseguiu realizar várias melhorias mas infelizmente não teve como domar totalmente a situação.

Acidente de Magno, em 1974. Um trem descarrilou e tombou, invadindo a quadra da Escola de Samba Império Serrano.
Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo

Em 1974, por conta do acidente com o trem de passageiros em Magno, o então Presidente da República Ernesto Geisel nomeou o Coronel Weber como presidente da RFFSA, tendo a missão de colocar ordem na casa. Weber, ao ocupar o seu posto, vê que administrava não um elefante branco mas um verdadeiro mamute! Uma das primeiras medidas para tentar racionalizar as operaçoes foi extinguir o transporte de varios produtos como, por exemplo, laticínios e carga viva. A situação era bastante complicada, o que o coronel Weber viu faz qualquer filme distópico parecer filme da Disney.

Coronel de Engenharia Carlos Aloysio Weber, presidente da RFFSA por vários anos, responsável pela Hercúlea missão de recuperar a companhia.

Deixe de lado por um tempo o que leu ou sabe sobre a comissão de erradicação de ramais feita com o apoio dos EUA. Essa é outra história nebulosa.

Compra de nova frota de trens no ano de 1978
Foto: Revista Manchete

Em 1992 o autor dessa postagem foi chamado para um atendimento no prédio sede da RFFSA e viu uma das cenas mais surreais de sua vida, uma cena digna de um filme de George Orwell: um imenso andar cheio de mesas com funcionarios e suas máquinas de escrever, mas NINGUÉM trabalhando, e o papo rolando solto. Isso às 10:00 da manhã.

Foto: Relatório da RFFSA de 1968

Aos leitores que passarem pelo prédio da sede da empresa, localizado na Avenida Presidente Vargas, vejam a largura do prédio e entendam a profundidade do escrito aqui. Para piorar este autor que vos escreve foi na sala de um dos diretores e pasmem: duas secretárias em uma sala com aproximadamente 250m², o que de acordo com as palavras de um amigo, é praticamente um latifúndio. Roberto Marinho, dono das Organizações Globo; Amador Aguiar, dono do Bradesco; Antônio Erminio de Moraes, dono do Grupo Votorantim… nenhum deles tinha uma sala com 250m². Mas a diretoria da RFFSA tinha salas com esse tamanho. Por aí já se imagina como seria a sala do Presidente.

Mas o que estava ruim ainda podia piorar, e piorou.

Procurando a pessoa que solicitou o atendimento fui informado de que, embora seu paletó estivesse na cadeira (paletó Branco), pela hora o cidadão estaria na rede que possuia no Aterro do Flamengo jogando vôlei com os amigos. O desdobramento do ocorrido é irrelevante mas esse relato mostra as entranhas da RFFSA.

Equipe de manutenção de material rodante e via permanente da RFFSA
Foto: Revista Manchete (1977)

Que fique bem claro: a equipe operacional da RFFSA levava as coisas a sério, mas esse foi um retrato de como funcionava a administração da mesma. A redução de custos nunca focou demissões ou diminuição dessa máquina, mas sim, redução de operações.

Perceberam um dos motivos de muitos ramais terem sido extintos ?

Será que algumas pessoas, ao reverenciar a RFFSA, sabem dessas informações e descalabros administrativos?

Oficinas de Praia Formosa em 1964
Fonte: Arquivo Pessoal de Benício Guimarães (AFTR/AENFER)

 

Loading

Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

5 × três =

Previous post O motivo do fracasso das ferrovias no Brasil (9 – II) – Getúlio Vargas
Next post O motivo do fracasso das ferrovias no Brasil (10 – final)
error: Este conteúdo não pode ser copiado assim. Caso use o arquivo, por favor cite a fonte.