Estação Califórnia e Jundiá - Linha do Litoral

Área para postarmos informações, fotos e documentos sobre a ferrovia e suas estações. Informações sobre as diversas linhas, ramais, estações e companhias adqüiridas pela Leopoldina (ex.: EF Cantagalo) podem ser adicionados no interior deste tópico.
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Estação Califórnia e Jundiá - Linha do Litoral

Mensagem por admin » 14 Jan 2013, 21:26

Este relato, as imagens e registros foram feitos pelo forista bernardooberg e postados no fórum de Expedições.
Para divulgação desta grande e surpreendente aventura, copiei as informações para cá:

Pessoal,
Vou relatar agora a expedição que fiz hoje (13/01/2013) para fotografar as estações de Jundiá e Califórnia, ambas da Linha do Litoral da E.F.Leopoldina.

Inicio pedindo desculpas por não ter esperado algum encontro para fazermos esse trajeto juntos. Estava muito intrigado e muito motivado em encontrar logo essas duas estações perdidas. Parece que quanto menos informações temos mais gostamos de pesquisar e ir atrás, até chegar o momento de partir para a trilha em busca do objetivo. Sei que é complicado marcar os encontros, existem muitas variáveis e empecilhos e eu não estava disposto a esperar semanas para encontrar essas duas estações. Precisava partir JÁ!

Passei boa parte dessa semana pesquisando sobre essas duas estações. Cheguei mesmo a ter o sono perturbado por causa delas.

Vindo do sul pela Linha do Litoral, depois de Rocha Leão, a primeira estação é Jundiá. Me intrigava o fato de não haver nenhuma foto ou quaisquer informações mais detalhadas acerca dessa estação. A descrição muitíssimo resumida do site (http://www.estacoesferroviarias.com.br/ ... jundia.htm) era muito pouco. Pesquisei bastante e não achei nada mais além disso. Sabia que ficava 6.0km após Rocha Leão e 3.4km antes da Califórnia. Com base nisso entrei no Google Maps e setei a escala para 200m, o tamanho perfeito para o diâmetro de uma tampa de garrafa PET que estava ao meu lado. Fui contando as 30 “tampinhas” e cheguei até um local suspeito, com algumas construções e a ruína de uma pedreira. Até postei essa observação em outro tópico (http://www.trilhosdorio.com.br/forum/vi ... =618#p4437). Essa era a informação de melhor qualidade que tinha. Precisava ir até lá.

Após Jundiá está a estação Califórnia. Sobre essa tínhamos um pouco mais de informação mas nada tão relevante quanto fotos, datas de construção e reformas, etc. Novamente pelo excelente site (http://www.estacoesferroviarias.com.br/ ... fornia.htm) sabíamos que estava demolida, sem mais informações. Pesquisei bastante, percorri diversos caminhos na internet, pesquisando pelos vocábulos os mais diversos e acabei encontrando um jornal de 3/4/1940 que continha o anúncio de alguém vendendo 2.000m de madeira por mês da “Fasenda Cantagalio”, na “Estação Califórnia” (http://memoria.bn.br/DocReader/DocReade ... tagalio%22). Pensei: aí tem.

Pesquisei mais e achei decreto de 1987 do ex-presidente Sarney autorizando a desapropriação da tal Fazenda Cantagalo para fins de reforma agrária (http://www6.senado.gov.br/legislacao/Li ... ?id=221200). Reparem que no decreto consta “Estação Califónia”, SEM O “R”!!! Por isso o Google não acha! Pesquisar por “Fazenda Cantagalo” foi a salvação pois no decreto constam as coordenadas da fazenda e logo a primeira delas (E=197.200 N=7.520.180 MC 45o) diz que está “situado na passagem de nível a 130m do meio da plataforma da antiga Estação Califónia, da RFFSA”. Digo que o decreto foi a salvação pois repetindo o procedimento e contando 17 tampinhas (3.4km) desde Jundiá acabei caindo em um lugar totalmente diferente.

Converti e plotei as coordenadas de forma que o Google Maps entendesse. Pronto. Caiu muito próximo à passagem de nível. Já sabia onde eu devia chegar.

Fiz o caminho inverso desde a passagem de nível até a Estrada de Cantagalo (região rural de Rio das Ostras, não confundir com o munícipio de mesmo nome). Acabei caindo no pequeno centro (se é que podemos chamar assim) de Cantagalo, onde temos alguns restaurantes, farmácia, escola municipal, etc.

Já tinha todos os dados, sabia onde eu queria chegar e SABIA CHEGAR! Motivação e ímpeto não me faltavam. Não sabia, porém, se devia ir de carro pois dava pra ver que a estrada que devia seguir era de terra mas não tinha como saber se precisava de um 4x4 ou não. Decidi ir de bicicleta.

A viagem: saímos de casa (fui com a mulher) às 07h. Deve-se pegar a estrada de Cantagalo (RO-005) que contorna Rio das Ostras por trás até chegar à Macaé. Tem sido uma via muito usada, apesar de mais longa, por gente que mora em RO e trabalha em Macaé visto o engarrafamento ABUSURDO que se forma entre as duas cidades pela manhã na BR-101/Rod.Amaral Peixoto.

Chegando no centrinho de Cantagalo sabia que devia seguir pela estrada de terra que tem à esquerda e prosseguir. Haveria uma bifurcação em um ponto e eu sabia que tinha que continuar pela direita. Assim fomos até que chegamos na tal passagem de nível. Vi logo uma placa grande que indicava tratar-se de um assentamento do MST. Perguntei a uns caras que pareciam morar ali onde ficava a antiga estação e eles me falaram que era numas barraquinhas mais adiante. Chegando nas barraquinhas perguntei denovo, agora para um cara que parecia o líder do MST na região. Ele, muito solícito, me apontou onde ficava a estação. E o engraçado é que passava um carro pela via (não, não era da FCA/MRS/RFFSA, era um gol vermelho comum de alguém da região) e eu falei “em frente de onde tá passando aquele carro?”. Só agora me dou conta do estranho da situação. Pedi então orientação de como faria para chegar até a estação de Jundiá e ele me explicou. Seguimos então até a estação Califórnia que era pouco mais adiante de onde estávamos (barraquinhas/casebres na passagem de nível). Realmente, da passagem de nível até a estação deve dar algo entre 100-150m. Infelizmente já não resta mais nada da estação, só a plataforma. O local é cheio dos casebres do pessoal do MST. Perguntei ao casal que vive no casebre exatamente onde era a estação se a muito tempo que não passava trem ali e eles disseram que sim, que moravam ali a uns dois anos e que nenhum passava. Só um “trenzinho” que passava jogando veneno para matar as plantas (presumo ser um auto de linha). Eles nos ofereceram suco mas não aceitamos, tínhamos uma jornada a cumprir até Jundiá.

Como indicado pelo líder (parecia ser) do MST tínhamos que seguir uma trilha paralela aos trilhos até chegarmos a uma rampa íngreme de barro vermelho, daí tínhamos que pegar uma trilha à esquerda e ir beirando o trilho. Íamos encontrar um curral, uma casinha e a estação. Ele falando parecia fácil, rápido e perto. Eu mesmo pensei que vencer os 3.4km fossem moleza.

Como diria lá o tal Joseph Climber, “a vida é mesmo uma caixinha de surpresas”. Não sabíamos o que nos esperávamos. Chegar até a rampa íngreme de barro vermelho foi fácil. A trilha beirando o trilho foi um pesadelo. Não dá pra andar de bicicleta pois tem muita pedra, o terreno é muito ruim e fica entre o barranco e o leito da ferrovia. Impossível trafegar pedalando. Noventa por cento do tempo tivemos que ir caminhando pelo meio dos trilhos. Os 3.4km pareceram 30km.

Para compensar o esforço a paisagem é belíssima. Vale muito! Triste pensarmos que perdemos tudo isso em função de interesses escusos de indústrias de borracha, de combustíveis, e de tantos outros. Poluiríamos menos, transportaríamos mais e de forma mais barata e ainda ganharíamos a paisagem maravilhosa!

Finalmente, depois de muito andar, avistamos a ruína da antiga pedreira explorada pela The Leopoldina Railway Co. Pensei estarmos perto pois a estação foi construída justamente para atender à pedreira. Não deu outra. Depois de uma curva lá estava ela. Ainda em pé! Mas sem telhado. Totalmente abandonada, dentro de uma propriedade privada. Olhei no celular – ainda tinha uma barra de sinal! – e vi que era lá mesmo onde eu havia contado as 30 tampinhas! Dentro da estação sem telhado, com porta e janelas quebradas avistei uns materiais, pneus, tudo jogado. O dono da propriedade não fez a mínima questão de preservar o patrimônio que um dia foi público. Do lado de fora da cerca sobrou um toco de concreto da estação e as escadas. Mais nada. Estava difícil de enxergar o nome da estação devido à ação do tempo. Em uma delas dá para ver melhor a inscrição “Jundiá”. Forcem bem a vista para ver, tirei as melhores fotos que pude. Ouvíamos algumas vozes dentro da propriedade mas eles não nos viram. Também não queria invadir. Decidi caminhar mais adiante e, surpresa das surpresas, um “vagão”! Ou o que restou dele. Tentei identificar algum numero de série mas não encontrei nada devido à ferrugem e ao mato. Muitos marimbondos estavam por ali, achei melhor não arriscar. Estávamos MUITO longe para qualquer tipo de problema mais grave. Bebemos os últimos goles de água, comemos uma banana e voltamos pelo LONGO caminho.

Na volta, antes de chegar ao assentamento do MST, ouvimos vozes em uma casa e decidimos pedir água. Eles encheram nossas garrafas com água gelada e nos revigoramos. A porteira da casa tinha pedaços de trilho! Chegamos ao MST, acenei pela última vez ao líder do acampamento e seguimos até o centro de Cantagalo (compramos mais água!) e daí de volta pra casa, onde chegamos às 14h, EXAUSTOS.

Pela trilha nada de especial, a não ser a paisagem. Alguns pedaços de trilho jogados pelo lado, alguns tocos de trilho fincados no chão e até um inteiro! Pensei até ser um poste.

Foi isso. Aprendi agora mesmo como usar o OpenStreetMaps e os locais, identificados como ruínas, já estão lá. Identifiquei também a estrada de terra que nos levou até a passagem de nível. Não sei como inserir fotos no OpenStreetMaps e no GoogleMaps/Earth. Se alguém puder me ensinar, agradeço.

Infelizmente Jundiá e Califórnia não existem mais, são apenas ruínas. Gostaria muito de relatar estações preservadas, onde o respeito ao patrimônio e a história não tivessem sido desrespeitados. Não foi dessa vez. Pelo menos apaziguei minha inquietação e estou pronto para a próxima.
Espero que tenham gostado do longo relato.

FOTOS:
Foto 1: Placa próxima à passagem de nível.
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Foto 2: Placa da passagem de nível, logo na chegada. O sr. de cócoras e camiseta vermelha é o que me deu a informação sobre a Estação Califórnia. Via para a direita da foto vai para Macaé/Imboassica.
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Foto 3: Via para a esquerda vai para Jundiá/Rocha Leão.
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Foto 4: Vista da placa do assentamento. Para a direita segue-se para Macaé/Imboassica. Para a direita Jundiá/Rocha Leão.
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Foto 5: Plataforma da Estação Califórnia. Não há mais o prédio da estação. Casebres do MST.
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Foto 6: Plataforma da Estação Califórnia. Via vai para Macaé/Imboassica.
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Foto 7: Plataforma da Estação Califórnia. Não há mais o prédio da estação. Casebres do MST.
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Foto 8: Plataforma da Estação Califórnia. Via vai para Jundiá/Rocha Leão.
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Foto 9: Trilhos ao lado da Estação Califórnia.
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Foto 10: Indo para Jundiá. Até aí, na trilha ao lado da via, era possível andar de bicicleta!
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Foto 11: Inscrição nos trilhos.
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Foto 12: Indo para Jundiá. Trilho inteiro fincado no solo.
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Foto 13: Pedreiras e suas ruínas.
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Foto 14: Pedreiras e suas ruínas.
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Foto 15: Pedreiras e suas ruínas.
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Foto 16: Após uma reta infinita, uma curva e a descortina-se a Estação Jundiá.
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Foto 17: Estação Jundiá
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Foto 18: Estação Jundiá e o que restou de sua plataforma (fora da cerca da propriedade). Atrás do toco de plataforma há uma escada de descida para a estação.
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Foto 19: Detalhe da plataforma.
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Foto 20: Detalhe da plataforma e escada.
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Foto 21: Nome da estação, já apagado pelo tempo e descaso.
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Foto 22: Vista lateral.
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Foto 23: Mais uma foto do nome da estação. Não dá para ver a inscrição “Jundiá”, mesmo de perto.
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Foto 24: Vista lateral. Porta. Materiais e pneus jogados dentro da estação. DESCASO!
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Foto 25: A outra placa na fachada oposta. Se olharmos bem dá para ver a inscrição “Jundiá”.
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Foto 26: A outra placa na fachada oposta. Se olharmos bem dá para ver a inscrição “Jundiá”.
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Foto 27: Vista lateral.
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Foto 28: Vista lateral e fachada oposta à chegada.
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Foto 29: Fachada oposta.
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Foto 30: Vista lateral e fachada.
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Foto 31: “Vagão” abandonado!
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Foto 32: “Vagão” abandonado! Como foi parar ali???
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Foto 33: “Vagão” abandonado!
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Foto 34: “Vagão” abandonado!
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Foto 35: “Vagão” abandonado!
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Foto 36: “Vagão” abandonado e toco da plataforma, onde estão as bicicletas.
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Foto 37: “Vagão” abandonado e toco da plataforma, onde estão as bicicletas.
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Foto 38: Casebre onde pedimos água, cuja entrada a contém dois pedaços de trilho.
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Sds,


okk

bernardooberg
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Re: Estação Califórnia e Jundiá - Linha do Litoral

Mensagem por bernardooberg » 13 Fev 2013, 10:07

Gostaria de deixar público o meu agradecimento aos srs. Luiz Carlos, Antônio e a sra. Lilian, que respondem em nome da R.F.F.S.A.

Enviei um e.mail na semana passada para a R.F.F.S.A solicitando mais informações e as coordenadas das duas estações. Ontem, ao chegar da expedição, havia uma resposta deles dizendo que o meu questionamento havia sido repassado ao setor responsável. Hoje pela manhã recebi resposta do sr. Antônio, que transcrevo abaixo:

"As Estações Califórnia e Jundiá foram demolidas há mais de 40 anos. O trecho é Operacional e transferido ao DNIT ( FCA ). Não temos as coordenadas ... Califórnia é hoje uma pequena Vila próxima da localidade ´Cantagalo´, muito conhecida por todos em Rio das Ostras. O ciclista, Sr Bernardo Oberg, poderá pedalar até ´Cantagalo´ por estrada asfaltada e daí ir à Califórnia ( + uns 4 km ). Jundiá ficava junto do Morro ´Jundiá´, próximo de Rocha Leão. Tal Morro é avistado de Macaé e Rio das Ostras sendo referência p/ os pescadores no mar etc. Sugiro que o ciclista consulte o google e ele facilmente se orientará, planejará e fará bons passeios na região. Att.
Eng A J L Gondim"


Sds,

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Re: Estação Califórnia e Jundiá - Linha do Litoral

Mensagem por DadoDJ » 13 Fev 2013, 11:03

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