E.F.Rio D'ouro-Linha tronco

[DadoDJ]

Hum ... boa observação, Luiz !
Pode ser alguma distorção da foto em relação à profundidade, mas parece mesmo que a linha está interrompida.

[HUGO CARAMURU]

É gente, vcs colocaram muita coisa certa aqui. Pode ser que a foto seja do arquivo. Se o que está atras do trem não for uma plataforma ( da foto da loco 1056, revista O Cruzeiro)) e sim ilusão de ótica, eu diria que o trecho seria Engenho do Mato ou da Rainha... pois a rodovia ao lado é a Automovel Clube e lá no fim. depois de Eng da Rainha, havia uma subida da rodovia e a linha entrava num grotão ao lado...o caminhão parece um Hinternational anos 60... como na revista aparece foto de Irajá, é possivel que seja foto não da baixada mas do trecho entre Del Castilho e Coelho Neto... e quanto a outra foto (da loco 1261, do arquivo CBTU), realmente parece que a linha do desvio termina logo ali... aquele predio à esquerda parece que está em construção... por isso eu calculei como o mercado de Coelho Neto, na praça da estação, embora o morro ao fundo está muito proximo e visivel pra ser os morros de Acari... há a possibilidade de ser o ramal de S Mateus a Japeri, embora, a loco não ser deste ramal nem os carros de passageiros...(os de um trem expresso que viesse de Tres Rios até o Rio, passando por esse trecho de Japeri a S Mateus até eram também identicos aos do ramal de Rio Douro, mas sempre esses expressos tinham ou o carro do chefe ou o vagão de carga após a locomotiva...por que a CBTU não pôs o local da foto???? A loco, 1261, como já disse, foi baixada em 1964 e era original da Rio Douro. Era praxe serem mantidas as locomotivas nos locais de origem... a serie 1070/1080/1090 eram originarias da linha Auxiliar da Central; com a eletrificação essas foram remanejadas para a linha da Rio Douro, reforçando a frota na Rio Douro, já Central. Em 66 ou 67 eu e meu irmão fizemos a pé todo o trecho de S Mateus até Japeri (de 5 da mnhã até 16hs, por aí!!) e havia trechos de pedaços de bitola mista... mas nenhum local lembra este da foto... Esta foto eu a baixei do site da CBTU há anos e acreditava ser lá acima de B Roxo... até que revendo a foto percebi o discreto terceiro trilho... e aí bagunçou tudo. Quanto a outra foto da revista "O Cruzeiro" parece ser Areia Branca mesmo ( posso afirmar que o trem está indo para B Roxo e o onibus está vindo de B Roxo)), pois lembro que costumava pegar um onibus em B Roxo para ir até Andrade de Araujo e o onibus era um Cermava igual ao da foto ( é um Cermava 61) e o letreiro começa com "B Roxo..." O que a gente pegava ia pra N Iguaçu, seguia essa linha uns 2 km , dobrava à esquerda e ia cortar a outra linha em Andrade de Araujo... Saindo de B Roxo essa estrada era de paralelepipedos e toda cheia de areia mesmo, era uma poeirada danada... uma das vezes lembro que fomos (no onibus) atraz de um trem... e eu torcia para o onibus ultrapassar o trem... mas esse, o trem, ia correndo bem e não chegamos a ultrapassa´-lo...
Há um foto no livro do "Memoria do Trem" , que posto aqui, onde vemos um trem parado. Pois ali é do lado das oficinas de B Roxo. Ao fundo está o final da linha de trens eletricos, bitola então mista. À esquerda desta foto há um triangulo de reversão com as oficinas no meio. O triangulo começava lá no fundo onde já separavam as linhas de Xerem e , digamos, as de Tinguá. Era normal o trem sair de B Roxo e aí, no local da foto, uns 400mts de B Roxo, parar... Teria que se perguntar a algum ferroviário da época porque faziam isso. A estrada da direita da foto (de Guido Mota, livro "A Formação das Estradas de Ferro do RJ", Edit.Memoria do Trem) é a mesma da foto de Areia Branca. Enfim, a Rio Douro tem histórias e estórias pra se contar.

[DadoDJ]

Sobre a primeira foto, da Revista "O Cruzeiro" postada pelo Hugo Caramuru, recebi algumas mensagens e uma do Jorge A.Ferreira Jr foi intrigante: ele acredita que não haja terceiro trilho na foto, caracterizando bitola mista. Ele sugere que seja algum trilho jogado à margem da linha, como ocorre muitas vezes e não é incomum.
Pode ser ... quem sabe ?
Mudando de assunto, uma matéria publicada no jornal "Correio da Manhã" em 03 de agosto de 1961 já mostra que o tráfego da EFRO era feito apenas entre Belford Roxo e as estações dos ramais da Baixada Fluminense. De Belford Roxo pro Rio de Janeiro, os passageiros tinham que fazer baldeação no elétrico da Linha Auxiliar, como dito pelo sr.Ranulfo (pesquisador de Xerém), Mauricio Vieira (Maumau) e membros aqui do fórum. Quer dizer, a EF Leopoldina já utilizava realmente a linha da EFRO entre Del Castilho e Pavuna muito antes da erradicação do trecho de serra.
De quebra, a matéria fala sobre a precariedade escandalosa dos trens da ferrovia ...

Tráfego precário da EFRO partindo apenas de Belford Roxo - Correio da Manhã 03-08-1961.png

[HUGO CARAMURU]

Estas reportagens são oportunas. Mas acho que algo ainda aser debatido. A Revista "O Cruzeiro" é de 62. A linha da serra de cremalheira, da Leopoldina, foi erradicada depois. No periodo de 56 a 69 eu andava por esses trechos da Rio Douro (Acari, Irajá, B Roxo, Areia Branca...) e pelo que lembro a Leopoldina só foi usar a Rio Douro depois da serra fechada, tanto que tiveram que "reabrir" o trecho de Pavuna a Del Castilho que já estava coberto pelo mato e em alguns trechos acho que até sem trilhos. Como a gente pode ver numa reportagem postada no forum (Correio da Manhã, 1968) e que eu me lembre, de 62 ou 63 em diante, a Rio Douro só trafegava acima de B Roxo. Eu morava em Costa Barros e vinha sempre a Pavuna. Os trens da Leopoldina usavam era a Linha Auxiliar, isso vi varias vezes: entravam em Triagem seguiam na então bitola mista da Auxiliar e em Costa Barros entravam para S Mateus (para pegar Japeri, Miguel Pereira, Tres Rios ...) .Acho que quando se quer dizer que a Leopoldina usava a Rio Douro era dizer que usavam o trecho de Triagem a Del Castilho (que era um trecho comum da Rio Douro e Auxiliar) e daí, de Del Castilho, seguia pela Auxiliar . Tanto que era comum acontecer que os trens da Leopoldina, freio a vacuo, exigiam que os guardas freios andassem no teto dos vagões para que, quando o maquinista solicitasse, eles iam girando os freios... e nessas operações, de andar sobre o teto, muitos eram eletrocutados pela rede aerea. Uma observação: mesmo assim, os trens da Leopoldina que usavam esse trecho eram os de carga, pois os de passgeiros tinham que parar em Caxias e outras estações da linha da Leopoldina. Quando acabou a serra, aí sim, eles passaram a usar a Rio Douro, trecho de Triagem a Pavuna. Aí praticamente reconstruiram a linha. As estações já estavam fechadas e devarzinho, com as U12C e U12B, iam singrando os bairros de Del Castilho, Inhauma, Eng da Rainha, etc até Pavuna. E , em Pavuna, eram obrigados a fazer uma manobra muito complicada, uma vez que não havia como vir de Acari e entrar na linha de S Mateus: chegando em Pavuna, iam em direção de B Roxo, até mais ou menos do lado da Igreja da Matriz de São João de Meriti. Recuavam entrando na chave da linha do canto de Pavuna; ali seguiam pela linha da esquerda e iam, passando pela estação de São João de Meriti, Eng Belford, até S Mateus... aí entravam na linha Auxiliar e iam embora... Eden, Andrade de Araujo...Japeri .Aí paravam na estação. Embarcava os passageiros e subiam a serra de Miguel Pereira. Muitas vezes, a tardinha, chegavam dois trens lá de Minas, e faziam a complicada manobra: vindo de S Mateus, entravam na linha do canto de Pavuna ( linha dos eletricos que vinham de Costa Barros). Paravam. Recuavam em direção a B Roxo... paravam no final da chave; entrando na linha do canto exposto paravam na antiga plataforma da Rio Douro de Pavuna. E muitas vezes eu via dois trens, parados um do lado do outro, esperando seguir para Acari, C Neto... Del castilho. Essa manobra era complicada, pois era feita em meio dos trafegos dos eletricos para B Roxo e para S Mateus. E quando paravam em Pavuna, era aquela mineirada descendo dos trens para correr atraz de uma padaria, barraquinhas... lembro que as vezes ficavam quase uma hora parados, talvez esperando liberar a linha, tanto dos eletricos para começar o vai-e-vem , tanto para aguardar algum trem que viesse de Del Castilho. Nessa época, a Auxiliar já tinha acabado com o terceiro trilho. Esse terceiro trilho só foi reposto no trecho de Del Castilho a Triagem e mesmo assim só na via de ida para baixo (direção Fco Sá). Assim que a ligação S Bento-Ambaí ficou pronta acabou-se essas manobras e o trafego da Leopoldina por Pavuna. Por isso eu diria que cargueiro da Leopoldina, pela Rio Douro eu nunca vi...acho que eles faziam o que a FCA estava fazendo: iam até Campos, entravam na ligação Campos-Recreio e daí iam para seus respectivos destinos. Teria que se achar um aposentado da região para explicitar melhor.

[DadoDJ]

Hugo, então deixa eu ver se entendi: o tráfego no trecho da EFRO entre Del Castilho e Pavuna cessou na década de 1960 independente do tráfego de cargueiros e expressos da EF Leopoldina ?
Mas então porque parou ?
Por causa da queda da ponte em Acari ?
Por causa do tráfego entre Belford Roxo e Francisco Sá/Alfredo Maia pelos elétricos da Linha Auxiliar ?
Por causa da falta de demanda (improvável) ?
Por causa da da falta de conservação, manutenção e investimento no trecho ?

E o mais importante: se havia tráfego intenso entre Belford Roxo e as estações dos ramais da Baixada Fluminense, por que cargas d'água erradicaram estes ramais se havia bastante procura e demanda e não influenciava em nada no tráfego dos trens da EFL, dos elétricos da Linha Auxiliar e na construção da linha 2 do metrô ?!?!?!?!?!?!?!?!?
Porque ?!

[HUGO CARAMURU]

Grande Dado: Suas perguntas são iguais às minhas. Quando eu era pequeno (nasci em 52) meu pai me levava a um ponto da nossa rua que fazia bifurcação com a Automovel Clube. Para vermos os trens da Central, antiga Rio Douro. Então, sentávamos à beira de um barranco e aguardavamos os trens. Num espaço de tempo curto passavam varios trens. A composição era: uma locomotiva (a vapor), um ou dois vagões de cargas, os chamados "box" e tres ou quatro carros de passageiros apinhados de gente. Isso até um tempo quando um temporal derrubou a ponte em Acari (que em 61 foi consertada). Em 62 já vemos na revista "O Cruzeiro" que o trem tinha mais trafego acima de B Roxo. Ora, a gente vê nas nossas "reportagens" a quantidade horarios que já teve na Rio Douro. Vemos que houve uma degradação, eu diria intencionada, da qualidade da ferrovia. Em 1961, Janio Quadros (ATENÇÃO: atribuem a Juscelino o sucateamento de nossas ferrovias, mas acho que Janio foi mais ativo nessa arte) começou , junto com a recem criada RFFSA, o programa de "erradicação dos ramais ferroviários anti-economicos" . Aí entra muita politicagem. Interesses de empresarios de onibus, transportadoras etc etc... Mas, sob o nome de "ramais antieconomicos" começaram as erradicações, sob o "trato" de só se tiraria a linha e o trafego quando se fizesse uma rodovia que a substituísse... ( e não foi bem assim, aqui em Minas muitos lugares fecharam por falta de acesso. ) E aliás, a nossa Rio Douro ganhou a "honra" de ter sido o ultimo reduto de locomotivas a vapor da Central, pois ficou até inicio de 70. (precariamente, como vimos nos nossos "recortes", com apenas tres locomotivas). Quando eu era criança, meu pai me dizia que iam eletrificar a Rio Douro (que vimos nas reportagens), e isso nunca saiu. Saiu ainda uma reportagem nos inicios dos anos 70 que preconizava uma ideia de os trens da Central virem só até Deodoro e de Deodoro até D Pedro iriam fazer uma rodovia larga no local dos trilhos (!!!!!). Parecia que a ferrovia (Central e Leopoldina) tinha falhado em suas finalidades. Para você se ter uma idéia da época, essa noticia de tirar os trilhos e pôr rodovia (de Deodoro a D Pedro) foi aceita sem espanto, parecia ser uma "razão do progresso". E a gente estava imbuída dessas "evoluções" da época. Tanto que hoje, eu, me pergunto por que não tirei mais fotos daí, das estações que estavam perto de casa (então eu morava já em Pavuna). (Essa onda de "progresso" afetou todo o Brasil; aqui em Minas o pessoal daqui diz a mesma coisa: "por que acabou?"... "porque não fotografei?"...etc etc... Aliás eu tenho tres filmes (não estão muito bons, mas valem) que gostaria de lhe(s) enviar via Correios: um é "Renasce a Leopoldina", anos 50; outro é sobre os eletricos do Rio, por volta de 1951/2 onde vê-se uma cena rapida de Pavuna com um trem da Rio Douro e da estação de S Mateus; e o outro, de menos interessante, sobre os suburbios da Central em SP. Mande-me um endereço para onde eu possa enviar, coisa que poderei fazer no final do mês. Mas, concluindo um raciocinio, a desculpa era "ramal antieconomico" . . .

[DadoDJ]

Hugo, em relação aos contatos e um endereço para correspondência, te enviarei um e-mail.
Aliás, estou pra entrar em contato contigo tem um tempo ... tenho umas dúvidas pra tirar !

Em relação ao tráfego e os ramais, surpreendente ! Imagina hoje não existir o trecho Central-Deodoro ?!?!?!

Infelizmente, erradicaram vários ramais, foi mesmo uma sacanagem o que fizeram ...

Ah, fiquei invocado agora ...

[Luiz Eduardo]

Retirar os trilhos de Deodoro até a Central. Cara, se uma coisa dessas acontecesse mesmo, hoje não teríamos trens aqui no Rio de Janeiro, pois logo eles dariam um jeito de acabar com o restante.

Saber que esses malditos (para não escrever outra coisa) tentaram de tudo pra acabar com o trem me causa mais nojo ainda.

A maior contradição de todas em relação a RdO é saber que demanda ela tinha (e muita) e deixaram a ferrovia agonizar dizendo que ela era anti econômica. As passagens eram baixas? Porque não tarifar então de modo decente. Ninguém queria perder o trem, a população vivia do trem, assim por se dizer. Acredito que não iriam chiar por causa de aumentos para manter o trem. Numa reportagem que vcs postaram dizia que a Central não reajustava a passagem fazia anos (e muitos). Como manter um serviço decente sem receita? Agora o pior: porque não se interessavam por essa receita?

Tem alguma coisa muito séria por baixo da erradicação de ramais. Pra não dizer SUJA, prefiro dizer séria.

[HUGO CARAMURU]

Aqui em Minas havia , na Leopoldina, um ramal que ia de Cataguases, MG, onde morei até a cidade de Miraí (há uma musica antiga falando dessa cidade) ; pois bem, a Leopoldina , nos fins dos anos 50, achou por paralisá-lo e depois arrancar os trilhos... já estavam arrancando os trilhos, quando parou um fusquinha e dele saiu um sr autoritario e perguntou:

-O que tão fazendo??
- Tirando os trilhos. O trem acabou...
- NÃO VÃO TIRAR NADA!!! PODEM PARAR SENÃO METO BALA!
- Sim, sr...

Os homens da linha suspenderam o serviço e falaram com seus chefes , na ferrovia.
Só depois de muito tempo quando esse sr morreu, é que tiraram os trilhos. Esse sr. era um industrial, ou ainda, um "coronel" na região e já sabia que tirar trilhos não era solução. Pena que lutava sozinho.

Ele devia ser ainda do tempo em que esse ramal era uma ferrovia , a E.F Cataguazes-Mirahy, e deverita ter seus produtos escoados por ela de depois pela Leopoldina. O trecho tinha cerca de 31 km.

As estações que foram preservadas estão pelo caminho, tais como Santana de Cataguazes, Gloria, etc...

Em Barra do Pirai, o trecho da então RMV que ia até Soledade, passando por Sta Izabel do Rio Preto, Sta Rita, Caxambu. Em 1961 foi paralizado de Barra até Sta Izabel por "antieconomico" e ordens da ploticia de Janio Quadros. O povo segurou uma locomotiva e um vagão para impedir a paralização.... reabriu por alguns meses, e depois fechou na calada da noite. Ficou a locomotiva num pedestal, ou melhor, num pedaço de linha, como "monumento"... depois, sumiram com ela...

Na região de São João del Rey, a bitolinha ia até Barra do Paraopeba. Inaugurada neste ponto em 1894. Em 1960, erradicou-se um trecho, de Pompeu até Barra do Paraopeba. A desculpa era construção da barragem de Tres Marias... tudo bem, mas dava para refazer a linha ao lado ... Aproveitaram para erradicar.

Nesses recortes tirados da Hemeroteca da Biblioteca Nacional, tirei um que fala do pedido do povo, de retirar os trilhos da E F Maricá, de Neves... isso em 1952 ! Quer dizer, o povo contribuiu também...

Outro recorte, de abril de 1943, fala dos protestos que se ocasionaram com a retirada dos trilhos do ramal de São José do Rio Preto, na Leopoldina...

E vai por aí...
Hoje, o pessoal tem mais consciencia, sabe o valor da ferrovia.

Vejam esta reportagem (de 1961 !):

[DadoDJ]

Hoje estou danado ...


Temos que fazer algo ... estamos fazendo e vamos fazer mais ! Acredito que 2013 seja o ano dos trilhos, o nosso ano !
Hugo, brilhante depoimento e valiosíssimas informações. Infelizmente tudo isso também é deprimente ... mas é a realidade.