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Breve Histórico dos Bondes do Rio de Janeiro"
A 18 DE AGOSTO de 1898, a Companhia Ferro-Carril Carioca obteve, pelo Decreto municipal n.º 552, autorização para prolongar as suas linhas de bonde do morro de Santa Teresa até a Tijuca.
O mirabolante projeto consistia na construção de uma linha de tração elétrica que, partindo da Lagoinha, e daí subindo o rio Trapicheiro, iria ter às nascentes do rio Carioca, donde, procurando a divisão de águas na encosta do Jardim Botânico, chegaria à garganta do Munganga, formando assim a linha tronco. Desta garganta, atravessando as nascentes do rio São João, a linha se ramificaria, indo um ramal para o Alto da Boa-Vista, na Tijuca, pelo vale do Arunganga, e o outro, na mesma direção do primeiro, pelo lugar denominado Mesa do Imperador, donde partiria um sub-ramal para o Jardim Botânico, pela estrada de Dona Castorina. Da linha que se dirigisse pela Mesa do Imperador ao Alto da Boa-Vista, sairia, no lugar conhecido por Lampião Grande, outro sub-ramal, em direção à praia da Gávea, passando pela Cachoeira e Cascata Grande, e, ainda, em frente ao antigo Hotel Itamarati, partiria outro sub-ramal que iria ter ao portão da chácara Mayrink, na Cascatinha.
Nada se fez durante oito anos; mas, a 15 de junho de 1906, havendo a Prefeitura aprovado os estudos e plantas da linha, deu a Companhia início imediato às obras, inaugurando, no dia 10 de novembro, o primeiro trecho, da Lagoinha ao lugar denominado Sumaré, a 325 metros de altitude.
Aí, numa esplanada obtida com o desmonte de 18.000 m3 de terra, foi edificado um pitoresco restaurante, também inaugurado nesse dia.
Os trabalhos de construção da linha, sob a responsabilidade do presidente da Companhia, Francisco Casemiro Alberto da Costa, tiveram a direção técnica dos engenheiros Arthur da Silva Pinto e Raymundo Floresta de Miranda.
Este arrojado cometimento teve, infelizmente, efêmera duração, pois, no ano seguinte – 1907 – foi ele causa de um dos mais rumorosos pleitos judiciais travados no Foro desta Capital, envolvendo, de um lado, o Sr. Casemiro da Costa, e de outro o seu velho amigo de 35 anos, o Dr. Joaquim Murtinho, grande acionista da Companhia. Em conseqüência, paralisou-se o tráfego, ficando tudo em abandono, sendo afinal declarada caduca a concessão.
Eis o que escreveu Olavo Bilac, a respeito da suntuosidade dos panoramas que se descortinavam nesse passeio.
“Fui ontem, pela primeira vez, ao Sumaré, e ainda tenho os olhos encantados, deslumbrados, cheios da visão da mais bela paisagem que eles até hoje viram. Sumaré é a primeira estação da estrada que o Sr. Casemiro da Costa está construindo, em prolongamento da Ferro Carril Carioca, desde Dois Irmãos até Tijuca – estrada que vai definitivamente entregar ao regalado gozo dos turistas, dos artistas e de toda a população, essas incomparáveis florestas que cingem, com o seu imenso e estupendo bálteo de esmeraldas, a cidade do Rio de Janeiro. Sumaré já é uma conquista maravilhosa. O panorama, que de lá se avista, é único e surpreendente. Diante daquela infinita extensão de águas, de terras, de montes, de céu, não há palavras com que a alma exprima o que sente: o assombro emudece, a admiração paralisa, o êxtase domina quem contempla aquilo; a impressão não é somente de prazer: é também de um respeito religioso, de uma adoração enlevada, diante daquela grandeza e daquela majestade”.