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INTRODUÇÃO

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Olá, Amigas e Amigos. Desde a nossa primeira postagem, nós aqui da AFTR, não medimos esforços para destruir mitos e teorias da conspiração, além de desmistificar as fantasias tidas como verdades por muitos pesquisadores e amantes das ferrovias. Fantasias que saíam da boca, inclusive, de ex-ferroviários, e, por conseguinte, ex-funcionários da RFFSA. Muitos desses indivíduos, ao longo do tempo, demonstraram desconhecer a realidade da própria empresa na qual trabalharam, a maioria por anos a fio.

Sempre buscamos mostrar a realidade, mesmo que alguns de nós, ao fazer isso, infelizmente perdêssemos contatos e nos tornássemos impopulares. Todas as informações que publicamos até hoje não foram retiradas do nada, como muitas informações divulgadas por outras pessoas. Todas as nossas informações provêm de fontes primárias, principalmente livros, relatórios e balanços, além de relatos fidedignos de pessoas que viveram na época, recortes de jornais, dentre outros documentos, e foram cruzadas para podermos fornecer informações minimamente corretas.

Isso lamentavelmente e certamente incomodou e continuará incomodando aqueles que, para demonstrar conhecimento, repetem informações inconsistentes como forma de exibição desse conhecimento. Muitos deles, com certeza, nunca quiseram ter ou tiveram acesso aos balanços da RFFSA ou da EFCB, por exemplo.

Dentro dessa nossa busca pela verdade, descobrimos um livro escrito em 1953 por alguém que chamamos de gênio. Essa pessoa viveu na época e, após conversas com seus parentes, descobrimos que faleceu em 1954, um ano depois de ter escrito o livro. Portanto, não teve tempo hábil para divulgá-lo. Esse livro é considerado um verdadeiro tesouro, preenchendo diversas lacunas nas informações que fornecemos até hoje e esclarecendo diversas dúvidas.

Consideramos esse livro como uma espécie de Pedra de Roseta. Para quem não sabe, a Pedra de Roseta foi uma pedra descoberta em 1799 no Egito por soldados franceses das tropas de Napoleão. Ela continha inscrições em três línguas: língua demótica, uma variante escrita do egípcio tardio, em grego antigo e em egípcio antigo. O conhecimento existente da linguagem grega antiga e da língua demótica possibilitou a tradução dos hieróglifos egípcios.

Fonte: Pinterest. Clique aqui para mais informações.

QUEM FOI ADEMAR BENÉVOLO?

Muitos de nós o consideram o autor do melhor livro já escrito sobre a História das Ferrovias Brasileiras: um documento histórico quase desconhecido. Mas antes de iniciarmos a análise do livro, falemos um pouco sobre esse cidadão genial e pouco conhecido.

 

Quem foi Ademar Benévolo?

 

 

Nascido no Rio de Janeiro, na rua Paissandu, bairro do Flamengo, em 1891, Ademar era filho de Julieta e Jayme Benévolo. Seu pai era tenente-coronel da República e Engenheiro Militar, nascido em Fortaleza.

Ademar e esposa. Imagem: Acervo pessoal da família

Sr. Ademar estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro, mas antes de entrar nos estudos, a família, principalmente sua mãe e tias, acharam que, por ele ser asmático, a vida futura na caserna seria desaconselhável. Isso se devia ao fato de que, rotineiramente, teria que participar de exercícios militares e, naquela época, não havia medicações para tratar as crises facilmente. Ele sempre tinha uma caixa de metal com seringa de vidro e agulha metálica com adrenalina à mão para lidar com estas crises.

No entanto, esse foi um grande erro na visão da família, pois a vida dele como engenheiro de estrada de ferro foi duríssima. Ademar então formou-se como Engenheiro Agrimensor em 1919 pela Escola de Minas de Ouro Preto.

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Formação na 41° turma da Escola de Minas de Ouro Preto. Imagem: divulgação

Ele começou a trabalhar no interior de São Paulo, em Bauru, na Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil logo após a sua formatura. Casado com Delne Benévolo, teve 3 filhos, sendo o mais novo nascido em Araçatuba-SP.

Anos depois, ele foi trabalhar na Rede Ferroviária do Nordeste, em Recife, onde, em 1953, publicou sua grande e derradeira obra, o livro “Introdução à História Ferroviária do Brasil”.

Logomarca da RFN. Fonte: Wikimedia

Infelizmente, sua carreira foi interrompida subitamente no ano de 1954. Ele estava voando de Recife a São Paulo para visitar um de seus netos, que tinha apenas alguns meses de vida, quando ocorreu o acidente fatal. Ele não teve tempo de divulgar seu livro, que reconhecemos como a maior e melhor obra sobre ferrovias já publicada no Brasil.

Uma característica única do livro escrito pelo Sr. Ademar é a absurda quantidade de fontes citadas, mostrando livros desconhecidos pela maioria das pessoas e corroborando diversas informações apresentadas pela AFTR ao longo do tempo. São fontes nunca citadas em nenhum trabalho de mestrado, TCC ou qualquer outro apresentado até hoje. Essas fontes esmiúçam e mostram realidades que a maioria desconhece.

Em sua homenagem, foi dado em 1958 o nome a uma estação ferroviária no interior da Paraíba, no município de Olivedos, que hoje encontra-se completamente abandonada! Retratos do Brasil, infelizmente bastante comuns.

Imagem: Joanatas Rodrigues, via site Estações Ferroviárias do Brasil, de Ralph Giesbrecht (2021)

 

ANÁLISE DO LIVRO

 

“Este livro de 1953, escrito por Ademar Benévolo, é a nossa Pedra de Roseta” – Mozart Rosa

 

Esta é a nossa postagem 01, analisando informações do livro do Sr. Ademar, um verdadeiro tratado com mais de 700 páginas. Com o tempo, publicaremos mais postagens analisando sua obra. Não serão como as outras séries que publicamos postagens sequenciais, dado o tamanho do livro, mas postaremos, fiquem certos disso. Focamos essas postagens em informações fornecidas pelo Sr. Ademar sobre situações das ferrovias da região sudeste, mas a abrangência é extensa, incluindo ferrovias do Nordeste também. Para os interessados, o link do livro está aqui disponível abaixo.

Link para download direto

Já mostramos em postagem própria que a maioria dos mitos divulgados pelo setor não passa disso, de mitos. Esse livro, com suas informações, a maioria desconhecidas nos dias de hoje, é a prova disso. Esse livro tem inúmeras notas de rodapé e informações que confirmam o que viemos dizendo ao longo dos anos, informações contestadas por muitos, mas quase sempre sem nenhum embasamento. Sobre o livro, analisaremos as partes que consideramos mais importantes, mas, sendo um livro de 700 páginas, possivelmente passaremos por algumas partes relevantes. Para os interessados, abaixo o preview do livro para leitura.

Pretendemos reeditar esse livro disponibilizando-o para os interessados.

Começamos pela introdução, mostrando aqueles que insistem em dizer que Getúlio Vargas criou a indústria de base, sem ao menos saber o que é indústria de base. O Sr. Ademar mostra algumas realizações do início do século, comprovando que já éramos uma economia com inícios de pujança.

Página 11: Mostra a vocação democrática do trem. Imagem: recorte do livro

Outro aspecto que mostra o lado democrático do trem foi que o falecido General Lyra Tavares, quando professor da Escola Militar de Realengo indo para a escola de trem viu diversos alunos estudando, com a cara enfiada nos livros. Ao chegar à escola reuniu os alunos e ordenou que eles nunca mais estudassem no trem, deveriam olhar para o lado e pelas janelas, que conhecessem a fundo o povo brasileiro e nunca ficassem em uma bolha (termo usado por nós). – Professor Carlos Eduardo Almeida Branco.

Página 13. Imagem: recorte do livro

Página 13: Nesse tópico, o Sr. Ademar apresenta algo que suspeitávamos e que ele fala de forma velada. A Estrada de Ferro Mauá e nossas ferrovias em geral só passam a ser valorizadas a partir da década de 80; antes disso não, foram destruídas pela RFFSA, sem dó nem piedade, sem nenhum remorso por aqueles que a destruíram. Culpar o regime militar, empresários de ônibus, nada disso se sustenta. As pessoas optaram por outros meios de transporte devido ao sucateamento causado ao sistema pela RFFSA. Trens sujos, quebrados, sem horário certo, uma bagunça, trens que só atendiam aos apaixonados pelos trens, que não atendiam às necessidades da população em geral. Por isso, a população daquela época via a destruição do setor e aceitava isso sem grande reclamação. Hoje, a partir do saudosismo de alguns, da comparação com o que acontece atualmente na Europa, das informações que chegam de pessoas que viajam para os Estados Unidos e conhecem a Amtrak, dos engarrafamentos, da dificuldade de mobilidade, tudo isso criou nessa geração atual o reconhecimento da importância do trem, e a maioria, sem entender o que houve, cria teorias infundadas. O Sr. Ademar mostra em seu livro a verdade nua e crua do que aconteceu.

Página 14: Nosso complexo de vira-latas escancarado em 1953. Imagem: recorte do livro
Página 19: Esse texto, mostra que mesmo no Império não tínhamos uma economia tão liberal. Imagem: recorte do livro

*Almocreves: indivíduo que tem por ofício conduzir bestas de carga.

*Talássico: relativo ao mar e às águas oceânicas profundas.

Nesta sequência, as páginas 19, 20, 21, 22, 23 mostram que nosso capitalismo sempre foi um capitalismo de fachada e as dificuldades de empreender no Brasil. Isso explica muito do Brasil de hoje. Tivemos forte intervenção do estado no período. A intenção de explorar as ferrovias pelos empresários da época, exigindo um frete baixo, descapitalizou as empresas, impedindo seu crescimento. Portanto, as teorias da conspiração sem sentido criadas para explicar nossa baixa quantidade de ferrovias e o declínio delas não passam disso: teorias da conspiração.

Imagem: recorte do livro

Na página 25, novamente, mostra que a lucratividade das ferrovias era prejudicada por poderosos da época que não queriam diminuir seus lucros e faziam de tudo para economizar no frete, prejudicando as ferrovias.

 

Abaixo um diálogo supostamente travado entre Campos Sales, eleito Presidente da República (1898 e 1902), e Yves Guyot, então presidente do Banco Paris, mostra que o uso político das estatais já existia.

Na página 27 mais uma série de obras inúteis que foram feitas ao longo dos anos. Isso é mencionado em um livro escrito em 1953; imaginemos o que aconteceu depois.

Abaixo, na página 28, vemos o motivo de tantas empresas terem sido encampadas pelo governo, principalmente os motivos que levaram à insolvência da E.F. Leopoldina.

Na página 29 o texto mostra como a famosa e admirada E.F. Leopoldina foi deliberadamente destruída pelo governo federal, não foi destruída por nenhum outro ente, como costumam dizer os entendidos. Isso é mostrado de forma cristalina. Lembrem-se de que esse livro foi escrito em 1953, já naquela época os governantes sem noção fizeram por onde gerar os prejuízos monumentais que ela tinha.

O caso abaixo relatado envolve Paulo de Frontin, então diretor da EF Central do Brasil. Observamos que desde o início do período Republicano a EFCB teve uso político e total desapreço pelo lucro. Ainda não era algo escancarado, mas já existia.

 

A AFTR publicou um texto tentando explicar a partir de informações passadas por diversas fontes a derrocada das ferrovias gaúchas.

A VFRGS, sua história e atualidade: reflexo das Ferrovias Brasileiras

Abaixo, um texto publicado na página 31 com detalhes dessa derrocada, que confirma e expande as informações por nós publicadas anteriormente.

Esse pequeno parágrafo do livro, na página 32, mostra como essas ideias malucas já existiam no seio de nossos políticos e empresários naquela época.

Imagem: recorte do livro

Um termo utilizado recentemente, a “Esquerda Caviar” é nova apenas no nome, ela existe há muitos anos. O texto abaixo, na página 33, mostra isso.

Imagem: recorte do livro

Esperamos que os que chegaram aqui tenham gostado.
No decorrer do tempo, publicaremos mais resenhas sobre o livro.
São mais 700 páginas, portanto, não temos ideia de quantas postagens faremos, mas certamente as faremos.

Agradecemos pela leitura.
Até a próxima postagem sobre este livro, e fiquem ligados em outros artigos, notícias e informações que serão publicadas no site.
Aproveitamos para agradecer imensamente ao Dr. Ademar Benévolo, médico cirurgião em Recife, neto do sr. Ademar Benévolo, que nos forneceu informações sobre seu avô.

 

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Agradecemos a leitura!
Até a próxima!

 

O texto constate neste artigo pode refletir, ou não, total ou parcialmente, a opinião da instituição, sendo de inteira responsabilidade do autor.

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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