A AF Trilhos do Rio teve acesso à documentação e analisa o que pode vir a acontecer nos ramais em bitola métrica que atendem Vila Inhomirim, Guapimirim e, futuramente, Petrópolis.
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Texto publicado em 12 de junho de 2023 às 7h48
Última atualização em 12 de junho de 2023 às 7h48
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Conforme comentado recentemente nas mídias televisivas, emissoras de rádio, sites e páginas em redes sociais na internet, o secretário de transportes e mobilidade Washington Reis anunciou a intenção de modernizar os serviços ferroviários que atendem as localidades de Vila Inhomirim, Guapimirim e também Petrópolis, neste último caso com a reativação do trecho na Serra da Estrela e até mesmo o trecho da primeira ferrovia do Brasil, a Estrada de Ferro Mauá. Isso seria possível restaurando e reativando o trecho entre Piabetá, estação atendida pela Supervia, e Guia de Pacobaíba, onde o trem não chega desde o ano de 1962.
Parte dessas informações podem ser conferidas em artigos anteriores publicados aqui no site, confiram:
Análise sobre a anunciada reativação da E.F. Mauá e do trem p/Petrópolis
Divulgadas informações sobre novos veículos para ramais de bitola métrica
No final do mês de maio postagens em redes sociais indicavam que, desde o início do ano, um projeto estaria em curso para investir em novos veículos e modernizar o sistema em bitola métrica da Supervia, que atende moradores de regiões de Duque de Caxias, Magé e Guapimirim. A AF Trilhos do Rio teve acesso e analisou os documentos da Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade Urbana que falam sobre o investimento a ser feito pelo Governo do Estado. Alguns detalhes são bem curiosos, e os documentos valem a pena ser esmiuçados em detalhes. Portanto eles estarão também disponíveis para consulta e visualização no site Trem de Dados, o repositório ferroviário digital que é também uma iniciativa da AF Trilhos do Rio.
Confiram as informações no Trem de Dados, cliquem nos links abaixo:
Clicando nos links acima se tem acesso aos documentos na íntegra. A seguir fazemos uma análise resumida do teor de cada arquivo e o que poderá ocorrer nesta proposta de modernização e reativação ferroviária:
- Estudo técnico preliminar
Este documento apresenta resumidamente um histórico das ferrovias no estado do Rio de Janeiro e a situação precária em que se encontra alguns serviços administrados atualmente pela Supervia: os ramais Vila Inhomirim e Guapimirim. Com poucos veículos circulando, e consequentemente com poucos horários disponíveis aos usuários, o texto ressalta a importância de se modernizar todo o sistema, com aquisição de novos veículos, recuperação de via e estrutura ferroviária (mobiliário e sinalização) e remanejamento na operação.
Foram realizados estudos de mercado, abrindo-se a possibilidade de se contratar um fornecedor internacional, algo que foi comentado e apresentado pela equipe da AFTR: fabricantes de VLTs existem vários. Fabricantes de veículos ferroviários com sistema de tração de cremalheira existem poucos: a suíça Stadler, referência mundial e tradicional, e a CRRC chinesa, que inaugurou há poucos meses uma divisão de sua fábrica, dedicada à construção de veículos com cremalheira, para atender ferrovias que estão sendo construídas no país e futuramente o mercado externo.
Isso pode incluir o Brasil, visto que o secretário de transportes esteve no país recentemente e anunciou algo sobre o assunto. Finalizando o documento, são citados alguns detalhes sobre a licitação e demais processos. - Nos termos de referência mais detalhes são delineados, como as características técnicas de cada veículo, requisitos para serem incorporados ao sistema, prazo de entrega dos veículos a partir da aquisição pela contratante, formas de manutenção, os valores da licitação e outros detalhes referentes à contratada (novamente cita-se a possibilidade de ser empresas nacionais e internacionais).
- No caderno de Especificações técnicas é exposto toda a informação sobre os veículos a serem adquiridos, com ilustrações e plantas técnicas, desde as especificações sobre isolamento acústico e térmico até o funcionamento das portas e até mesmo descrição sobre a buzina, item de sinalização sonora dos veículos. Também é mencionado como serão feitos os testes nos novos veículos, dentre muitos outros detalhes deste documento de 98 páginas, o mais extenso de todos.
- Planilha de custos: detalhes sobre os valores envolvidos no processo. Neste documento é citada a fabricante nacional Marcopolo, tradicional construtora de ônibus e que recentemente iniciou a fabricação de veículos ferroviários.
- Valores e cronograma de pagamento dos veículos adquiridos.
Resumidamente, de acordo com estes documentos, a empresa Marcopolo provavelmente será a empresa a fornecer os veículos para operação nos serviços Saracuruna – Vila Inhomirim e Saracuruna – Magé. O trecho entre Magé e Guapimirim possivelmente se tornará uma outra extensão, com os trens que atualmente circulam no trecho operado pela Supervia. Isso talvez explique a recente reforma de composições com carros “Pidner” de passageiros, que aumentará a oferta de vagas nas viagens e permitirá maior efetividade, apesar de não se tornar uma viagem confortável para os passageiros. Talvez, neste primeiro momento, a circulação dos novos veículos fique restrita aos trechos citados, e futuramente, de acordo com a demanda, os veículos possam seguir até Guapimirim diretamente a partir de Saracuruna, sem necessidade de baldeação;
Sobre o trecho da “Estrada de Ferro Petrópolis”, como citado em alguns dos documentos, aparentemente ainda não foi definida a fabricante dos veículos. Apesar do secretário de transportes ter visitado alguns países em viagens recentes, incluindo a China, não está claro qual fabricante seria a fornecedora dos trens para percorrer o trecho entre Vila Inhomirim e Petrópolis, trecho com fortes rampas apenas vencidas com veículos com tração a cremalheira.
Apesar da CRRC ser uma fabricante chinesa de veículos ferroviários e em novembro de 2022 ter começado a produzir também veículos com tração a cremalheira, nada ainda parece definido se esta foi a escolha para o fornecimento dos veículos. A outra opção é a empresa Suíça Stadler, tradicional fornecedora de material rodante ferroviário para trechos inclinados, mas até onde se sabe não houve comunicação ou contato neste sentido, algo a se averiguar e confirmar.
Algo que também não parece definido é a quantidade de veículos a serem adquiridos. No texto é falada a quantidade de três veículos, mas se apenas estes forem os operacionais, a oferta de viagens continuará reduzida. Algumas fontes citam nove como a quantidade de veículos adquiridos, mas como dissemos, isso ainda não está definido.
Os documentos encontram-se à disposição para análise e opiniões. O que acham disso tudo? Deixem suas opiniões nos comentários, aqui no site ou em nossas mídias e redes sociais.
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Foto de capa: divulgação
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