Com informações de Redes Sociais da AFTR
Artigo publicado no dia 04 de junho de 2023 às 6h32
Última atualização no dia 04 de junho de 2023 às 13h48
Bandidos armados com facas e facões interromperam a circulação de um trem da Supervia, entre as estações Praça da Bandeira e São Crisstóvão, colocando obstáculos sobre os trilhos, na noite da última sexta-feira de 02 de junho. Em seguida renderam o maquinista, ameaçando-o com armas brancas, e exigiram que o acesso ao salão (espaço onde ficam os passageiros permanecem durante a viagem) fosse liberado para assaltarem os passageiros.
Mensagens trocadas via Whatsapp relatam o fato, pouco depois do ocorrido:
“Atenção rapaziada, acabou de acontecer com o UH592, colocaram um dormente na linha, linha 6 na altura pça da Bandeira, impedindo a passagem o mqt pediu pra descer pra tirar o dormente foi rendido e assaltaram ele e os passageiros tbm” – Mensagem publicada em mídias sociais
Tudo isso também foi relatado em suposto áudio gravado pelo próprio maquinista, de identidade não revelada, confiram abaixo:
Caso não seja possível ouvir a mídia acima, abaixo transcrevemos parcialmente o teor da mensagem, confiram:
Fala pessoal … eh boa noite a todos aí. Então galera, aconteceu aí uma situação que eu acho que eu e nem vocês nunca imaginaria que aconteceria né? A gente aí no nosso trampo nunca imaginaria, né irmão? Parti lá de São Cristóvão estava descendo com o Gramacho então a gente passa ali em São Cristóvão né, na linha seis … e logo na frente ali na curva, tem a placa de trinta (limite de velocidade) e passou a placa de trinta tinha uns dormente fechando a via ali quer dizer, a gente tem que parar o trem, né? Eu na na forma que estava o dormente, vou botar a foto aí depois pra vocês verem, eu creio que se eu fosse tentar passar, de repente podia cair (descarrilar) o trem, porque não tinha só dormente, tinha tinha muito material de via, tinha uma placa de concreto em cima do trilho e tinha uma tala de ferro, eles botaram em cima do trilho também. Parei a unidade, já maldei a situação, só estou com o meu telefone por causa disso, então já maldei, achei estranho aquilo ali. Peguei meu telefone, botei na minha mochila e peguei o telefone da empresa e deixei comigo no bolso, né? Quando eu parei ali o rádio da cabine 1 tava ocupado, não sei se alguém estava licenciando ou fazer um teste de rádio, então deu tempo deu fazer isso … quando ficou livre lá o rádio da cabine 1 eu informei a situação, a cabine informou o (…) e passou pro (…) pra mandar um apoio lá pra mim né sendo que quando eu né? Sendo que quando eu terminei de falar com a cabine 1 os caras já subiram, dois assaltantes.
O maquinista continua descrevendo que foi até sorte a porta da cabine estar aberta, pois em uma situação tensa como essa, uma porta bloqueada poderia gerar mais nervosismo entre os presentes e até mesmo algo pior, como alguma reação desmedida por parte dos bandidos.
A minha porta eu achei que estava fechada, mas estava aberta, mas assim eh como eu até estou falando com o pessoal eu acho que se a porta estivesse trancada, pior pra mim porque o queria entrar na cabine e ali pô, maior escuridão ,eles iam querer entrar na cabine e iam bater lá no pólen de repente eu conseguia arrebentar o pólen e entrar pelo pólen né? Como tem acontecido aí que nego está furtando a cabine assim. Então, tipo assim, eu acho que foi até um livramento a porta está aberta, porque dependendo da situação não sei se vai ficar nervoso de repente ia tentar, não abriu a porta, sei lá cara, eu fiquei nervoso na hora, os caras me renderam né (gritando) “perdeu, perdeu”, botaram a faca no meu pescoço (…)
Em seguida a ação dos assaltantes é descrita em detalhes, momentos rápidos mas de muita tensão e nervosismo:
(…) já peguei logo o telefone da empresa, já dei na mão de um e o outro já estava me ameaçando com a faca no pescoço pedindo pra eu abrir a porta do trem. Aí eu lógico que eu abri a porta do trem, né? Mostrei ele, abri a porta do trem e um foi lá assaltar o pessoal lá na salão e o outro ficou comigo, tá? (…) eu acho que essa situação (…), acho que não demorou nem dois, de dois a três minutos, foi coisa rápida tá?
O maquinista prossegue, relatando o drama vivido, e expondo a situação de penúria e insegurança que os habitantes do Rio de Janeiro convivem todos os dias:
Mas eu não cheguei nem a descer na brita pra tirar dormente porque eu já tinha maldado a situação, sendo que pra mim a porta estava fechada, eu acho que foi a livramento essa porta estar aberta porque (…) a gente nunca vai saber né, se o cara está com faca ou está com arma e um cara desses até com faca é perigoso é vai que o cara consegue abrir lá o vai arrebentar o pólen e entra na cabine, e aí? Como é que eu vou me defender? O cara vai me esfaquear lá e vai ficar por isso mesmo. Vai levar o telefone, entendeu? Minha vida vai no preço de um telefone. Por conta de um telefone. Então, assim, foi uma situação tensa na hora ali. Né? Tô nervoso pra caramba, isso foi rápido, eles saíram e foram em direção a (estação) São Cristóvão… eu ainda desci do trem porque eu não ia ficar parado ali, que eu não sou maluco, consegui fechar as portas, desci do trem pra tirar o dormente e os materiais que estavam lá na via (…) pra eu passar, prosseguir a viagem, fui embora. Pedi reforço na (estação) Central porque os passageiros estavam nervosos também, né? Mas assim, o pior não aconteceu né, cara? Graças a Deus não revidaram nada em mim, não me deram facada, não me agrediam, só levaram bem o material, né? E por eu ter maldado a situação eles não levaram meu telefone, né? Que estava na mochila, tinha até um queria levar a mochila e eu até falei com ele “pô, irmão, só tem marmita” (…). Mas assim ele largou a mochila e foi embora.
E continua em evidente tom de desabafo:
Então, já mandei mensagem aqui pro pessoal e um monte de gente querendo falar comigo, fiquei famoso agora. Mandei pros supervisores, falei um monte de coisa lá. Até por conta dessas coisas que a gente passa aí, é material de via na linha, está aí, tudo pode ser utilizado contra a gente. É questão de segurança, né? Nossa, né? Uma hora vai acontecer o pior cara, pode ter certeza. Mas graças a Deus estou bem, estou em casa, vou tentar dormir um pouco agora. E o pessoal, fica ligado aí gente, fica ligado. Eu até falei com não sei com quem foi (…), falei (…): cara, se acontecer isso comigo de novo e eu estiver numa situação dessa à noite, dormente fechando a via, meu irmão, não vou pensar duas vezes, não. Vou meter lá a reversão e vou voltar pra plataforma. Quero nem saber, vou sair pra longe de onde está aquilo ali. (…) Até a segurança chegar, (…) vão invadir a cabine, vão matar a gente, quando a segurança chegar a gente já vai estar fedendo, valeu?
Cartas na mesa, só não vê quem não quer…
Infelizmente o cenário da empresa é esse e, assim, a gente não pode nem culpar nem a segurança, nem a outra outra parte, é uma questão lá de cima, gestão, essas coisas. A gente bem sabe, né, cara. Mas, assim, a gente tem que se virar com o que a gente tem. Pessoal, fica ligado aí, que eu, parceiro se eu, né, pegando essa experiência aí, é ruim de acontecer de novo, meu irmão, quero nem saber, vou sair, vou sair dali. E a galera fica ligada aí, pode repassar aí o áudio. Vou botar a foto aí agora. Porque pode ter certeza que não vai ser a primeira nem a última vez não. Um abraço aí pra todos. Bom final de semana. Estamos juntos.

Foto de capa: Canal FC Youtube