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Texto produzido em 01 de fevereiro de 2023
Artigo publicado em 30 de junho de 2023 às 11h55
Última atualização em 23 de junho de 2023 às 20h32

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Recentemente publicamos um artigo homenageando a falecida jornalista Gloria Maria. Naquele artigo analisávamos um vídeo de uma reportagem descrevendo uma viagem de trem feita pela saudosa repórter entre o Rio de Janeiro-RJCorumbá-MS.

Abaixo o link para este artigo, caso você não tenha lido ou queira relê-lo:

Glória Maria e sua viagem ferroviária até Corumbá-MS

Seguindo a mesma linha mas mudando completamente de assunto e região, contudo ainda servindo como comparativo, fizemos algumas análises a partir de um vídeo de Olga Kovalenko, famosa no YouTube como “Olga, a Russinha mais Brasileira do mundo“, faremos algumas comparações para mostrar as diferenças entre as ferrovias Russas e as Brasileiras.

 

OLGA, A RUSSINHA QUE FALA PORTUGUÊS

Olga, para quem não a conhece, é uma russa que veio morar no Brasil e se encantou com nossa terra. Atualmente, ela mora em São Paulo e se tornou uma youtuber famosa, contando sobre seu choque cultural.

O canal dela no Youtube é divertidíssimo e instrutivo, recomendamos assistir e se inscrever!

No vídeo abaixo, ela inverte e mostra aos seus admiradores uma viagem de trem entre Moscou e São Petersburgo, um percurso com aproximadamente 700 kms, que leva, segundo o Google e em condições normais e sem paradas, 8 horas de viagem.

Para quem não conhece, entenda a importância dessa ligação e dessas cidades: Moscou é a capital da Rússia, e São Petersburgo é a segunda maior cidade do país, uma cidade tradicional com mais de trezentos anos. É considerada também a capital cultural da Rússia.

Essa é uma viagem mais longa do que a do Rio de Janeiro para São Paulo, que tem 435 kms, ou do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, com 442 kms, e menor do que a do Rio de Janeiro para Brasília, com 1166 kms, mas que leva, na composição em que Olga está, as mesmas 8 horas da ligação Rio de Janeiro x São Paulo, do antigo Trem de Prata. Frisamos isso também porque existe um Trem de Alta Velocidade chamado Sapsan, que faz o mesmo percurso em quatro horas. Falaremos dele mais adiante.

Fonte: Sapsan

O SISTEMA FERROVIÁRIO RUSSO

Antes de continuarmos na comparação entre os países queremos deixar claro que, em relação aos conflitos bélicos que estão ocorrendo desde o começo de 2022, não expomos ou opinamos sobre os lados deste acontecimento, o assunto não tem nada a ver com as ferrovias que debatemos aqui. Cada pessoa tem a opinião que achar melhor ou adequada, mas aqui neste texto, apesar de citarmos um país que está envolvido no conflito, não estamos incitando ou expondo opiniões x ou y sobre o assunto.

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A Rússia, em muitos aspectos, é um país parecido com o Brasil, com grandes distâncias entre algumas das principais cidades e muito a nos ensinar quando o assunto é transporte regional de passageiros.

Sendo assim, vamos falar um pouco sobre esse vídeo.

Primeiramente, vamos falar das bitolas e do balanço dos trens. A bitola oficial da Rússia é de 1520 mm. Observem que no vídeo da Olga não há balanço no trem, como no trem mostrado no vídeo da reportagem da Gloria Maria. Certamente, a manutenção dessa ferrovia russa é bem melhor do que a nossa, mas não tem a ver com a bitola.

As cabines também têm uma aparência bem melhor e mais moderna do que as nossas.

Fonte: Youtube

Aos 1’00”, ela já começa mostrando uma mesa que vira cama, e a aparência do vagão é muito boa. Aparenta ser algo no mínimo bem conservado, bem diferente dos vagões do trem mostrado por Gloria Maria.

Aos 6’00” ela mostra o pessoal se preparando para dormir e as cabines, que são bem diferentes das do Trem de Prata ou do Trem do Pantanal, neste caso Russo aparentam ser melhores.

Fonte: Youtube

Aos 6’50”, ela mostra o buffet. Nessa composição em que Olga está não existe vagão restaurante. Esse modelo de buffet, servindo ambientes, chegou ao Brasil com os hotéis da rede Ibis Budget e poderá no futuro ser copiado em trens regionais que venham a ser implantados.

Fonte: Youtube

Aos 9’25”, ela passeia entre os vagões. Observem que, além das portas, existe entre os vagões um “túnel”, como nos trens da Supervia e do Metrô no Rio de Janeiro. Esse fechamento é bem diferente do que existia no Trem de Prata, que era aberto, possibilitando acidentes.

Essa passagem, esse “túnel”, tem o nome de Gangway connection, evita que o passageiro caia do trem e evita acidentes. Não existiam nos vagões antigos.

Filmes antigos de faroeste mostram as pessoas passando de um vagão para o outro. Era assim que as pessoas passavam pelos vagões/carros de passageiros aqui no Brasil. A segurança era mínima.

Fonte: Youtube

Choca um pouco ver tanta gente defendendo o uso em trens regionais dos vagões originais do Trem de Prata. Deveriam ser capazes de responder algumas perguntas:

  • Quanto custaria a reforma desses vagões?
  • Quanto custaria a adequação e atualização desses vagões para as tecnologias atuais?

A CVRD, por conta dessas evoluções tecnológicas, comprou vagões novos para operar o serviço do Trem Vitória x Minas. Segundo informações, foi mais barato do que reformar e adaptar os antigos.

 

O SAPSAN: O TREM RUSSO DE ALTA VELOCIDADE

Aos 14’15” Olga mostra o Sapsan, trem russo de alta velocidade.

Esse trem de alta velocidade consegue fazer o trajeto feito pela Olga em 4 horas, usando a mesma linha, mas custa o equivalente a R$700,00 reais, com direito ao vagão restaurante.

A grande vantagem desse serviço é que ele deixa o passageiro dentro das cidades de Moscou e São Petersburgo. O que aconteceria no Brasil se um dia a Estação Leopoldina fosse reformada e usada para os trens regionais. Além disso, o trem é muito mais confortável do que o avião, como mencionado por algumas pessoas com quem Olga conversou durante o vídeo, e como já sabemos.

Fonte: Youtube Firebird Tours / Russian Trains

Segundo informações retiradas da internet, essa viagem que a Olga fez dura de 7h30 a até 14h, dependendo do número de paradas. O preço da passagem varia bastante, sendo as mais baratas custando o equivalente a R$180,00 e as mais caras, no vagão com cama, custando o equivalente a R$480,00.

Pela distância percorrida e o tempo gasto na viagem, a velocidade média desse trem é bem maior do que os 50 km/h do antigo Trem de Prata, que fazia o trajeto Rio x São Paulo.

Se considerarmos o trecho Rio x São Paulo, seria uma passagem mais cara do que o ônibus leito que liga essas duas metrópoles.

 

Teria demanda?

 

São apenas divagações.

Sobre as ferrovias russas, segundo apuramos, ao longo do tempo elas passaram por um processo evolutivo, diferente das nossas, que passaram por um processo disruptivo, como já explicamos em postagens anteriores.

Locomotiva a vapor na ferrovia Moscou – São Petersburgo (1858) (imagem colorizada por Inteligência Artificial)

Sendo assim, essa linha entre Moscou e São Petersburgo, diferente das nossas, ao longo do tempo foi retificada, reformada e modernizada, podendo operar hoje um misto de composições convencionais e do TAV Russo, algo impensável nas linhas ferroviárias do Brasil que, durante os anos de existência da RFFSA, foram sucateadas.

Encerramos essa postagem com uma frase do grande escritor G. K. Chesterton, muito citada por pessoas com quem Olga conversou, mostrando que a percepção do russo do passado não é diferente da percepção do brasileiro, e o quanto a ferrovia faz parte disso.

 

“Tão forte é a tradição que as gerações futuras sonharão com aquilo que elas nunca viram” G. K. Chesterton

 

MAS ANTES DE ENCERRAR, IMPORTANTE DIZER

Aos ideólogos de plantão e amantes da RFFSA, algumas informações importantes: em determinado momento do vídeo, Olga fala que a empresa que administra o trem em que ela estava é estatal.

Algumas explicações sobre isso são necessárias: Ludwig von Mises mostra em diversos de seus livros, como “O Cálculo Econômico sob o Socialismo” de 1920 e “Ação Humana” de 1949, que o socialismo mostrado na propaganda não tinha como dar certo. Com a queda do Muro de Berlim em 1989, causou enorme estranheza na Europa que, de uma hora para outra e ninguém sabia como, surgissem diversos bilionários russos comprando várias empresas.

Fortunas não se constroem da noite para o dia, em um estalar de dedos. Um desses bilionários, Roman Abramovich, chegou a ser dono do Chelsea, time de futebol inglês, e só o vendeu recentemente em 2022 por diversos motivos, inclusive por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Fonte: The Mirror

A avaliação feita por alguns analistas, possivelmente nenhum brasileiro, é que esses bilionários já operavam empresas ditas “estatais” na Rússia, mas com gerenciamento privado deles. A queda do Muro de Berlim os fez sair das sombras, expor seu patrimônio e comprar essas empresas que já administravam a preço de banana, transformando-se em donos por direito de empresas das quais já eram donos de fato.

Sabemos que efetivamente empresas “estatais” atualmente na Rússia não seguem o modelo brasileiro da RFFSA. Lá, como mostrado por Olga, a eficiência, o atendimento ao cliente e o lucro estão em primeiro lugar.

Fonte: Youtube Firebird Tours / Russian Trains

Segundo informações vindas de lá, maus dirigentes dessas estatais são punidos até com prisão, o que é bem diferente do modelo usado aqui no Brasil em casos semelhantes.

 

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Até a próxima!

 

Este texto pode expressar, ou não, total ou parcialmente, a opinião da instituição, sendo de inteira responsabilidade do autor.

Foto de capa: Youtube Olga do Brasil

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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