Esta localidade é conhecida por ser a terra natal de um dos maiores mestres do futebol mundial: Garrincha. Inclusive aproveitamos para visitar alguns locais ligados a este jogador, durante a caminhada.
Abaixo descrevo como foi esta grande expedição:
No nosso ponto de encontro tradicional, o McDonalds da estação Dom Pedro II (Central do Brasil), cheguei por volta de 07:45. Havia marcado às 07:30, com o objetivo de embarcarmos no trem de 08:27 rumo a Saracuruna. Uma grata surpresa foi a presença de Antonio Pastori, pesquisador e membro atuante na área ferroviária, quando cheguei ele já estava nos aguardando. Foi a primeira vez que contamos com a sua nobre companhia em uma caminhada Trilhos do Rio. Após alguns minutos chegou o Leonardo Ivo, e pouco antes do horário combinado, embarcamos no trem, um Alstom repleto de pedradas no para-brisas, algo infelizmente comum ...

Em Saracuruna encontramos com o Julio Cesar, meu companheiro de caminhada desde a EF Rio d'Ouro em 2009. Fizemos baldeação para o trem a diesel do ramal de Vila Inhomirim. No caminho, soube que teríamos excelentes companhias: o professor Antonio Seixas e o Guia de Turismo Hernesto Franco. Eles ficaram de nos encontrar em Fragoso, onde iniciaria a ferrovia, segundo eles. Mas segundo os textos que pesquisamos, esta ferrovia compartilhava um armazém com a EF Mauá em Vila Inhomirim, sendo assim seguimos rumo à estação terminal. Lá precisamos aguardar estes e o Rodrigo Sampaio, que chegou junto com a noiva, Jana Rocha. Após alguns minutos, e uma breve ameaça de chuva, iniciamos nossa caminhada e averiguações.

Logo na saída do pátio de Vila Inhomirim, notamos uma coisa: como a ferrovia não entroncava com a EF Mauá, e possuía máquinas de curta potência, percebemos que provavelmente não conseguiria vencer rampas consideráveis, como a existente na chegada à Vila Inhomirim. Ao lado da atual estação, não existe esta rampa, e aparentemente plana, deduzimos que a ferrovia passava pelo trecho. Notamos também que há algumas árvores de idade mais avançada, formando um corredor, com árvores mais jovens no meio, indicando que havia um caminho pelo trecho.


Mais a frente, chegamos ao ponto onde o antigo leito se distanciava da EF Mauá e seguia rumo à Pau Grande. Curiosamente, encontramos alguns dormentes da ferrovia atual, abandonados, e neles pinos de fixação com a marca da ... FLUMITRENS !


Continuando, encontramos a ponte onde a ferrovia cruzava o primeiro curso d'água do seu percurso. A ponte atual não é a original, extremamente simples e aparentemente fina, sem resistência ao peso de uma composição carregada, mesmo que consideravelmente leve. Mas notamos a cabeceira grande em ambos os lados, e aparentemente antiga (mas reformada). Com a incidência de enchentes e cabeças d'água na região, é compreensível que estas estruturas precisem ser reforçadas, o que parece ser o caso.

Após passarmos pelo Clube Vila Mageense, alcançamos a segunda ponte do caminho. Esta dava pra enganar: metálica e com certa aparência ferroviária. Mas conversamos com duas pessoas que estavam próximas, um de 30 e outro de 50 anos, e ambos afirmaram que a ponte devia ter "uns 20 anos" de construída, que antes não tinha nada no local, e do outro lado havia apenas uma trilha, onde os moradores caminhavam. Esta informação foi reforçada pela placa de inauguração, datada de 1989.


Enquanto os demais membros visitavam o cemitério de Raiz da Serra, ali próximo, eu e Hernesto, e depois com o Pastori, decidimos pesquisar mais sobre a ponte e resolvi descer para observa a sua cabeceira. Do outro lado havia uma cabeceira, ao lado da atual, de pedras bem antigas, o que indicava que a linha, ao passar pelo trecho, fazia uma leve curva, visto que apenas a cabeceira posterior foi reforçada no seu leito original, cimentada.

Após eu também subir e conhecer o túmulo de Garrincha, entre outros, continuamos seguindo pelas ruas de paralelepípedo em direção à Pau Grande.



Segundo os nosso companheiros de caminhada, havia no trecho um portão que delimitava a entrada da Fábrica da Companhia América Fabril, chamado Portão Preto. E este nome se manteve, visto algumas placas indicando o nome da via.

Mais alguns metros à frente, encontramos o que restou deste portão, infelizmente bastante arrasado. Curiosamente, foram utilizados trilhos na sua estrutura. Seria um belo marco histórico e turístico se tivesse sido preservado ...


Mais alguns minutos e alcançamos o acesso principal de Pau Grande. A rua se divide e percebi que na via ao lado, a pavimentação parece estar cedendo, como se tivesse uma elevação no meio da via. Seria o antigo leito, o talude, que foi soterrado para virar rua junto à vila de casas da antiga fábrica (que até nem faz muito sentido, pois tem a via principal ao lado)?

Passamos em frente à fábrica atual de refrigerantes Pakera, e pouco depois chegamos ao centro de Pau Grande. Os sinais da passagem de Garrincha pela região, local onde nasceu, se tornam bastante evidentes ...

No local conhecemos a bela Igreja de Sant'Anna, a fachada da atual fábrica de refrigerantes (a antiga América Fabril fica ao fundo da atual instalação, cinsluive ainda existe uma grande chaminé, mas não tivemos acesso), a bela Praça Montese, a antiga Sociedade Musical Santa Cecília (que sofreu desmoronamento e reforma recentemente), a fonte Santarém (infelizmente seca), o Esporte Clube Pau Grande e o belíssimo memorial dentro desse clube.





Em um bar próximo entrevistamos dois moradores locais, onde conseguimos informações bastante preciosas, gravadas em vídeo.
Após alguns minutos conversando e nos abastecendo, seguimos a caminhada eu, Julio Cesar, Leonardo Ivo, Rodrigo Sampaio e Jana Rocha. Poucos metros à frente, encontramos mais uma ponte, no mesmo estilo da próxima a anterior, junto ao cemitério.

Novamente metálica mas com a base da cabeceira aparentemente antiga, como as demais, evidenciando ser da época da ferrovia.
Após uma grande a aberta curva, chegamos a um grande terreno, onde havia um senhor capinando. Em frente a entrada deste terreno, trilhos fincados ! E ... surpresa: o estado físico e inscrições no seu boleto indicavam ser do ano de 1921 ! Perguntamos a este senhor se ele sabia de algo, e ele nos disse que quando comprou o terreno eles já estavam ali, que deviam ser da "fábrica" ...


Poucos metros à frente, um antigo mas encoberto, bueiro ferroviário da época.

A região está tendo intervenções imobiliárias importantes: vários condomínios de casas estão sendo construídos, e até prédios.

Após passarmos por alguns destes, chegamos a uma bifurcação e a um mistério que foi desvendado: a chamada ponte de ferro, uma ponte aparentemente ferroviária por ser de treliça, estreita, metálica e antiga, estando até no momento interditada para tráfego de veículos (apenas motos passam pelo local). Mas segundo informações que apuramos, ela não era ferroviária, existindo outras na região inclusive. Talvez fosse um padrão, como as outras que encontramos no caminho (a em frente ao cemitério e a outra adiante) mas segundo informações, jogos de interesse entraram nesse meio, algo que não posso apurar e que não há a necessidade de mencionar aqui ... por isso o padrão utilizado, de pontes pré-moldadas.



Seguimos à esquerda na bifurcação, onde era o leito da ferrovia. A partir daqui tudo era novidade, visto que não existe quase imagens do trecho (nem o Google passou pela região).E aí começaram as surpresas, um trecho bem rural onde só se ouvia nosso passos e o canto dos pássaros: bueiros antigos, pontilhões e pontes antigas, umas de cimento, outras metálicas reformadas ou soterradas.















E mesmo nas pontes aparentemente recentes, vestígios antigos podiam ser percebidos. Em uma dessas pontes, quase chegando à Unidade de Alvejamento da fábrica, uma estrutura nos chamou bastante a atenção: aparentemente uma base de pedra, que pode ter sido de uma guarita de acesso à fábrica.

Logo à frente já podemos avistar as grandes chaminés da antiga e abandonada fábrica. Estávamos próximos realmente: mais à frente uma espécie de pórtico de entrada nos indicava que chegamos ao nosso destino. Na verdade, segundo apuramos, o pórtico é uma espécie de ampliação de alguma coisa mais antiga que existia ali. Mas infelizmente parece que a construção foi abandonada ainda na construção, ou abandonada recentemente: estava toda depredada.

Ao lado, as ruínas da grande ... imensa na verdade, unidade de alvejamento da Cia.América Fabril. Entramos nas ruínas, muito mato, cipós nos enrolando, imensos tanques e buracos ameaçadores nos deixavam em alerta máximo.





Mas quando estávamos saindo, avistei dois sujeitos na entrada das ruínas. Voltamos em silêncio procurando alguma saída, mas batemos de frente com um campo aberto, mas alcançável apenas passando no meio de espinhos e em declive acentuado. Resolvemos aguardar e decidir o que fazer, até que fomos de qualquer jeito e vimos que não havia mais ninguém na área, eram moradores aparentemente, curiosos com a nossa presença.

Dali ainda caminhamos algumas centenas de metros adiante, chegando a cachoeira e às belas corredeiras da região. Encerramos nossa caminhada, embarcando no ônibus rumo a Piabetá, mais ou menos umas 17:30 da tarde.
