Estação foi inaugurada como terminal do segundo trecho da Estrada de Ferro Dom Pedro II, antes de subir a Serra do Mar
No coração de Japeri, município na baixada fluminense do Rio de Janeiro, ergue-se um casarão inspirado pelas construções rústicas do norte da Europa. Aliás, este termo é como é conhecida a construção que é a estação ferroviária de Japeri, inaugurada em 08 de novembro de 1860: “Casarão”. À primeira vista, pode parecer uma presença estrangeira em terras brasileiras, mas, na verdade, esse monumento é tão intrínseco à identidade e história locais que se tornou parte fundamental do brasão da cidade, sendo um símbolo oficial.
A fachada do edifício, construída utilizando a técnica de enxaimel, apresenta paredes estruturadas com hastes de madeira encaixadas em diferentes posições – horizontal, vertical ou inclinada –, preenchidas com pedras ou tijolos, neste caso específico. Os desenhos geométricos do enxaimel, combinados com suportes de telhado conhecidos como “mão francesa”, formam uma decoração encantadora. A cobertura de telhas cerâmicas e a inclinação do telhado dão ao edifício a aparência característica de um chalé.
Até pouco tempo atrás, o edifício reformado abrigava a sala de relé, onde ficava os equipamentos de controle do Ramal Japeri, além de espaços administrativos e um auditório. A SuperVia, responsável pelo sistema ferroviário, estava planejando modificar o acesso dos passageiros para permitir a transformação de alguns espaços em áreas culturais, como uma sala de exposições. Entretanto, o prédio sofreu um incêndio em 2020, que consumiu boa parte de sua estrutura, relatado em mais detalhes neste link:
A história deste prédio remonta à década de 1850, pois o plano inicial era que a ferrovia tivesse sua primeira parte construída e concluída entre a estação do Campo, na capital do Rio de Janeiro, e Belém (atual Japeri). Entretanto, a obra sofreu atrasos e foi inaugurada até a estação de Queimados em 1858, tendo o trecho prolongado e concluído em 1860 chegando à Belém (Japeri), antes de iniciar e superar a subida da Serra do Mar, que demandou a construção de muitos túneis e outras obras de engenharia. Embora não haja confirmação, acredita-se que o inglês Edward Price tenha supervisionado a construção da estação, utilizando materiais importados da Europa.
Essa ferrovia tinha como objetivo transportar café do Vale do Paraíba e outros produtos agrícolas destinados à exportação, além de alcançar Minas Gerais, Bahia e chegar ao Pará, na sua capital, Belém. Contudo, este projeto nunca alcançou a capital paraense. Além do impacto prático na economia, o desenvolvimento dessa infraestrutura de transporte teve diversos efeitos, incluindo a migração populacional e o crescimento de centros urbanos. Japeri, por exemplo, cresceu ao redor da estação de trem e mantém até hoje uma relação intrínseca com esse local histórico. Hoje passam pelo trecho os trens em direção à Central do Brasil, à Paracambi, e trens de carga da operadora MRS Logística.
Inicialmente, o prédio servia como bilheteria e área de espera para os viajantes que embarcavam e desembarcavam dos trens. Com a inauguração de uma nova estação nas proximidades para lidar com o aumento do fluxo de passageiros, o prédio histórico perdeu parte de sua movimentação original.

Espera-se que a bela edificação seja recuperada e restaurada, para poder novamente fazer parte do cenário histórico e ferroviário da cidade e de todo o estado, símbolo, aliás, do brasão da cidade de Japeri
Com informações do site IPatrimônio
Texto escrito em 08 de novembro de 2023 às 6h14
Última atualização em 08 de novembro de 2023 às 6h14
Imagem de capa: Marc Ferrez, estação Belém (Japeri) em 1903. Fonte: Instituto Moreira Salles