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Por Eduardo (‘Dado’)

Madrugada de domingo, dia 19 de julho de 2020. De manhã iniciamos o dia tristes pela perda de um grande patrimônio, ou no mínimo, danos consideráveis a uma pérola histórica e ferroviária inaugurada em 08 de novembro de 1858: foi seriamente danificada por um incêndio a estação de Japeri, de grande importância arquitetônica, cultural, histórica e ferroviária, fazendo parte inclusive do Brasão do município, emancipado em 1991.

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Construída e inaugurada no segundo trecho da Estrada de Ferro Dom Pedro II (posteriormente Central do Brasil), o chamado “Casarão” de Japeri chamava-se originalmente Belém (tendo o nome atual adotado na década de 1940) e é um prédio de alvenaria de tijolos com estrutura de madeira, dividido em três módulos sendo os dois extremos com dois pavimentos e o central com apenas um. A cobertura é em telha vã, apoiada em mãos francesas de madeira e a fachada uma estrutura em enxaimel com apliques de madeira formando padrões regulares. As esquadrias também são em madeira, as portas almofadadas com bandeiras de madeira e vidro em arco pleno e as janelas e a laje do segundo piso também em madeira. Tudo isso infelizmente contribuiu para a rápida propagação das chamas.

Estação de Japeri em seu nome original: BelémPlanta da estação de Belém
Arquivos RFFSA

Após o prédio deixar de abrigar as bilheterias, centros de controle e sinalização, escritórios do responsável pela estação e sala de descanso de funcionários, a construção ficou abandonada durante várias décadas. Infestações de cupins, abrigos de pombos e muita sujeira foram alguns dos vários problemas detectados, inclusive tornando-se questão de saúde pública.

Fotos de Ana Lucia Vieira dos Santos em 2006 (via INEPAC), antes de alcançar um estado crítico de conservação

Em setembro de 2016 a estação já encontrava-se em avançado mau estado de conservação. Na foto o grande pátio da estação, e à esquerda o prédio original.
Foto: Eduardo (‘Dado’)

Em 2006 a cobertura da plataforma encontrava-se escorada, com risco de desabamento
Ana Lucia Vieira dos Santos (via INEPAC)

Em 2018 foi iniciado um processo de restauração. Segundo o INEPAC a edificação principal precisava de grandes reparos, com a estrutura de madeira e o forro estavam seriamente comprometidos por cupins. O chefe de manutenção afirmava que as peças estruturais dos telhados encontravam-se livres de infestação, mas isso não foi confirmado, sendo inclusive contestado. A cobertura da plataforma também encontrava-se comprometida, sendo escorada em dois pontos.

Planta constante no projeto de restauração, levantada por Ana Lucia Vieira dos Santos, Fernanda Falseth e revisada por Roberto Anderson Magalhães em 2010

Em outubro de 2019 a restauração foi concluída, tornando a estação original de Japeri uma atração turística. Todos que passavam pelo local, para embarque ou desembarque dos trens rumo a Paracambi ou à Central do Brasil apreciavam a beleza do prédio, onde principalmente os detalhes em madeira se destacavam.

Infelizmente menos de um ano depois de restaurada um incêndio, provocado por causas ainda em apuração, destruiu grande parte do prédio enterrando 162 anos de existência. Provavelmente apenas com uma grande restauração ou reconstrução em réplica o conjunto arquitetônico será recuperado. Uma lástima, uma tragédia para o passado e história ferroviária.

Fonte: Facebook

Fonte: Facebook

Fonte: Facebook

Fonte: G1 Rio

Imagem destacada: Acervo Benício Guimarães (AENFER/AFTR)

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Autor

  • Eduardo ('Dado')

    Formado em Arquivologia, pós-graduando em Engenharia Ferroviária, técnico em TI, produtor e editor multimídia, webmaster e webdesigner, pesquisador e historiador informal. No começo dos anos 2000 se aprofundou na área de mobilidade e transportes (e a preservação histórica inerente ao assunto, sobretudo envolvendo os transportes sobre trilhos), e a partir de contatos pessoais e virtuais participou de, e formou, grupos voltados para a disseminação do assunto, agregando informações através de pesquisas presenciais e em campo. Em 2014 fundou formalmente a AFTR - Associação Ferroviária Trilhos do Rio onde reuniu membros determinados a lutarem pela preservação e reativação de trechos ferroviários, além de todos os aspectos ligados às ações, como o resgate da memória e cultura regional, melhoria na mobilidade e consequentemente na qualidade de vida da população, etc Foi presidente e é o atual coordenador-geral da AFTR Não se considera melhor do que ninguém, procura estar sempre em constante evolução e aprendizado, e acumula experiências sendo sempre grato aos que o acompanha e apoia. "Informação e conhecimento: para se multiplicar, se divide"

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