Com informações do Jornal O Globo
Texto escrito em 04 de setembro de 2023 às 10h31
Última atualização em 04 de setembro de 2023 às 10h31
No meio das rachaduras, infiltrações e do material enferrujado, a velha Estação Ferroviária Barão de Mauá, mais conhecida como Leopoldina, na Avenida Francisco Bicalho, mantém algumas relíquias escondidas. Entre elas, a bilheteria original, uma elegante abóbada de estrutura metálica e as majestosas colunas do amplo salão principal. Datado de 1926 e protegido como patrimônio histórico, o edifício se tornou alvo de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2013, na qual as responsabilidades pela sua restauração estão sob debate.
Entretanto, durante essa prolongada batalha judicial, que questiona quem deverá arcar com os custos da recuperação, surgiram dois eventos que podem redirecionar o destino deste espaço. A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) prometeu cumprir o acordo mais recente firmado com o MPF e se comprometeu a apresentar um projeto executivo de restauração até 7 de dezembro. O projeto incluirá um terraço parcialmente coberto e jardins, e também abrangerá as quatro plataformas. Com o projeto pronto, as obras, avaliadas em R$ 25 milhões, poderão ser licitadas no início de 2024. Ao mesmo tempo, o prefeito Eduardo Paes está negociando com o governo federal a compra de toda a área.
A equipe do jornal O GLOBO fez uma visita à estação, que foi desativada em 2001 e fechada em 2016, após sediar alguns eventos. A intenção de Paes é adquirir todo o terreno de 124 mil metros quadrados, não apenas o terminal ferroviário. Ele já discutiu o assunto com a ministra Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, bem como com André Ceciliano, ex-deputado e secretário Especial de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
O prefeito tem planos semelhantes aos utilizados com sucesso no caso do Edifício A Noite, na Praça Mauá. A prefeitura adquiriu o primeiro arranha-céu do Brasil e o vendeu para a AZO Inc, que pretende transformá-lo em um residencial com mais de 400 apartamentos.
— Nossa ideia é conceder o terreno inteiro à iniciativa privada, pois ele tem potencial imobiliário. A estação em si seria destinada a um uso público e cultural. A negociação está em andamento. A realidade é que, nas mãos do governo federal, a área está paralisada há anos, e sabemos que continuará assim se permanecer sob o controle da União — afirmou Paes.
Com o objetivo de tornar o espaço mais atrativo para o setor imobiliário, a prefeitura apresentou recentemente à Câmara de Vereadores um projeto de lei complementar que permite o uso de Certificados de Potencial Adicional Construtivo (Cepacs) na Leopoldina. A compra desses títulos públicos possibilita a construção de espaço adicional e a modificação de usos e parâmetros de empreendimentos.
Uma parte do terreno, atualmente ocupada pela Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (CENTRAL), deveria ser desocupada de acordo com o acordo estabelecido em maio de 2022. No entanto, um galpão que já foi uma fábrica de aduelas permanece no local, e centenas de peças destinadas à construção da Linha 4 (Ipanema-Barra) estão se deteriorando.
— Eles ainda não apresentaram um cronograma. Alegaram judicialmente que não têm recursos — lamenta o procurador da República Sergio Gardenghi Suiama, responsável pela ação civil pública, que está em tramitação na 20ª Vara Federal do Rio.
No interior do complexo da estação, apesar das rachaduras, infiltrações e do abandono de muitos anos, a antiga Estação Ferroviária Barão de Mauá, também conhecida como Leopoldina, guarda preciosidades. Estas incluem a antiga bilheteria, uma abóbada com uma estrutura metálica impressionante e majestosas colunas no amplo salão da plataforma. O edifício, inaugurado em 1926 e classificado como patrimônio, está no centro de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) desde 2013, devido a questões relacionadas à sua restauração e preservação.
Enquanto isso, o processo movido pelo MPF continua em andamento, com uma audiência de conciliação marcada para o próximo dia 25. O procurador responsável pela ação civil pública, Sergio Gardenghi Suiama, já solicitou informações atualizadas sobre o projeto executivo e o financiamento das obras ao secretário do Patrimônio da União, Lúcio Andrade.
Embora haja esperanças de recuperação para o prédio histórico, atualmente, ele está em péssimo estado, com partes sem revestimento, sistemas elétricos e hidráulicos danificados e vandalismo frequente devido a tentativas de invasão. O edifício de quatro andares, incluindo o térreo, possui detalhes da época em que funcionava como estação de trem, incluindo o busto do Barão de Mauá. No entanto, grande parte do acervo móvel foi transferido para um depósito, deixando salas no quarto andar repletas de equipamentos e móveis abandonados. A fachada do edifício está repleta de pichações, e a tela de proteção externa também foi danificada.
A estação, projetada pelo escocês Robert Prentice e inaugurada em 1926, possui um grande significado cultural e arquitetônico, e é tombado pelo Iphan e pelo Inepac. A estação representa uma parte importante da história ferroviária do Brasil e é essencial para a preservação desse patrimônio.
Quando a estação foi estabelecida, a Estrada de Ferro Leopoldina estava sob administração de um grupo inglês, mas posteriormente foi nacionalizada e incorporada pela Rede Ferroviária Federal. Em 1984, a gestão dos trens urbanos de passageiros foi transferida para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Durante a década de 1990, o serviço foi estadualizado. Atualmente, a CENTRAL é responsável pela administração do sistema, enquanto a operação é conduzida pela iniciativa privada (SuperVia).
Antônio Carlos Cunha, que já foi maquinista e agora atua como assistente de segurança da SuperVia aos 58 anos, recorda vividamente sua experiência na Estação Barão de Mauá no início de sua carreira. Após ser aprovado em um concurso público em 1985, ele foi convocado dois anos depois:
“Este edifício faz parte da minha trajetória. A entrevista, que era eliminatória, ocorreu na sala 205 após o concurso no Maracanã. Além disso, realizei as provas escritas do curso de maquinista neste prédio, todas elas eliminatórias. Levou mais de um ano até eu me tornar um auxiliar.” – Antonio Carlos Cunha
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirmou que os trens tombados na Leopoldina pertencem à União, mas estão sob a gestão do instituto. A Secretaria Estadual de Transportes não forneceu uma estimativa para a remoção da fábrica de aduelas e das peças do terreno federal. Eles afirmaram que a CENTRAL já retirou sucata e materiais inutilizáveis da estação e que estão em comunicação com institutos e associações de preservação ferroviária para discutir a destinação adequada dos materiais remanescentes.
Imagem de capa: SPU/divulgação