Olá, Amigas e Amigos!
O artigo de hoje pode ser, para alguns, um pouco “chato”. Envolve aspectos interessantes e curiosos, mas pode não ser atrativo para algumas pessoas. Contudo, é extremamente importante para entender algumas nuances desconhecidas do que ocorre atualmente nos bastidores do governo e de alguns grupos de aficionados por ferrovias, e conhecer o perfil de quem administra alguns projetos ferroviários no setor público.
Por isso, dividimos essa postagem em duas partes, onde a primeira pode ser lida sem a segunda, de forma independente, para compreensão do texto.
Ferrovias são um negócio. Quem acompanha nossas postagens já deve ter lido isso diversas vezes. Ferrovias têm um conceito de implantação e concepção totalmente diferente das rodovias.
Repetindo, ferrovias são um negócio.
Considerando isso, o que acham de saber que alguns dos funcionários públicos que controlam ou que dão pitacos nesse setor no Brasil jamais gerenciaram pelo menos uma barraquinha de cachorro-quente? E nem mesmo conhecem ferrovias a fundo? São funcionários públicos de carreira e muitas vezes nem engenheiros são. Tem formação diversa, sendo muitos deles economistas.
Seremos um pouco prolixos nas explicações que daremos, mas é extremamente importante isso, para que aqueles que lerem esse artigo, entendam o buraco em que estamos metidos atualmente em relação ao setor, e o buraco em que alguns querem nos enfiar.
Como sempre, trazemos além das informações usuais para compreensão do texto algumas curiosidades bem interessantes.
Ao final da segunda parte do texto, transcrevemos um artigo escrito pelo Sr. Stephen Kanitz, que foi aluno de Delfim Neto, recentemente falecido, quando este foi professor da faculdade de economia da USP. Neste texto, o Sr. Stephen mostra todo o pensamento retrogrado de Delfim e de como suas ideias deixaram o país chegar nesse estado em que chegou.
Sejam bem vindos a mais um artigo do site Trilhos do Rio. Desejamos a todos uma excelente leitura!
Primeira Parte:
Os Economistas. E o que eles têm a ver com a Ferrovia?
Esqueçam as Teorias da Conspiração de que todos ouviram falar, leiam as postagens específicas sobre o tema produzidas pela Trilhos do Rio.
Artigo 3: as Teorias da Conspiração e ideias sem sentido (parte 1)
Artigo 3: as Teorias da Conspiração e ideias sem sentido (parte 2)
Detalharemos aqui algo que aparentemente nada tem a ver com o setor ferroviário, mas uma leitura amiúde dessa postagem mostrará essa realidade.
Primeiramente, falaremos um pouco de outras ciências que fazem parte de nossas vidas e suas histórias, suas origens.
MEDICINA
Existe hoje um consenso de que a medicina como profissão foi estabelecida por Hipócrates que viveu aproximadamente entre 460 a.C. até 377 a.C. A primeira escola médica do mundo teria sido criada em Bagdá, no Iraque, em 765 d.C. No Brasil a primeira faculdade de medicina foi criada na Bahia, em 1808. Ou seja, temos hoje pelo menos 2000 anos de estudos do setor.
MEDICINA VETERINÁRIA
A palavra “veterinário” tem origem no latim. Na Roma antiga, cavalos usados no exército (feras de carga) que eram muito velhos eram recolhidos em um lugar onde podiam desfrutar e descansar. Estes animais foram chamados de “veterinus”.
As pessoas que cuidavam destes animais chamavam-se VETERINARII (veterinarius), que era um derivado da palavra VETUS/VETERIS, “velho”, devido a isto a profissão de cuidado com animais passou a ser chamada assim.
Duzentos e cinquenta e nove anos de criação da primeira escola de medicina veterinária, as duas primeiras escolas de veterinária foram criadas ambas na França, em Lyon, em 4 de agosto de 1761, e a École Nationale Vétérinaire d’Alfort em Paris, foram criadas pelo francês Claude Bourgelat, advogado e amante de cavalos, que não aceitava a ineficácia no tratamento empírico em seus cavalos de raça, e usou sua influência para convencer o rei Luís XV a criar a Escola de Veterinária de Lyon, que começou a funcionar em 1762, com seus alunos recrutados no meio de ferradores, especialistas em cuidar dos capacetes dos cavalos, sendo a ferradura um dos temas estudados.
O segundo país foi a Áustria, em 1768, seguido da Itália, em 1769, Dinamarca, em 1773, Suécia, em 1775, Alemanha, em 1778, Hungria, em 1781, Inglaterra, em 1791 e Espanha em 1792. No final do século XVIII, havia 19 escolas de medicina veterinária em toda a Europa.
Os primeiros veterinários reconhecidos oficialmente se formaram nas grandes escolas de veterinária fundadas entre 1762 e 1821, como o Royal Veterinary College, em 1791, em Londres, e a escola de Lyon se tornou um símbolo da modernidade.
Fonte: Dr. Oscar Brogna.
DIREITO
O primeiro curso de direito do mundo foi criado em 1150, na Universidade de Bolonha, na Itália. A Universidade de Salamanca, uma das maiores e mais antigas da Europa, inicia seu curso de direito em 1539. Ou seja, no mundo, pelo menos 900 anos de estudos do setor. No Brasil, os cursos de Direito foram criados em 1827.
ENGENHARIA
A Engenharia como ciência estudada em instituição formal surge na França em 1747, com a criação da primeira faculdade de engenharia do mundo, a École des Ponts et Chaussées.
Como brasileiros, não podemos deixar de citar a escola de Sagres, criada em 1417, pelo Infante D. Henriques, que foi efetivamente a primeira escola de Engenharia Naval do mundo e permitiu posteriormente, com suas criações e descoberta, que durante anos Portugal mantivesse o controle dos mares.
No Brasil, o ensino da engenharia iniciou-se em 1792, com a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios por D. João VI, e foi posteriormente criada em 1810 a Academia Real Militar. Ou seja, temos pelo menos 500 anos de estudos do setor.
E FINALMENTE, A ECONOMIA
A primeira vez em que a economia foi apresentada ao mundo foi em 1776 na obra “A Riqueza das Nações de Adam Smith”, essa data é apenas simbólica e representa o momento da história em que alguém escreve um livro falando sobre teorias econômicas. Apenas em 1836, John Stuart Mill escreve um ensaio onde considera a economia uma ciência dedutiva. Alguns consideram esse o momento do nascimento da economia como efetivamente uma ciência.
No Brasil em 1931, mediante o Decreto n. 20.158, institui-se o título de Bacharel em Ciências Econômicas, para os graduados no Curso Superior de Administração e Finanças.
O primeiro curso de Economia no Brasil surgiu somente em 1946.
Perceberam que a Economia como ciência é extremamente jovem se comparada a outras ciências?
A economia hoje tem duas vertentes principais:
- A economia baseada nas ideias de John Maynard Keynes.
- A chamada economia da Escola Austríaca que surge com Carl Menger, austríaco de nascimento.
Hoje majoritariamente os economistas não só do Brasil, mas do mundo, cultuam as ideias desse primeiro cidadão. Alguns inclusive ignorando e outros desconhecendo esse segundo cidadão.
John Maynard Keynes
Nascimento: 5 de junho de 1883.
Falecimento: 21 de abril de 1946 .
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Carl Menger
Nascimento: 23 de fevereiro de 1840.
Falecimento: 26 de fevereiro de 1921.
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O que cada corrente defende não será tratado aqui. Nosso objetivo é falar sobre ferrovias. Mas podemos citar uma frase do economista, professor, escritor, diplomata e político brasileiro, Roberto Campos.
“Ou o Brasil acaba com os economistas da Unicamp, ou os economistas da Unicamp acabam com o Brasil”.
Lembrando que na Unicamp se estuda majoritariamente as ideias de Keynes.
Por último, um recorte de um vídeo do canal “Quinto elemento” sobre o tema:
Com todo respeito aos Economistas, mas colocar uma cornucópia no símbolo dos Economistas, considerando que a cornucópia é o símbolo da fartura sem limites, é algo que já sugere que Economistas pelo seu próprio símbolo aprendem a não ter limites. Para quem em tese deve, além de outras tarefas, elaborar orçamentos e respeitá-los, não pega nada bem…
Essa questão dos Economistas e das linhas que seguem é algo de extrema importância que a maioria ignora. Economistas, gastadores em cargos públicos, tendem a fazer bobagem ao emitir desenfreadamente moeda a desvalorizando, o que nunca acaba bem. Temos um exemplo disso bem no início da República, quando Ruy Barbosa, tão decantado em prosa e verso, emitiu moeda levianamente e criou a primeira crise da República, “o encilhamento”, quando nossa moeda perdeu substancialmente valor, gerando enorme revolta popular.
RESUMINDO
Fizemos tudo isso para mostrar que a Economia como ciência é uma ciência extremamente jovem, mas que já foi manipulada propositalmente por alguns. Compreendendo mais a fundo, a coisa só piora, pois alguns estudiosos do passado como Ludwig Von Mises, Carl Menger entre outros, que tem ideias bem interessantes e concernentes com a realidade não são estudados comumente nas faculdades mais tradicionais.
E é nas mãos dessas pessoas formadas nessa economia, que estuda um lado só, que muitas vezes nossos destinos são entregues.
Segundo relato antigo feito por um amigo e colega de turma do famoso navegador Amyr Klink, ambos formados em Economia pela USP, basicamente seus colegas de turma estavam ali visando concurso público. Aquele ambiente, que segundo seu colega Amyr, odiava pela superficialidade, pelo menos teve um lado bom, nos legou um dos maiores navegadores de toda a história.
O texto abaixo de Rodrigo Constantino publicado em 2017 no Jornal Gazeta do Povo corrobora tudo o que estamos mostrando aqui sobre o curso de Economia. Diz com outras palavras e de outra forma exatamente o que o amigo de Amyr Klink disse.
Link para o artigo do Jornal Gazeta do Povo
E O QUE AS FERROVIAS TÊM A VER COM ISSO?
Alguém já ouviu falar de Bernardo Figueiredo? Esse senhor é um economista, e está por trás do projeto do Trem de Alta Velocidade – TAV desde o governo de Dilma Rousseff. Sendo também responsável direto, na ocasião, pela criação da EPL — Empresa de Planejamento Logístico, empresa criada na época para, em teoria, ser a responsável pela implantação do TAV no Brasil. O Brasil viveu mais de 100 anos sem precisar dessa empresa, o que mudou para precisar agora?
Além de economista e de ser alguém bem-relacionado, o que esse senhor efetivamente conhece sobre o setor ferroviário? Conhece suas histórias? O que aconteceu no passado? O motivo da queda do setor ferroviário no Brasil? Os inúmeros prejuízos da RFFSA? Como foi administrada? Ou o episódio mais desconhecido da história das ferrovias, A Guerra das Bitolas?
Possivelmente não… mas esse Sr. foi um Economista, que pretendia gerir um investimento que na época chegava a 50 Bilhões de Reais e que justamente por chegar nesse valor acabou não acontecendo.
É esse Sr. que recentemente montou uma empresa para teoricamente gerenciar a construção do TAV, em tese com recursos da iniciativa privada, sem conhecer a fundo o setor e sem ter na composição societária da empresa alguém que tenha fundado empresas ferroviárias ou rodoviárias conhecidas, ou mesmo empresas construtoras tradicionais.
Lamentável ver que, assim como ele, diversos outros economistas formados evoquem para si um conhecimento ferroviário que não tem e, usando seu título como argumento de autoridade, propõe ideias inexequíveis.
Fica a pergunta. Quantos negócios, efetivamente, quem faz essas propostas administrou na vida?
Isso sem contar inúmeros “pitaqueiros” que, arvorando seu título de economista, vivem dando “pitacos” sobre o setor, a maioria inexequível.
A proposta atual do TAV apresenta inúmeras inconsistências tanto técnicas como financeiras, ele não se paga. Quem colocará dinheiro nisso?
Segunda Parte:
Os Economistas. E o que eles têm a ver com a Ferrovia?
Aqui começa uma parte do texto que, para quem não se interessa pelo assunto, pode ser um pouco cansativa. Mas quem se interessar em ler conhecerá nuances interessantes do que está acontecendo com a economia do país, e de como as informações que nos chegam são falseadas para a conveniência dos governos que as impõe.
As informações abaixo foram retiradas em sua maioria do site do Instituto Mises Brasil.
UM PEQUENO RESUMO SOBRE ECONOMIA
Para quem chegou até aqui e gostou do tema, informações escritas de forma simples, acessíveis à maioria, que têm muito a ver com nosso cotidiano e explicam muito do que é dito pela imprensa e pelos chamados especialistas. Leiam e reflitam.
AS 10 LEIS DA ECONOMIA
- Para consumir, é necessário antes produzir.
- O consumo é o objetivo final da produção.
- Não há nada que seja realmente gratuito.
- O valor das coisas é subjetivo.
- Sem poupança, não há investimento e sem investimento, não há acumulação de capital; sem acumulação de capital, não há maior produtividade e, sem mais produtividade, não há aumento da renda.
- Gastos são custos; o multiplicador da renda implica a multiplicação dos custos.
- O dinheiro, por si só, não é riqueza. Dinheiro é um meio de troca; riqueza é abundância de bens e serviços e bem-estar. O governo, ao criar mais dinheiro, não significa criar mais riqueza.
- O trabalho, por si só, não cria valor; para ter valor, um bem produzido tem de ser útil e demandado por consumidores que voluntariamente querem consumi-lo.
- No capitalismo de livre concorrência, o lucro econômico é o bônus extra que uma empresa ganha por saber alocar corretamente recursos escassos.
- Todas as leis genuínas da economia são puramente lógicas e, como tais, não precisam ser verificadas e nem podem ser empiricamente falsificadas.
Sociedades que entenderem e respeitarem essas 10 leis econômicas, sem tentar revogá-las, irão prosperar.
SOBRE ECONOMIA, O QUE É DITO E O QUE REALMENTE É DITO
a) Quando dizem que o governo deve estimular o crédito para salvar a economia, estão na realidade dizendo que a maneira de salvar a economia é aumentando o endividamento das pessoas. Crédito e dívida são nomes distintos para o mesmo, vista de lados opostos.
b) Quando dizem que um pouco mais de inflação gera mais consumo e emprego, estão na realidade dizendo que um aumento no custo de vida estimula as pessoas a contratarem mais serviços (como empregadas domésticas) e a irem mais vezes aos shopping centers.
c) Quando dizem que os salários, principalmente o salário-mínimo, devem ser aumentados por decreto, estão na realidade dizendo que o segredo para a prosperidade econômica é aumentar os custos de produção.
d) Quando dizem que as exportações devem ser aumentadas e as importações devem ser restringidas, estão na realidade dizendo que a quantidade de produtos à disposição da população nacional deve ser duplamente reduzida, gerando, no mínimo, mais carestia.
e) Quando dizem que o governo deve estimular a indústria nacional por meio de subsídios ou empréstimos subsidiados pelo governo, estão na realidade dizendo que o grande empresariado deve receber dinheiro de impostos do povo e, com isso, levar vantagem sobre os concorrentes menores.
f) Quando dizem que as empresas devem ser controladas por agências reguladoras, estão na realidade dizendo que essas empresas devem operar em um cartel protegido pelo estado, com preços garantidos e sem liberdade de entrada para potenciais concorrentes.
g) Quando dizem que um pouco mais de inflação gera mais crescimento econômico, estão na realidade dizendo que uma perda mais acentuada do poder de compra da moeda e uma maior incerteza quanto aos custos futuros estimulam mais empreendedores a fazerem investimentos produtivos de longo prazo.
h) Quando dizem que as tarifas de importação devem ser aumentadas e o câmbio deve ser desvalorizado, estão na realidade dizendo que o poder de compra da moeda deve ser reduzido, que o povo deve ser proibido de adquirir bens estrangeiros baratos e de qualidade, e que toda a população deve ter seu bem-estar afetado apenas para garantir uma reserva de mercado para o grande empresariado nacional.
i) Quando dizem que os agricultores devem ter os preços de seus produtos elevados por programas de compras governamentais, estão na realidade dizendo que toda a população do país deve ter sua comida encarecida.
j) Quando dizem que todos têm direito a saúde, educação e transporte gratuitos, estão na realidade dizendo que toda a população deve dar mais dinheiro para burocratas do governo, os quais irão repassar esse dinheiro (retendo para si uma fatia) para outras pessoas, as quais irão então prover esses serviços de acordo com critérios especificados por burocratas e políticos, e não pelos consumidores.
k) Quando dizem que as empresas devem utilizar mais conteúdo nacional em seus produtos, estão na realidade dizendo que os fornecedores desse conteúdo nacional têm direito a uma reserva de mercado, podendo assim elevar seus preços e reduzir a qualidade de seus produtos despreocupadamente.
l) Quando dizem que o caminho para a prosperidade é aumentar os gastos do governo, estão na realidade dizendo que o governo deve ou tributar mais as pessoas, ou incorrer em déficits. A tributação retira renda (logo, capacidade de consumo e investimento) das pessoas e empresas. Déficits significam que pessoas e empresas estão emprestando para o governo, em vez de utilizar esse dinheiro na própria economia. Significa também que os bancos, em vez de financiarem investimentos produtivos, estão financiando a folha de pagamento do governo. E, finalmente, significa também que haverá aumento de impostos no futuro para o governo poder arcar com o serviço dessa dívida.
m) Quando dizem que mais gastos do governo estimulam o empreendedorismo, estão na realidade dizendo que a contratação de mais burocratas e a criação de mais burocracia, mais leis e mais regulamentações incentivam a produção e levam a mais geração de riqueza.
CONCLUSÃO DA PARTE ECONÔMICA
Para se fazer uma verdadeira análise econômica, ambas as faces da moeda devem ser consideradas, de modo que todas as implicações de uma proposta sejam devidamente entendidas e estudadas. E isso raramente é feito.
CONCLUSÕES FINAIS
Concordamos que para quem não se interessa pelo assunto esse texto tenha sido cansativo, mas é preciso mostrar a todos a realidade do setor, onde advogados e economistas avocam para si um conhecimento do setor que não tem. Uma Advogada chegou a ser nomeada Secretaria de Transportes de um estado brasileiro. Nada contra, afinal esse mesmo estado teve um engenheiro como secretário, que pouco ou nada entendia do setor.
Mas é preciso compreender principalmente o que é hoje a profissão de Economista e entender o tipo de pitaco que essa turma pode dar na formulação de políticas ferroviárias e de logística, e entender também que essas pessoas formulam as políticas econômicas que a mais de 40 anos empobrece o país e a população, Roberto Campos foi extremamente sábio em suas palavras.
Entender o que leva esse tipo de cidadão ser nomeado para altos cargos públicos principalmente técnicos como a EPL, e entender o que eles podem propor, pode explicar muita coisa.
Antes de concluirmos efetivamente o texto, face ao recente falecimento de Delfim Neto, economista responsável pela formação de inúmeros dos economistas atuais, foi professor da USP, além de ministro da fazenda de alguns governos e consultor de outros, abaixo transcrevemos texto produzido por um de nossos consultores informais, pessoa a quem muito admiramos o Sr. Stephen Kanitz. Explica muito e corrobora o que escrevemos.
DELFIM NETO, E UMA EXPLICAÇÃO DO NOSSO FRACASSO COMO NAÇÃO
Em 05/08 morre Delfim Neto, economista mais poderoso e influente da história do Brasil. Ex-ministro da fazenda e conselheiro de alguns governos, foi professor da USP, e devemos a ele boa parte de nosso fracasso como nação. Abaixo, texto do Sr. Stephen Kanitz, que foi aluno de Delfim e que hoje mostra serenamente as bobagens que Delfim falava e sua influência em toda uma geração de economistas.
Leiam com atenção, entendam com isso os motivos de nosso fracasso como nação e o fracasso do setor ferroviário onde alguns economistas deram e continuam dando muito pitaco e os perigos de pessoas aceitando ideias desses economistas propondo coisas para o setor ferroviário.
Uma Aula Com Delfim Netto Na FEA
Quando ainda aluno na FEA assisti uma aula do Prof. Delfim Netto, que foi enigmática e explica o crescimento do socialismo no Brasil, e a estagnação de nosso crescimento por 50 anos.
“O livre mercado proposto pelos liberais é uma falácia.”
“Imaginem a confluência da Avenida São João e a Avenida Ipiranga, se os ideais liberais prevalecessem.”
“Seria um caos.”
“O livre mercado, como o livre trânsito, não funciona”.
“Todos os grandes cruzamentos das cidades, como da nossa economia, precisam de um “guarda de trânsito”, para orientar, intervir e disciplinar o mercado.”.
“Os liberais acreditam que motoristas, espontaneamente, irão criar alguma regra tipo 4 minutos para cá, 5 minutos para lá, ou que um motorista abnegado irá largar o seu carro por meia hora e dirigir espontaneamente o tráfego.
Ingenuidade de Hayek, Milton Friedman e Adam Smith.”
“Por isto, vocês, meus alunos, precisamos tomar o poder, pelo menos os principais cruzamentos estratégicos desse país.”
“Esta é a nossa missão como economistas, cuidar de todos os grandes cruzamentos da Economia Brasileira, para podermos evitar esses congestionamentos e o caos criado pelo mercado.”
“Precisamos tomar o poder do BB, Vale, Cacex, Tesouro, BNDES, CVM, Ministérios da Economia, Saúde e Educação, Sudene, Banco do Nordeste, Banco Central e A Própria Presidência da República, sermos os guardas do crescimento econômico, nas nossas mãos, e não na mão de motoristas abnegados.”
Os alunos saíram radiantes, eu inclusive, era um futuro promissor e poderoso.
Delfim, que era um Socialista Fabiano, mas só agora admite, estava não somente dando poder a um grupo de jovens, mas com um sentido humanitário e altruísta, que todo jovem adora. Poder para serem úteis para a sociedade, evitando o caos do livre mercado, proposto pelos economistas ingleses e americanos, que todos tinham que estudar na faculdade.
Até eu, futuro administrador, achei a lógica do Delfim muito convincente. Na época, havia o Socialismo e o Comunismo que defendiam tomar todas as ruas de um país. Mas este brilhante economista defendia tomar somente os cruzamentos estratégicos, e convenceu o governo militar a fazer o mesmo.
Com a ida do Delfim ao Governo Militar, esses seus alunos rapidamente aceitaram todos os convites e convenceram os militares a não convocarem eleições em 1966. Os adeptos do Delfim foram tomando praticamente todos os cruzamentos-chave da economia brasileira. Criaram Agências Reguladoras para cada setor da economia, temos guardas de trânsito em tudo o que é lugar. O aparelhamento do Estado não começou com o PT, começou com Delfim, e seus alunos muitos estão no poder até hoje.
Delfim levou os famosos Delfim Boys, economistas escolhidos a dedo para serem os “guardas” da economia. Os socialistas Fabianos achavam que o socialismo na mão do proletariado não funcionaria, o que de fato não funcionou. Mas na mão de professores inteligentes como Afonso Pastore, Arminio Fraga, Aloysio Mercadante, Pérsio Arida, estrategicamente colocados, funcionaria sem chamar muita atenção.
Os militares deixaram o poder, mas a estratégia do Delfim se mantém até hoje.
De 1965 a 1984, todos os presidentes do BNDES eram engenheiros, que sabiam avaliar os enormes projetos de infraestrutura deste país. De 1984 para cá, tivemos 25 economistas escolhidos pelo Projeto Delfim, a maioria nunca tendo sido nem gerente de banco.
Fiquei fora do país por três anos, cursando a Harvard Business School, e quando voltei pude perceber por acaso a falácia do Delfim. Entre a minha casa e a USP, onde voltara a ser professor, havia 35 cruzamentos estratégicos. 34 controlados por um simples semáforo, que possuía uma regra, uma lei pré-determinada. Mas tinha um único cruzamento na Praça da Árvore, Rebouças com Avenida do Jóquei, que era controlado por um “guarda de trânsito”. Era a mais demorada e imprevisível justamente porque tinha um “economista no poder”. Ficávamos 4 minutos para atravessar a rua, quando na maioria dos semáforos era de 30 segundos.
Aí percebi por quê. Depois de algum tempo o guarda se enchia. Ser guarda de trânsito deve ser a profissão mais chata do mundo. Logo, o guarda percebia que “dar preferência para alguns”, era uma forma de poder.
E dito e feito.
Quantas vezes a gente percebia que a Rebouças já estava vazia, mas o “guarda” chamava um táxi solitário, e mantinha o sinal até ele poder passar. E o táxi passava sorridente, agradecendo o favor recebido. E de favores em favores, o Delfim ficou cada vez mais poderoso e foi o Czar da Economia por muito tempo. Como todos nós sabíamos desta regra, depois de 1 min e 45 segundos já engatávamos a primeira marcha e prestávamos atenção. Mas com economistas no poder, nunca sabíamos o que poderia acontecer. Um congelamento, uma maxi, um sequestro de todo o nosso dinheiro no Banco, um imposto retroativo, enfim.
A partir de 1965 o Brasil se tornou um dos países mais instáveis do mundo. José Serra, outro Socialista Fabiano, calculou que nos últimos 50 anos a política econômica mudou nada menos que 164 vezes. Nós administradores, em vez de colocar um administrador em cada cruzamento estratégico da economia, e morrer de tédio, teríamos há muito tempo colocado semáforos inteligentes. Que pasmem, graças a Delfim, ainda não temos. Não faz parte de nossa cultura aprender lentamente o fluxo de tráfico do momento e ir mudando a regra conforme o mercado.
Empresas administradas são exatamente isto. Criamos sistemas que andam sozinhos, que aprendem e se adaptam espontaneamente a mudanças de mercado. Esta é a grande diferença entre Administração e Economia.
Hoje temos os resultados: uma economia 50% centralizada, parada, personalista, corrupta, que depende de favores e incentivos dos “guardas estratégicos”. Pior, temos uma economia cheia de gargalos! Gargalos nos aeroportos, energia, estradas, educação, hospitais, falta tudo e temos filas para tudo. Temos congestionamentos e filas, justamente naqueles pontos tomados pelo “Projeto Delfim”.
Delfim faleceu ontem, mas seu legado continuará firme por mais 50 anos.
PARA CONCLUIR, UMA TRAPAÇA: O PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA
Vocês sabiam que Alfred Nobel, o homem que inventou a dinamite, que com essa invenção ficou rico e depois arrependido com o uso que era feito dos explosivos em guerras, cria uma fundação responsável por anualmente entregar o prêmio Nobel, para profissionais que se destacam em diversas áreas do conhecimento, mas de todos os Prêmios Nobel, ele NÃO CRIOU O PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA? Sim esse prêmio nada tem a ver com a fundação Nobel.
Abaixo mais um texto do Sr. Stephen Kanitz explicando melhor isso:
“Nesta semana, todos os jornalistas destacaram três economistas que receberam 1 milhão de dólares em dinheiro público, concedido pelo Banco Central da Suécia. Erroneamente divulgado como um Prêmio Nobel, o que não é verdade. Esse prêmio é, na realidade, uma estratégia de marketing, pois seu verdadeiro nome é Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, e não um Prêmio Nobel tradicional. O artifício foi alegar que o prêmio seria uma homenagem a Alfred Nobel, o criador do Prêmio Nobel, gerando uma confusão intencional. A desonestidade está no fato de que Alfred Nobel não foi homenageado por inventar a dinamite, mas por ter criado o próprio Prêmio Nobel, em um gesto de remorso por ter inventado a dinamite.”
Aos que chegaram aqui, nosso muito obrigado.
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