ESTE SITE SERÁ DESCONTINUADO EM BREVE. FAVOR ACESSAR trilhosdorio.org
Tempo de leitura: 6 minutos

O fim da estação ferroviária Leopoldina? Nada é feito, tudo é proposto, mas nenhuma iniciativa honra a função local e o nome Barão de Mauá…

Continua após a publicidade

Resumindo, em poucas e breves palavras.

Recentemente foi publicado um vídeo pela prefeitura do Rio de Janeiro com a proposta a ser apresentada aos “responsáveis” pela estação Barão de Mauá/Leopoldina em breve. Este impasse em relação ao destino da estação vem desde 2001, quando a Supervia deixou de operar trens em seu pátio e plataformas, após um incidente em que um trem invadiu a gare, danificando parcialmente o prédio.

Décadas sem passaram e todo o acervo em material rodante, arquivístico e arquitetônico foi abandonado e vem se perdendo com o passar do tempo. E ninguém se acerta, seria proposital? Parece óbvio, mas não afirmaremos… enquanto se cobrava o governo federal, este recomendava procurar o governo estadual, que recomendava procurar a Supervia, que recomendava procurava o governo federal, e assim o requisitante foi sendo ludibriado. Recentemente a Supervia passou a não ser mais responsável por parte do prédio, ficando tudo praticamente nas mãos do governo federal e do governo estadual, mas a situação vergonhosamente não mudou. 

Até que há pouco tempo a prefeitura do Rio de Janeiro entrou no jogo. Só que o que antes parecia ser uma solução, tornou-se um pesadelo maior ainda: após apresentar uma proposta de converter o local em um empreendimento chamado “Cidade da Cerveja”, a prefeitura agora quer comprar da União o terreno e o prédio, e intervir na degradação e abandono, revertendo a situação.

A questão é que… a estação não será mais estação, o terreno não será mais pátio ferroviário, os trilhos não serão mais vetores de desenvolvimento e uma possibilidade de expansão de serviços regionais, de média distância ou até de longa distância.

Se no futuro poderíamos ter trens novamente, dignos, ligando capitais de estados e cidades do interior, com essa proposta não será mais possível: estes serviços ficarão eternamente na memória de quem viveu esta época e fazendo parte dos livros de história (e pior, como algo ultrapassado, que não servia, que não era bom, e que por isso foi extinto, algo muito longe da verdade). Ou alguém acha que a estação Central do Brasil, bela e imponente mas praticamente saturada, terá a possibilidade de ter serviços de média e longa distância, com trens rápidos? E sem essa de Trem-Bala, por favor!

Vejam o vídeo apresentado pela prefeitura:

Notem que tudo é maravilhoso nas imagens, e “uma imagem vale mais que mil palavras“. A estação restaurada e reformada, belíssima. Um Centro Cultural em seu interior, trazendo lazer e informação à população. Ótimo, concordamos e somos a favor. Ao lado, um Centro de Convenções… interessante, mas há poucos metros já existe algo similar, pra que outro? No terreno onde ficava o pátio da estação Alfredo Maia e onde hoje estão as aduelas da Linha 4 do Metrô a pretensão é construir uma escola técnica, blocos de habitações populares e uma segunda Cidade do Samba, destinada às escolas de samba do Grupo de Acesso… como assim???

A questão não é que os governantes não aprendem com os erros, aparentemente seria isso, mas na verdade o propósito é o contrário! Vejamos alguns fatores, ao invés de argumentos, para ilustrar esta questão:

  • Construir um Centro de Convenções ao lado da estação Barão de Mauá atrairia investidores e eventos ao local, na entrada da cidade, fácil acesso;
  • Construir blocos de prédios populares resolveria parcialmente o problema da habitação na cidade;
  • Criar uma escola técnica ajudaria na educação e preparação de futuros profissionais na área;
  • Restaurar e implantar um Centro Cultura na estação traria cultura e história para o prédio;
  • Este local tem excelente localização, acessível a todas as zonas da cidade e a outros municípios do estado;
  • Os trens apresentados no vídeo, propositalmente, são de uma época em que as ferrovias não estavam recebendo investimentos nem melhorias, ou seja, cumpriam suas funções mas de forma que estava começando a ser decadente.

Isso é tudo que o vídeo apresenta. E temos que concordar que é muito bem feito, cativante, para convencer. Mas acordem!!! A intenção é exatamente esta, mostrar um sonho que não existe!!! E adquirir o terreno, revendendo-o em seguida para a iniciativa privada, construtoras e outras empreendedoras. é um negócio de milhões de reais e um ótimo negócio para a prefeitura.

A intenção deste texto não é denegrir a figura dos administradores públicos, eles já não tem aprovação perante à população mas acham que tem… na realidade tem dois outros motivos:

  • Por que mesmo com tudo que acontece e vem acontecendo há várias décadas no estado, com extinção de ferrovias e piora na qualidade de vida diretamente ligado a essas erradicações (como mais lentidão, poluição, acidentes e congestionamentos em rodovias; logística deficiente dependente de caminhões; abandono de prédios históricos; morte de localidades inteiras após o fim dos trens que as atendiam; regressão tecnológica em transportes; e diversos outros fatores), nada é feito ou requisitado pela população? Internet! Redes Sociais! Mensageiros instantâneos! Uma infinidade de recursos disponíveis e… silêncio. Somos tão oprimidos assim?
  • Por que com dezenas de milhares de seguidores em redes sociais, não apenas nas mídias Trilhos do Rio, mas em diversas outras entidades e instituições, nada é sugerido, apresentado, ou ao menos algo é produzido nesse sentido?

Vejam bem, analisem o vídeo publicado acima e percebam: a propaganda é muito bem feita, sempre. A proposta parece maravilhosa, a locução é sedutora e hipnotizante, as imagens são belíssimas, uma produção muito bem feita, parabéns aos envolvidos! Mas, mais uma vez, acordem! ACORDEM!

As ferrovias mostradas na produção são arcaicas para os dias de hoje, ainda da época da Leopoldina, que atendiam satisfatoriamente na ocasião, mas por falta de investimento e modernização, estavam em queda e foram extintas!

E isso que o vídeo quer mostrar, que os trens não prestam, não servem, que são coisas do passado!

Continua após a publicidade

O poder de convencimento orquestrado pelas autoridades é muito grande, para isso existem estes profissionais, bastante competentes. E por que não temos isso na causa ferroviária??? Alguém que produza vídeos convincentes, que mostrem realmente os benefícios que as ferrovias podem trazer à coletividade, a toda a população? São poucas iniciativas neste sentido, normalmente abafadas e pouco publicadas. Aqui no site Trilhos do Rio apresentamos algumas propostas e projetos, talvez se fossem mais lidos e compartilhados pudessem alcançar mais mentes pensantes e influentes. Mas independente de dogmas ou instituições, precisamos nos unir ainda mais e nos fortalecer, o futuro será sombrio se nada for feito a partir de ontem, literalmente. Não podemos permitir que as ferrovias, com todos os benefícios e recursos que podem proporcionar, sejam daqui a pouco tempo apenas memórias de quem viveu ou façam parte dos livros de história.

Enquanto isso, os países desenvolvidos possuem ampla e eficiente malha ferroviária, tanto para cargas quanto para passageiros… seria coincidência? Claro que não…

Compartilhem. Se você, prezado leitor, não tiver recursos ou disponibilidade para ajudar produzindo vídeos conceituais, imagens e propostas convincentes, ou mesmo ajudar presencialmente em alguma instituição, ou contribuir de qualquer outra forma, apenas compartilhe a informação.

 

No futuro podemos estar celebrando ou lamentando mudanças, e isso depende de todos nós.

 

Loading

Autor

  • Daddo Moreira

    Formado em Arquivologia, pós-graduando em Engenharia Ferroviária, técnico em TI, produtor e editor multimídia, webmaster e webdesigner, pesquisador e historiador informal. No começo dos anos 2000 se aprofundou na área de mobilidade e transportes (e a preservação histórica inerente ao assunto, sobretudo envolvendo os transportes sobre trilhos), e a partir de contatos pessoais e virtuais participou de, e formou, grupos voltados para a disseminação do assunto, agregando informações através de pesquisas presenciais e em campo. Em 2014 fundou formalmente a AFTR - Associação Ferroviária Trilhos do Rio onde reuniu membros determinados a lutarem pela preservação e reativação de trechos ferroviários, além de todos os aspectos ligados às ações, como o resgate da memória e cultura regional, melhoria na mobilidade e consequentemente na qualidade de vida da população, etc Foi presidente e é o atual coordenador-geral da AFTR Não se considera melhor do que ninguém, procura estar sempre em constante evolução e aprendizado, e acumula experiências sendo sempre grato aos que o acompanha e apoia. "Informação e conhecimento: para se multiplicar, se divide"

    Ver todos os posts

One thought on “Os trens e trilhos não voltam: adeus à estação Barão de Mauá?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

cinco × 3 =

Previous post A novela Leopoldina: Prefeitura inclui prédios, Cidade do Samba e Centro Cultural
Next post Metrô Rio vende cartões exclusivos para embarque no Reveillon
error: Este conteúdo não pode ser copiado. Caso use o arquivo, por favor cite a fonte.