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Por Mozart Rosa, engenheiro
Carlos Eduardo, professor 
Thales Veiga, arquiteto

Um breve histórico dos Bondes no Brasil e no mundo.

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Você gosta de transporte sobre trilhos? Conhece Santa Teresa? Acha um absurdo a operação do Bonde, ser do jeito que é?

Então entenda o que aconteceu, mas primeiro vamos ver um pouco de história:

Frank Julian Sprague: já ouviu esse nome? Certamente não, e nem adianta pesquisar na Wikipédia ou em outro lugar pois a história costuma ser cruel com algumas pessoas e foi bem cruel com Frank Sprague, não tendo suas descobertas merecidamente reconhecidas, feitas em benefício da humanidade.

Frank Julian Sprague

Frank era militar da Marinha Americana e estava na Inglaterra quando foi inaugurado o Metrô de Londres. Aquilo o deixou maravilhado mas ao mesmo tempo preocupado e perplexo. Afinal, o Metrô de Londres nada mais era que uma linha de trem semi-subterrânea operando com locomotivas a vapor, sujas e barulhentas, o que para a época poderia ser o máximo de tecnologia mas que os próprios ingleses, como mostram recortes de jornal, reconheciam ser no fundo um tremendo quebra-galho.

Em 10 de janeiro de 1863 foram inaugurados os 6 primeiros kms do Metrô de Londres, usando ainda o vapor como tração

Frank era um estudioso daquela nova descoberta científica chamada eletricidade, e já vislumbrava a possibilidade de que aqueles veículos barulhentos e sujos pudessem ser movidos à eletricidade, por meio de motores elétricos. Voltando para os Estados Unidos ele pede baixa da marinha e consegue emprego nos laboratórios de Thomas Edison, onde paralelo ao seu trabalho lá inicia o desenvolvimento de seus motores.

Thomas Alva Edison (1847-1931)

Um motor elétrico convencional, seja o motor de uma batedeira seja o motor de patinetes, se chama motor de gaiola de esquilo, ou motor de indução. Já os motores de trens e bondes tem características técnicas diferentes, e Frank desenvolveu tais motores. Logo após se desligou dos laboratórios de Edison e partiu em busca de seu sonho.

Frank não inventou apenas o motor elétrico do Bonde, inventou o próprio conceito de Bonde:

  • Inventou a alimentação por rede aérea;
  • Inventou o mensageiro;
  • Inventou variadores de velocidade, para variar a velocidade dos veículos;
  • Inventou sistemas de frenagem por fricção usados nesses veículos por muitos anos.

Foi ideia dele aproveitar a estrutura das carroças, puxadas por cavalos que corriam em cima de trilhos, para a partir desses veículos criar os bondes elétricos com 35 passageiros. Frank efetivamente inventou o Bonde, e todos os componentes que fazem parte do sistema. Daí a grande injustiça das comunidades acadêmicas e cientificas com seu esquecimento.

Fonte: State Library Victoria

A primeira aplicação pratica de seu bonde elétrico se deu em Richmond, cidade americana com topografia parecida com São Paulo. Ali foi seu laboratório, mas posteriormente conseguiu um contrato em Boston que, por sua vez, originou o metrô de Boston: o primeiro dos Estados Unidos.

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Postal mostrando uma linha de bondes em Richmond, Virginia, no ano de 1914

Antes de continuarmos vamos fazer alguns esclarecimentos: Bonde é um nome usado apenas no Brasil. Seu nome correto deveria ser VLT versão I. E para trazer a coisa para nossa realidade deveríamos chamar o atual VLT de Bonde Versão VII.

Abaixo uma minuciosa explicação histórica fornecida pelo Arquiteto e pesquisador Thales Veiga, profundo conhecedor do assunto. Thales também é natural da cidade de Santos-SP, cidade que tem o Museu Vivo dos Bondes, um museu a céu aberto com vários exemplares, de diversas épocas e países, disponíveis para passeios pela cidade.

A evolução do bonde e suas diversas gerações

A geração I de bondes foi daqueles elétricos bem primitivos, experimentais. O Brasil não teve deles. Inauguramos todos os sistemas de bondes do Brasil, sem exceção, com a geração II, que eram bondes pequenos e abertos. Santa Teresa é um exemplo, Depois houve a Geração III com bondes ainda abertos, porém maiores e mais modernos nos equipamentos. A Geração IV foi a dos bondes fechados, geralmente em aço, lá pelos anos 1930. A Geração V é a do pós-guerra, com os PCCs e PCCs II, como citados mais acima nessa matéria. E o que a sigla PCC significa? Não pense errado, na verdade significa President’s Conference Car.

PCC da B.C. Electric Railway, em Vancouver, Canada. Ano de 1939

Depois da segunda guerra os bondes nos EUA estavam decadentes e o governo americano se reuniu, e projetou, um novo tipo de bonde para equipar as linhas das principais cidades. Logo depois, dentro do projeto de reconstrução da Europa no pós-guerra, pegaram o projeto da parte mecânica deles e diminuíram de tamanho para rodar nas ruas estreitas da Europa, dando origem aos PCC II.

A Geração VI é a dos primeiros VLTs nos anos 1970. E a Geração VII é a dos VLTs atuais.

O que houve até aqui:

  • Geração II pura em todos os sistemas;
  • Modernização de alguns bondes de Geração II para Geração III;
  • Geração III “pura”, geralmente construída nas próprias oficinas da empresa como a Light em SP, a Light do Rio (os cara-dura) e a City em Santos;
  • Modernização de bondes de Geração II e III para Geração IV em algumas cidades;
  • Geração IV pura em São Paulo e Porto Alegre apenas.

Paramos aí. De Geração V só tivemos 2 bondes no Brasil: os que vieram de Turim na Itália para a linha turística em Santos-SP, em 2006. Geração VI só os dos pré-metrô do RJ e Campinas, e os VLTs de Santos, Rio de Janeiro e Cuiabá são pertencentes à geração VII.

VLT de Cuiabá-MT, exemplar da Geração VII do Bondes
Fonte: Wikipedia

Em Santos existem 4 bondes que rodaram originalmente na cidade: os de nº 38, 40 e 46 são bondes originalmente de Geração II que foram modernizados para Geração IV nos anos 1950, se tornando fechados, com portas automáticas etc. O de nº 84 foi um de Geração II que virou Geração III, continuando fechado mas ganhando para-brisa, freios novos, iluminação elétrica.

Abaixo alguns exemplos de Geração de Bondes operantes até hoje em outros países:

PCC I – Atualmente existentes apenas nos EUA e Canada

PCC II – articulado até hoje na Bélgica e na Europa em Geral ainda em uso apesar de seus 70 anos

PCCIII – Produzido originalmente pela divisão da Fiat fabricante de veículos ferroviários, posteriormente adquirida pela Alstom


Agradecemos a atenção até aqui, esperamos que tenha feito uma boa leitura. Esta é a primeira parte, convidamos a acompanhar a continuação dos próximos capítulos dessa série, clicando nos links a seguir:

Parte II

Parte III (Final)

Imagem destacada: Primeira viagem do Bonde elétrico de São Paulo, em 06 de maio de 1900. Fonte: Brasiliana Fotográfica

 

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O Bonde no Brasil e no mundo (1): sua história

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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