Tempo de leitura: 7 minutos

Por Mozart Rosa, engenheiro
Carlos Eduardo, professor 
Thales Veiga, arquiteto

Após a leitura, estudos, pesquisas e constatações chegamos a algumas conclusões e propomos assim a adoção de ações que são simples de se implantar e viabilizam uma futura privatização do sistema. A ação inicial é resguardar o Bonde histórico. Não defendemos, de modo algum a retirada do Bonde Histórico, modelo “Bataclan” ou “Bonde tropical” de serviço. Apenas que ele não seja mais a ESSÊNCIA da frota, e sim uma exceção usada em pacotes turísticos fechados, datas comemorativas, eventos… mas em operação convencional, para o usuário em geral, apenas UMA VIAGEM POR DIA e nos finais de semana, sempre com um Policial Militar em seu interior.

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Propostas da AFTR – Trazendo o Bonde Para o Século XXI

O Bonde de Santa Teresa do ponto de vista operacional que pode alcançar é um fracasso técnico e comercial, transportando atualmente 3.000 passageiros/mês em bondes caros, verdadeiras gambiarras. Talvez seja o menor sistema de transporte público do Brasil. Já deveria ter sido remodelado mas, como mostrado. forças políticas espúrias impediram isso.

Nossas propostas visam por meio de uma série de pequenas intervenções, aliadas à compra de novos veículos, aumentar a utilização atual de 3.000 passageiros/mês para 525.000 passageiros/mês, tornando o negócio atraente para o empresariado, que será o responsável por concluir as intervenções para a melhoria do sistema.

Inicialmente será preciso iniciar a troca da frota por veículos modernos, FECHADO, biarticulados e de operação bidirecional com capacidade para 120 pessoas, eliminando assim a necessidade de “pêras” de manobra. A tecnologia e engenharia atual permite usarmos bondes modernos fechados, com amplas janelas, mas com a frente imitando os modelos antigos.

Não importa quanto surjam opiniões contrárias dos moradores ou de outros entusiastas: são vidas em risco e a operação com os veículos atuais é e sempre será deficitária, e em muitos casos insegura. É preciso uma postura firme do governo estadual. Lembrando que os Bondes atuais, réplicas dos antigos, não deverão sair de circulação, o que não defendemos. Defendemos que eles não sejam aposentados, mas que para o serviço comercial de passageiros se deva utilizar um sistema mais moderno.

Abaixo propostas de ações para ampliação do sistema

1ª Ação – Nova Estação Terminal

Nossas propostas começam com a mudança da estação Terminal do local atual, escondido e com pouca visibilidade, para a Praça do Expedicionário, ao lado do fórum do Rio. A estação atual foi colocada ali de forma provisória, a pedido do ex-governador Chagas Freitas na ocasião da construção da estação do Metrô e de readequações urbanísticas feitas em toda a região do Largo da Carioca, e acabou virando estação definitiva.

Atual terminal dos Bondes de Santa Teresa
Foto: Julia Lanz

Pode ainda o Bonde descer pela Rua Almirante Barroso e subir pela Av. Nilo Peçanha, tendo uma grande estação na Praça Melvin Jones, em frente à futura sede da ALERJ e se integrando ao VLT. Aqui não apresentamos nenhuma novidade, é o retorno a uma operação já existente, dando assim visibilidade ao Bonde que atualmente está praticamente oculto. Santa Teresa tem enorme vocação para o turismo com vários Hostels já existentes e vários outros podendo ser construídos. Mas o transporte ruim atrapalha o desenvolvimento desse setor, e o Bonde pode fomentar isso.

É um trajeto de mão dupla, de um lado pessoas querendo subir para conhecer o Bairro, do outro hospedes querendo descer para o centro. E área mais central da cidade do que a escolhida para a nova estação, impossível!

Esse novo local de terminal cria uma inédita integração com o VLT, cumprindo sua intenção de integrar todos os modais.

 2ª Ação – Estação Nerita Kelly

A ESFECOEstrada de Ferro Corcovado tem feito vultosos investimentos para aumentar o volume de passageiros transportados. Recuperando a Estação Nerita Kelli será possível criar uma linha expressa fazendo a ligação Centro x Silvestre. Entretanto não temos ainda, estudo sobre o aumento de passageiros transportados pela ESFECO com essa proposta.

Estação Silvestre/Nerita Kelly, integração Bonde de Santa Teresa e EF Corcovado

Uma inédita ligação expressa Centro do Rio x Cristo Redentor acreditamos ser algo que interesse a ESFECO.

Essa linha será usada também para operações convencionais. A Estação Nerita Kelli, além de estação mista de acesso ao Corcovado, funcionará como base da PMRJ que atualmente no mesmo local possui um contêiner para guarnição da tropa. O espaço também servirá para venda de souvenires e outras conveniências.

Além disso uma operação confiável e regular possibilita retirar os ônibus que atualmente atendem a população do bairro e que, com seu peso, destroem o calçamento e pavimentação da região.

Um serviço confiável saindo do centro em local de extrema visibilidade incentivara o uso do modal. As pessoas esquecem que o bonde existe, por estar escondido, e vejam que mesmo assim ainda o usam. Imagina com maior visibilidades ? E essa é uma opinião endossada por vários Guias de Turismo.

3ª Ação – Ramal Gomes Freire

O retorno da operação do ramal Muratori, podendo chegar na Av. Gomes Freire, atende ao turista e ao morador local e pode, dependendo do trajeto escolhido, servir como opção de modal de trajeto curto em trechos do Centro da cidade, aumentando o faturamento do sistema. O VLT por conta disso, e a cada dia, conquista mais pessoas, com a interligação da região central da cidade e sua velocidade, que hoje é maior que em seu início de operação. O mesmo pode acontecer com o Bonde de Santa Teresa. É possível ainda com essa linha se chegar a Central do Brasil ou a igreja de São Jorge, na Saara, aumentando as possibilidades comerciais do negócio.

4ª Ação – Ramal do Alto da Boa Vista

É possível também no futuro estender a operação da estrada das paineiras até o Alto da Boa Vista chegando a Floresta da Tijuca, outro cartão Postal do Rio de Janeiro. E ainda por cima saindo do Centro do Rio, o que para o Turista é fundamental. Lembrando que no Alto da Boa Vista existe um prédio atualmente com outro uso que foi sede de oficina dos bondes que serviam o local.

Considerações Finais, Aspectos Comerciais.

Um sistema que transporte 525.000 passageiros mês, ou aproximadamente 17.500 dia, mesmo com viés de alta, não tem grande apelo comercial. Financeiramente é algo pequeno, mas pode despertar interesse pela visibilidade da operação. É um modal turístico conhecido internacionalmente mas que está hoje, por questões políticas do passado, pessimamente utilizado e operado. Um sistema que totalmente recuperado, pelos locais que passa e pelos locais que pode passar, tem um grande interesse turístico.

O VLT Rio, a ESFECO, ou ambas em parceria, são fortes candidatos a absorver o serviço usando inclusive a mesma forma de cobrança.

Pelas características do sistema, um sistema de cobrança como o VLT parece ser bem adequado. Hoje é um passivo, que com essas modificações pode se tornar um ativo valioso, com visibilidade internacional. O uso no sistema de alguns veículos mistos: Cremalheira x Livre aderência, como mostrado em nossos vídeos anteriormente, viabiliza a ampliação substancial do sistema, podendo chegar ao bairro da Glória. E nada impede a criação de novos trajetos.

Agradecemos a leitura, e esperamos ter a sua companhia nos nossos próximos artigos.

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Até a próxima !

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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