Tempo de leitura: 9 minutos

Por Mozart Rosa, engenheiro
Carlos Eduardo, professor 
Thales Veiga, arquiteto

Abaixo uma explicação disponível na Internet sobre a origem do nome Bonde. Podemos afirmar, após pesquisas, que ela está correta mas desconhecemos o autor:

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Bondes no Rio de Janeiro

O nome BONDE surgiu em meados de 1872. Naquela época as passagens custavam 200 réis, e não existiam moedas de prata cunhadas deste valor em circulação. Assim, a empresa emitiu pequenos cupons ou bilhetes em grupo de cinco, pelo preço de um mil réis, devido à grande quantidade de cédulas deste valor em circulação.

Os bilhetes, ricamente ilustrados impressos nos EUA, eram conhecidos como “Bonds”, (bônus, ação).

Exemplo de bilhetes de passagem dos Bondes de Niterói
Fonte: Coleção Allen Morrison

A própria empresa denominava por “Bond” os tais cupons, por entender que representava o compromisso assumido de, em troca desse bilhete, transportar o portador em de seus veículos. Com o tempo o povo passou a denominar o próprio sistema ferro-carril urbano como Bond, designação que mais tarde se consagrou com o neologismo “Bonde”. Neste caso aconteceu com o nome Bonde o mesmo que o nome Gari, que do Rio de Janeiro se espalhou para o Brasil.

O Bonde de Santa Teresa

O Bonde de Santa Teresa faz parte da geração II de Bondes elétricos implantados no mundo. Bondes iguais aos nossos existiam em São Francisco nos EUA, por exemplo. Entretanto, com o Terremoto de 1906 ocorrido lá, todos foram destruídos e trocados pelos modelos de terceira geração.

Bonde (Cable Car) de São Francisco
Fonte: Na dúvida, embarque

A última grande reforma feita no sistema foi na gestão Marcelo Alencar, realizada pelo Engº Luiz Paulo, atual Deputado Estadual. Antes disso, na década de 1980 durante o Governo Moreira Franco, o serviço foi licitado para uma concessionária. Esse foi um dos primeiros processos de licitação de serviço público do Rio de Janeiro nos tempos modernos. Na ocasião o grupo ganhador foi o grupo empresarial então dono da rede de postos Itaipava, atualmente inexistente. Contudo o negócio não foi à frente e o contrato foi cancelado por pressões dos moradores, liderados por um então desconhecido Professor de história e atual Deputado Federal que ali iniciou sua carreira política. Foi uma pena pois era previsto o uso de Bondes modernos e fechados, com equipamentos de segurança inexistentes nos bondes da época e inexistentes nos bondes acidentados em 2011.

Acidente com o Bonde de Santa Teresa ocorrido em 29/08/2011, paralisando o serviço por vários anos

Um conhecido engenheiro mecânico, já falecido, e fundador de uma grande empresa de tratamento térmico do estado do Rio de Janeiro, começou sua carreira profissional como artífice da antiga CTC (Companhia de Transportes Coletivos). Cresceu, montou sua empresa, e foi durante anos o responsável pelo tratamento térmico dos fundidos utilizados nos freios dos Bondes. Já em 1980 reclamava da dificuldade em conseguir dar a esses fundidos a dureza necessária, para garantir a frenagem. Lembremos que o sistema de frenagem original não era pneumático.

Revitalização do modal BONDE na Cidade do Rio de Janeiro

Identidade visual: Da primeira geração do elétrico até a geração III (dos bondes “cara-dura” da light, em madeira), quase nada foi mudado na concepção do desenho do veículo formando-se uma FORTE IDENTIDADE VISUAL, identificando-se o “ser” bonde com tais veículos. Com o modelo “Bataclan” (geração II), dos quais cerca de 30 continuaram circulando no Rio como nos bairros de Campo Grande, Alto da Boa Vista e Santa Teresa (apenas os últimos sobreviveram), essa identidade visual foi cimentada nas novas gerações e protegida por lei. O único bonde de geração IV a circular no Rio, o fechado e metálico “Rita Pavone”, não chegou a marcar sua época, além de pecar por ser extremamente parecido com qualquer modelo de ônibus urbano elétrico de então. Imaginava-se que, se o bonde era pra ser uma ‘imitação” de ônibus, mais prático e barato seria colocar um ônibus real para circular naqueles lados.

Bonde apelidado “Rita Pavone”, circulando na linha do Alto da Boa Vista na década de 1960.
Fonte: coleção do saudoso Allen Morrison

Mas apesar de muitos se esquecerem o bonde fechado SEMPRE EXISTIU, na versão do modelo “Taioba” um reboque leve, desmotorizado, com uma grande porta central, janelas e bancos longitudinais. Em países asiáticos e nos EUA, bem como na própria América do Sul, os modelos fechados sempre foram preferidos aos abertos.

Bonde fechado do tipo “Taioba” com destino a Lins de Vasconcellos
Arquivo Brício de Abreu

Os problemas decorrentes do obsoletismo técnico geraram uma série de transtornos na operação, que se tornou deficitária, ao mesmo tempo que a operação por parte da CTC entrou em um grande dilema: se mudassem a “cara”, a identidade visual do bonde, o meio de transporte perderia o sentido (seria mais prático e barato operar ônibus). Por outro lado, a dificuldade em adaptar o bonde aos novos tempos (grande progresso técnico acompanhado infelizmente de grande retrocesso na questão da urbanidade da população) se tornava ainda pior pela total falta de investimentos em um sistema considerado “fóssil”.

Bonde elétrico, Rio de Janeiro (local exato desconhecido)
Fonte: Augusto Malta, acervo Brício de Abreu

Após o terrível acidente que vitimou fatalmente várias pessoas no ano de 2011 imaginou-se, junto com técnicos da Cia Carris de Lisboa, uma modernização do veículo em si. Mas ao contrário do Rio, em Lisboa temos 100% da frota fechada, um convívio harmônico entre veículos centenários, modernizados e VLTs.

Veículos em plano inclinado também fazem parte da frota operada pela Cia.Carris de Lisboa
Fonte: Viaje na Viagem

Os bondes que estão rodando hoje em Santa Teresa, ou que estão em estoque, NÃO SÃO ORIGINAIS, são réplicas. Foram muito bem construídos, mas não se resolveu o problema de serem abertos.

E POR QUE há Problema em serem abertos?

Os riscos ao usuário hoje são muitos, se comparados aos imagináveis nos anos 1890. Contudo é bem verdade que nenhum veículo urbano comum resistiria a projéteis de armas de fogo, infelizmente e tragicamente um risco real e comum na realidade atual, mas por outro lado é verdade também que a falta de carenagem expõe o usuário, especialmente o que se acomoda na berlinda dos bancos, como:

  • Pedradas;
  • Furtos;
  • Agressões físicas gratuitas;
  • Evasão de renda;
  • Desembarque irresponsável;
  • Arremesso de líquidos;
  • Assédio sexual físico;
  • Ou ainda pior… ser “cuspido” do veículo em caso de abalroamento ou descarrilamento, sem falar no terrível cenário do bonde “virar”. A falta de carenagem pode ajudar as equipes de socorro, mas por outro lado aumenta significativamente as lesões e fatalidades num acidente extremo.

Lembremos do turista Francês, que caiu do Bonde nos Arcos da Lapa por olhar a paisagem pendurado.

Fonte: G1

Para resolver a questão acima a CENTRAL LOGISTICA adotou uma espécie de “barra” que, atravessado nos balaústres do bonde, pode proteger as pessoas de serem eliminadas. Apesar de toda boa vontade e nobreza de intenções dos engenheiros da T’Trans, tal método mostrou-se ineficaz e irritante, atrapalhando a característica mais básica do veículo: o embarque e desembarque simples e imediato.

Por outro lado os bondes “cara-dura” da Light, e os “Bataclans” de Campo Grande JÁ ERAM FECHADOS, com malha rígida de aço no lado esquerdo (o lado que dá para rua) desde meados dos anos 1940, sem que houvesse registro algum de reclamações ou insatisfações por parte dos usuários, justamente para protegê-los dos crescentes conflitos com os automóveis.

O Bonde 13 – Ipanema passando pelo Túnel Novo
Fonte: Saudades do Rio

Mas efetivamente qual foi o motivo do Fracasso e Desativação dos Bondes ?

Antes de falarmos sobre propostas futuras, é preciso entender o passado. Porque os bondes acabaram realmente? Sempre voltamos a Getúlio Vargas e suas trapalhadas. Getúlio, a quintessência dos populistas, resolve no seu período ditatorial congelar os preços das passagens. Congelamento nunca funciona, nem nunca funcionou, vide o congelamento do período José Sarney. A Light, e outras empresas que operavam bondes, sem poder repassar os custos para as passagens, simplesmente não investiram em modernização do sistema incluindo aí veículos mais novos. Foi por isso que nunca saímos da geração III de Bondes. Mais uma vez a intromissão do governo na economia gerando confusão.

Fonte: Saudades do Rio

Para Francisco Negrão de Lima, Governador do então estado da Guanabara de 1965 a 1971, dentre outros governantes da década de 60, foi melhor extinguir o sistema já deficitário, decrépito, antiquado, sem investimentos nos últimos 20 anos anteriores, do que investir em sua modernização.
Se em algum momento você viu um vídeo falando sobre o que a GM fez em algumas cidades americanas para acabar com o Bonde e foi punida por isso, atente para o fato de que isso foi lá. A nossa realidade aqui foi bem diferente.

O vídeo é este abaixo:

Agradecemos a atenção até aqui, esperamos que tenha feito uma boa leitura. Esta é a segunda parte, convidamos a relembrar ou acompanhar a continuação dos outros capítulos dessa série, clicando nos links a seguir:

Parte I

Parte III (Final)

Imagem destacada: Bonde de luxo: carro construído em 1868 para servir ao Imperador D. Pedro II. e mais tarde transferido para a tração elétrica. Imagem publicada pelo Jornal do Brasil em 22 de julho de 1965 edição nº169, Original do Arquivo da Rio Light. Autor: Mortimer, E.A. – Acervo Brício de Abreu

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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