Tempo de leitura: 4 minutos

Por Mozart Rosa

Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor como um todo, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.

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A historia é longa, mas chegamos ao décimo capítulo, o final da nossa saga. Boa Leitura a todos e agradecemos por acompanhar até aqui.

10 – O Motivo do fracasso das ferrovias no Brasil (Conclusão)

Esperamos com essa série de artigos esclarecer e desmistificar o que realmente houve com o setor ferroviário Brasileiro pós 1930 e principalmente pós 1957, data da criação da RFFSA. Tudo se resumiu a um grandioso desastre gerencial onde alguns homens de visão, mas limitados pela legislação e corporativismo, tentaram dentro de suas limitações resolver o problema que em suma sempre teve como responsável o estado e sua capacidade tentacular de não deixar as coisas funcionarem.

Último exemplar no Brasil da locomotiva Siemens-Schuckert B-B, estacionado em Paranapiacaba-SP. Esta locomotiva foi importada da Alemanha no final da década de 1950 e circulou entre o Rio de Janeiro e Volta Redonda até o final dos anos 1970.
Foto: Mike Peel

“Ramais deficitários”: erradicar ferrovias por esse motivo não faz sentido, isso nunca existiu. Locomotivas adequadas e eficientes com menor potencia e modernização do traçado, além de outras intervenções, teriam permitido o funcionamento até hoje de muitos ramais extintos sob essa alegação. A entrada do empresariado no setor teria dado dinamismo ao setor.

Estação de Campos dos Goytacazes, abandonada
Fonte: Medium

Enfim, uma série de medidas de liberação econômica que se fossem postas em prática possibilitariam ao setor ter ajudado a desenvolver ainda mais o Brasil. Que isso sirva de lição e mostre o quanto é nociva a intromissão do estado na economia.


Imagens raras do trem a caminho de Petrópolis, extinto com os motivos já apresentados em capítulos anteriores dessa série de artigos
Fonte: Youtube

Estudar e entender o que houve com as ferrovias é entender o fracasso do Brasil como nação. A ferrovia foi um microcosmo de um microcosmo chamado Brasil. A historia da derrocada do setor ferroviário se bem estudada ajuda muito a entender a derrocada do Brasil como nação. Por que não somos grandes? A intromissão do estado na economia é um dos motivos. Mas um estudo mais profundo mostrará diversos exemplos.

O extinto pátio ferroviário de Angra dos Reis, em 1958
Fonte: IBGE

Ferrovia é um negócio. É frequente ver uma grande quantidade de pessoas, muitas vezes apenas entendidos ou curiosos, querendo opinar sobre o setor sem levar em consideração esse fator. Se é um negócio espera-se que aqueles que opinam sobre o setor tenham ao menos durante a sua vida gerado algum emprego. Mas geralmente não é isso que acontece.
O perfil da grande maioria dos que militam no setor em diversas ONGs ligadas a preservação ferroviária é de:

  • Militares aposentados e da ativa.
  • Funcionários ativos e aposentados de estatais.
  • Ex funcionários da RFFSA.
  • Professores ativos e aposentados.
  • Quiçá, nenhum empresário.

Gente que nunca na vida assinou uma carteira de trabalho, isso é sintomático. Esse fato também ajuda a explicar um fracasso tão contundente, pois gera informações, interpretações e ações equivocadas. Leiam e releiam toda a saga descrita nas postagens anteriores, pois não foi apenas um trabalho de pesquisa como alguns disseram, mas o descrito foi a historia de vida de alguém.
Alguém que acompanhou e participou de vários episódios relatados no decorrer dessa série.
Obrigado pela atenção.


Discurso de Mozart Rosa na abertura da Frente Parlamentar Rio nos Trilhos em outubro de 2019 na ALERJ
Mozart é engenheiro e autor das postagens dessa série sobre o fracasso das Ferrovias

 

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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