Navegue pelos tópicos do artigo:
- INTRODUÇÃO
- BREVE HISTÓRICO
- EFCB DO RIO A ANGRA DOS REIS
- MAIS DO QUE A AVENIDA NIEMEYER
- TÚNEIS FERROVIÁRIOS… ERA MAIS DE UM?
- A DESCOBERTA DO SUPOSTO TÚNEL
- MAS ENFIM, É UM TÚNEL FERROVIÁRIO?
- MAS… NÃO ERAM TÚNEIS NA REGIÃO DO JOÁ?
INTRODUÇÃO
A AF Trilhos do Rio é conhecida pela pesquisa, produção e gestão de material histórico-ferroviário, principalmente das estradas de ferro do estado do Rio de Janeiro. Muitos dados e registros vieram à tona e diversos mistérios e curiosidades surgiram com essas iniciativas: muitos deles conseguimos uma explicação, mas outros ainda estão em investigação.

Um destes mistérios é o suposto túnel ferroviário na entrada da Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Seriam vestígios de uma obra do século XIX, que não teve sua execução concluída? Analisemos os fatos e informações para tirar, ou não, alguma conclusão.
BREVE HISTÓRICO
No século XIX e na primeira metade do século XX o Rio de Janeiro, berço da primeira ferrovia do país, e o Brasil em sua maioria, recebeu diversos investimentos na área de transporte e logística com a implantação de inúmeras linhas ferroviárias em seu território. Muitas ferrovias foram projetadas e construídas, várias inclusive erradicadas com o passar dos anos, mas um sem número de outras ferrovias não chegaram nem a iniciar sua implantação, ficando apenas nos papéis de projetos e caindo muitas vezes no esquecimento.

A AFTR busca sempre trazer estes dados ao público, seja para disseminar a informação como para servir de base em projetos futuros, dentre outras intenções. E um destes projetos é a ferrovia que é tema deste artigo.
EFCB DO RIO A ANGRA DOS REIS
Sabemos que esta ligação desde a Côrte Imperial (cidade do Rio de Janeiro) à cidade de Angra dos Reis, por via ferroviária, foi possível por muitos anos, percorrendo a Estrada de Ferro Dom Pedro II/Central do Brasil e em Barra Mansa seguir pela linha da Estrada de Ferro Oeste de Minas/Rede Mineira de Viação até Angra, passando por Rio Claro. Contudo, existiram projetos da própria EF Central do Brasil de se alcançar a cidade da Costa Verde pelo litoral, mas infelizmente o projeto parou em Mangaratiba. Diversas obras de arte como “boeiros”, pontes e até mesmo túneis ficaram inacabados ou ilhados no meio do caminho.




Mas a EFCB não foi a única a tentar construir esta ligação. Ainda nas décadas de 1880 e 1890 engenheiros como Carlos Alberto Morsing e a companhia ferroviária mineira EF Sapucahy tentaram sem sucesso fazer este trecho. E o mais notável é que, assim como no caso da EFCB, vestígios foram deixados pra trás, após o cancelamento da execução das obras.
MAIS DO QUE A AVENIDA NIEMEYER
A estrada de rodagem que liga os bairros de São Conrado e Leblon, na zona sul da capital do estado, é o vestígio mais notável que se conhece da EF Botafogo a Angra dos Reis.

Esta companhia ferroviária, sob comando de Morsing, sairia da Enseada de Botafogo, passaria pelo litoral dos bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon, e São Conrado. Após a Pedra da Gávea, atravessada por túnel, continuaria seu traçado pelo Itanhangá, sul de Jacarepaguá, Vargens Grande e Pequena, Guaratiba, Sepetiba, Santa Cruz, alcançando Itaguaí e daí novamente seguindo pelo litoral da Costa Verde até chegar em Angra dos Reis, não deixando de passar por uma região montanhosa da Serra das Três Orelhas, onde se tem a informação de que existem túneis no meio da mata até hoje.

Entretanto a ferrovia teve suas obras paralisadas por conflitos com outras companhias de saneamento e urbanização. Trilhos chegaram a ser transportados e armazenados em Botafogo, mas o projeto não foi adiante. O trecho escavado e abandonado entre Leblon e São Conrado foi modificado para se tornar uma via para automóveis, dando acesso posteriormente ao futuro bairro do Vidigal.
Porém, outros vestígios podem ainda existir. Diversas ruas e avenidas na Zona Oeste podem ter tido origem em trechos não concluídos da ferrovia. Um traçado aproximado do percurso foi produzido por membros da AFTR, baseado em narrativa descritiva de Morsing, e a distância estimada pelo mesmo coincide com os cálculos atuais, por pequena margem de diferença.
TÚNEIS FERROVIÁRIOS… ERA MAIS DE UM?
Dentre o percurso descrito por Morsing, seriam construídos vários túneis para a passagem dos trilhos da ferrovia. Um deles seria ligando Botafogo a Copacabana, teoricamente onde hoje é o túnel Engenheiro Coelho Cintra, conhecido também como Túnel do Leme ou Túnel Novo, que liga as Avenidas Lauro Sodré (Botafogo) e Princesa Isabel (Copacabana). Não confundir com o túnel Engenheiro Marques Porto, paralelo ao anterior, mas inaugurado alguns anos depois. Seguindo pelas orlas de bairros da zona sul, subiria a encosta do Morro Dois Irmãos e teria outro túnel neste trecho, provavelmente onde fica um “estabelecimento adulto” na atual Avenida Niemeyer, por ser um trecho com curvas ainda mais fechadas. Na região do atual bairro do Joá também havia intenção de se construir túneis, por ser mais um trecho montanhoso.

Mas, de acordo com a narrativa de Morsing, dali em diante não haveria mais túneis, apenas obras de arte como pontes e viadutos. Apesar de ser bastante detalhista, o texto que fala sobre o percurso possivelmente não descrevia em todos os detalhes como a ferrovia sairia de Botafogo e alcançaria Angra dos Reis, mas ao menos dava muitas informações valiosas como, por exemplo, a posição quilométrica das estações.
A “DESCOBERTA” DO SUPOSTO TÚNEL
Aproximadamente em 2010 chegou ao conhecimento dos pesquisadores da AFTR de que um “buraco” na rocha na Barra da Tijuca, acessível com dificuldade através de ruas particulares e uma caminhada pela Autoestrada Lagoa-Barra, seria resquício das obras inacabadas da citada ferrovia. O futuro presidente da AFTR foi ao local em 2012 e conseguiu registrar, à distância por ter moradores de rua em seu interior, a boca do que seria um túnel, com relativa altura e largura mas em dimensões aparentemente suficientes para a passagem de um trem do século XIX.

Infelizmente, devido aos recursos e à baixa resolução disponível na época a foto não ficou muito satisfatória, mas surpreendentemente tornou-se o único registro conhecido deste suposto túnel. Durante as obras para os Jogos Olímpicos de 2016 a região passou por profundas modificações, sendo o suposto túnel bloqueado com vigas e blocos, e o terreno em frente aterrado para a construção de uma ciclovia.
MAS ENFIM, É UM TÚNEL FERROVIÁRIO?
No ano de 2022 o agora coordenador-geral da AFTR realizou pesquisas em campo para obtenção de informações sobre Carlos Alberto Morsing, tema de um livro a ser editado e publicado em breve.

Após visitar o cemitério São João Batista e realizar uma busca em centenas de sepulturas atrás da numeração conhecida do túmulo do falecido engenheiro (informação que a administração do local não possui), se dirigiu à Barra da Tijuca para registrar mais uma vez o túnel, tentando dessa vez chegar mais perto e observar mais detalhes. De fato as dimensões são indicativas de uma obra ferroviária, mas será mesmo?
Ao que parece sim, apesar de que outras hipóteses, como um canteiro de alguma obra antiga (talvez da construção da Autoestrada) ou algo que ficou inacabado, possam ser plausíveis, mas pouco prováveis. Outra hipótese é apresentada ao final deste artigo: seria neste local fotografado um outro túnel citado durante pesquisas (leiam abaixo)?
Trecho percorrido pela AF Trilhos do Rio em 2023
Em 2023, em sua primeira atividade de pesquisa em campo, a AFTR organizou uma visita aberta ao público, com o objetivo de expor aos nossos seguidores esta curiosidade sobre a história do Rio de Janeiro. Surpreendentemente, até o ano de 2022, existiam na internet apenas os registros produzidos pela AFTR. Foram feitas medições e a obra possui aproximadamente 4,5m de largura e estimados 5,5m de altura. Em 2012 pôde ser percebida uma profundidade de 5 a 10m, infelizmente não registrada em mais detalhes na época.

Temos também por intenção implantar uma sinalização indicativa no local, mas isso certamente será conversado com as autoridades municipais para viabilizar a implementação. E em breve pretendemos retornar ao local, portanto convidamos a todos: fiquem atentos à nossa agenda, e participem. Além desta, outras expedições estão sendo planejadas e em breve serão divulgadas aqui no site em nossas redes sociais.
MAS… NÃO ERAM “TÚNEIS” NA REGIÃO DO JOÁ?
Em 2014 uma edição da Revista Veja publicou uma série de segredos do Rio de Janeiro e, dentre eles, o da existência de um túnel ferroviário que ligaria os bairros de São Conrado e do Joá. Membros da AFTR estiveram na região e buscaram depoimentos com moradores, que indicaram um endereço onde ficaria este túnel, descrito pela reportagem da revista como um local utilizado para a realização de rituais religiosos. Fomos à residência indicada e não conseguimos acesso, mas temos ainda por intenção visitar o local e mais contatos estão sendo feitos. Cogita-se também que este local para “realização de rituais religiosos” fosse o visitado e fotografado em 2023, 2022 e 2012 (notem que na foto mais antiga tem uma espécie de ornamento na parte superior da obra). Vamos averiguar…

Enfim, são várias conjecturas e esperamos trazer novidades em breve. E você, caro leitor e leitora, o que acham, qual a sua opinião? Comente abaixo ou em nossas redes sociais!
Agradecemos a leitura, e até a próxima!
Foto de capa: Rosângela (2023)
Agradecimentos a Rosângela, Vanda e José pela participação e registros feitos durante a atividade de pesquisa em 29 de janeiro de 2023.