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Com informações do site Mega Curioso
(ATENÇÃO! Atualização de 06/03/2023 14h31: confiram ao final do artigo uma atualização com links importantes e elucidativos. Mais do que prova que o artigo produzido pelo site citado não condiz com a realidade, passou muito longe!)

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No domingo dia 05 de março foi publicado um artigo no site Mega Curioso, que traz informações bastante interessantes e… curiosas, como o próprio nome diz, falando sobre ferrovias. Algumas vezes o tema foi matéria neste site, mas desta vez o título foi ainda mais curioso:

Capa do artigo no site chama a atenção. Foto: divulgação

Lemos o artigo e fizemos algumas observações sobre a abordagem. Entretanto, ressaltamos que somos imparciais e temos compromisso com a verdade, então mesmo que o artigo citado diga a verdade e esta seja inconveniente, vamos admitir e explicar, caso seja necessário. A íntegra pode ser conferida neste link (clique aqui).

 

“No começo de fevereiro, um acidente envolvendo um trem Norfolk Southern, que descarrilhou em uma pequena cidade de Ohio, gerou preocupação nos Estados Unidos. Naquela época, 11 vagões de materiais perigosos foram derramados no solo. (…)”

 

Soubemos deste incidente, amplamente divulgado nas mídias, com um pouco de exagero e sensacionalismo em alguns veículos. Foi grave? Evidente que foi, mas as equipes especializadas em tratar situações como esta agiram rapidamente e ninguém sequer se feriu. O mais grave foi a necessidade de evacuação da população local devido à toxicidade do material transportado, que vazou dos vagões descarrilados, e possíveis danos ambientais. Mas como citado anteriormente, as medidas tomadas foram rápidas e eficazes dentro das possibilidades.

 

“(..) acidentes de trem são relativamente comuns. Apenas em 2023, os EUA já registraram mais de uma dezena de casos de descarrilamentos em dois meses. E embora colisões violentas sejam o assunto que mais chame atenção, esse não é o único risco que os trens trazem para a vida humana. Veja só como morar perto de uma linha de trem pode ser prejudicial para a sua saúde!”

 

Os trens trazem riscos para a vida humana? Evidentemente centenas de toneladas contra um corpo de geralmente menos de 100 quilos é excepcionalmente desproporcional, mas a frase nos pareceu muito tendenciosa e sensacionalista.

Assim como na construção de rodovias, existe uma faixa de domínio, que ajuda a manter a segurança tanto para quem se locomove pelas vias quanto quem reside às suas margens. A questão é que, em muito lugares e não só no Brasil, existem ocupações irregulares, algumas vezes a centímetros (!) da linha férrea, então em qualquer situação isso passa a ser perigoso em todos os sentidos.

 

“Para quem vive a menos de 1 km de distância de uma ferrovia, a poluição sonora e as vibrações dos trens (…) são algumas das coisas que mais geram incomodo rotineiramente. (…) a especialista em saúde pública da Universidade de Gotemburgo, Natalia Caldeira Loss Vincens, afirmou que essa quantidade de ruído tende a trazer problemas maiores para os seres humanos.”

 

Como sabemos, viver em cidade grande significa conviver com ruídos gerados pelo funcionamento da própria cidade: trânsito, movimentação de pessoas, operação de fábricas e indústrias, dentre vários outros ruídos incômodos. A matéria cita apenas as ferrovias, mas quem mora em frente à avenidas e esquinas movimentadas sabe bem o que é sofrer com poluição sonora.

Ruído faz mal? Óbvio que sim. Isso é exclusivo das ferrovias? Claro que não, e a geração de ruídos é muito inferior em constância do que uma rodovia, pois o volume de veículos trafegando em uma rua, avenida, estrada ou rodovia, é muito superior ao tráfego de veículos ferroviários, que não passam a todo momento, com intervalo de poucos segundos como ocorre em vias rodoviárias.

 

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“(…)um estudo de 2022 publicado na revista Environmental Research encontrou uma ligação entre o ruído ferroviário e a incidência de diabetes. O estresse crônico gerado pela quantidade de ruídos sonoros pode levar a uma “cascata de alterações fisiopatológicas”, incluindo alterações na sensibilidade à insulina de uma pessoa, inflamação e alterações no apetite.”

 

Minha nossa! 😨 Como dito anteriormente, existe uma faixa de domínio onde esses problemas tendem a ser atenuados, quando a distância é respeitada. Portanto não é tão prejudicial (na verdade é muito menos) quanto uma rodovia em relação à produção de ruídos. Evidentemente um pátio de manobras ou oficina ferroviária pode gerar até mais poluição sonora do que uma linha de tráfego constante, mesmo que não operacional todo o tempo e nem por todo o dia (de madrugada não existem mais trens circulando, exceto alguns de carga). Este fragmento de texto tende claramente a generalizar as questões apontadas.

 

“Embora os trens possam ser considerados uma alternativa ecológica aos meios de transporte pesados com combustíveis fósseis, como carros e aviões, eles ainda são responsáveis por queimar óleo diesel.”

 

Esqueceu de mencionar que apenas um trem pode retirar dezenas ou centenas de caminhões das rodovias, gerando muito menos poluição sonora e ambiental, além de melhorar o trânsito evitando congestionamentos e trazendo benefícios ao proporcionar um tráfego rodoviário menos perigoso ao ter menos caminhões circulando. Só esta afirmação contradiz o artigo quase que inteiramente, mostrando que a adoção de ferrovias pode trazer benefícios à saúde pública.

 

“(…)outra pesquisa feita pela Agência de Proteção Ambiental da Califórnia (EUA) estimou que os residentes que vivem perto de um pátio ferroviário experimentaram um risco maior de exposição a carcinógenos. Isso significa que os habitantes dessas áreas apresentaram aumento do risco de câncer entre 100 e 3 mil vezes em comparação com áreas vizinhas.”

 

O parágrafo já é exagerado por si só. Não estamos questionando estudos realizados, mas a emissão de gases a partir da queima de combustíveis fósseis é bastante inferior aos veículos rodoviários, mesmo que o consumo por veículo seja maior nas locomotivas do que em caminhões e ônibus, por exemplo.

Mas com todas as inovações implementadas atualmente, porque os trens que são tracionados por locomotivas elétricas não foram citados? Quantos veículos rodoviários hoje são elétricos ou híbridos? Carros elétricos são uma tendência, contornado os altos preços, que poderão se firmar em um futuro a curto ou médio prazo. Mas e os trens, sem falar nos sistemas metroviários de algumas capitais brasileiras, não entram na conta? São poluentes?

O curioso é que o artigo acaba abruptamente, sem uma conclusão ou considerações finais, nem mesmo explicações sobre alguns pontos relatados durante o texto. Abre margem para pensarmos diversos pontos, mas preferimos considerar que tenha sido uma matéria superficial, sem intenção de ocultar fatos técnicos e que certamente mostrariam muito mais a favor do que a crítica explícita ao modal ferroviário.

Pra finalizar deixamos um texto escrito há alguns anos explicando melhor a diferença entre ferrovias e rodovias, podendo (esperamos) esclarecer alguns pontos e que possam servir de parâmetro para futuros textos a serem produzidos pelo conceituado site.

As Ferrovias e a Natureza

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Até a próxima!

 

A opinião exposta neste artigo é de responsabilidade do autor, podendo, ou não, ser a opinião parcial ou total da instituição.

 

Imagem em destaque: Times of India

 

ATUALIZAÇÃO

Nosso consultor Rodrigo Sampaio nos chama a atenção para informações importantes, já que o referido artigo inicia falando sobre um incidente ocorrido nos Estados Unidos:

Mais de 7500 pessoas se acidentam gravemente nas rodovias americanas… POR DIA!
Enquanto nas ferrovias (que estão em péssimo estado), foram quase 900 acidentados… EM UM ANO!

Quem quiser conferir em detalhes, visite os dois links a seguir:

How Many Car Accidents Are There in the USA per Day?

 

Railroad Deaths and Injuries

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Autor

  • Daddo Moreira

    Formado em Arquivologia, pós-graduando em Engenharia Ferroviária, técnico em TI, produtor e editor multimídia, webmaster e webdesigner, pesquisador e historiador informal. No começo dos anos 2000 se aprofundou na área de mobilidade e transportes (e a preservação histórica inerente ao assunto, sobretudo envolvendo os transportes sobre trilhos), e a partir de contatos pessoais e virtuais participou de, e formou, grupos voltados para a disseminação do assunto, agregando informações através de pesquisas presenciais e em campo. Em 2014 fundou formalmente a AFTR - Associação Ferroviária Trilhos do Rio onde reuniu membros determinados a lutarem pela preservação e reativação de trechos ferroviários, além de todos os aspectos ligados às ações, como o resgate da memória e cultura regional, melhoria na mobilidade e consequentemente na qualidade de vida da população, etc Foi presidente e é o atual coordenador-geral da AFTR Não se considera melhor do que ninguém, procura estar sempre em constante evolução e aprendizado, e acumula experiências sendo sempre grato aos que o acompanha e apoia. "Informação e conhecimento: para se multiplicar, se divide"

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