Tempo de leitura: 11 minutos

Por Mozart Rosa

[Artigo escrito e publicado originalmente em 2020]

OS GRANDES BRASILEIROS DOM PEDRO II E O BARÃO DE MAUÁ

Continua após a publicidade

Em dezembro celebramos o nascimento de dois grande Brasileiros: Dom Pedro II, que nasceu em 02 de dezembro de 1825, e o Barão de Mauá, nascido em 28 de dezembro de 1813.

Apesar do que é ensinado em alguns livros, sem a amizade a inteligência e a capacidade desses dois homens o Brasil não seria o que é hoje. A eles se juntaram grandes homens como José Bonifácio e muitos outros homens e mulheres de extremo valor. Somos um povo nobre, descendemos de Viriato, o verdadeiro Asterix, aquele que efetivamente expulsou os Romanos de sua aldeia.

Monumento a Viriato, nosso antepassado
Fonte: Mundo Lusíada

Como ferroviários nos ateremos as figuras de D. Pedro II e ao Barão de Mauá. Essa postagem é uma homenagem a ambos. Vossa coragem, competência e capacidade nos deixaram um legado. Que falta nos faz hoje homens como eles. Nossa postagem terá duas partes, mostrando a saga épica que foi a implantação das ferrovias no Brasil e a grandeza de seus responsáveis.


A IMPORTÂNCIA DE MAUÁ E DOM PEDRO II PARA O TRANSPORTE FERROVIÁRIO MUNDIAL 

A maior parte daqueles que amam as ferrovias e criticam o abandono de diversos trechos ferroviários no Brasil não entendem os motivos desse abandono. Desconhecem um passado glorioso da história de nosso país. Limitam seus conhecimentos ao período RFFSA achando que isso é algo substancial, ignorando a riquíssima história pré-RFFSA. Fazem críticas infundadas responsabilizando a quem não deveriam responsabilizar.

Grandiosos e movimentados pátios da estação Barão de Mauá e Alfredo Maia, tendo ainda a estação Lauro Müller (atual Praça da Bandeira) no canto inferior direito da imagem. Ano de 1930, antes da RFFSA, criada em 1957.
Fonte: Holland, S. H. (Biblioteca Nacional)

Ferrovia é um microcosmo do macrocosmo chamado Brasil, e nas ferrovias a frase de George Orwell “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”. Nunca fez tanto sentido. Por isso queremos mostrar um pouco desse passado desconhecido. Nesse texto faremos uma viagem mais profunda pela história para mostrar a origem de tudo isso. E por tudo nos referimos a história, não apenas das ferrovias, mas a história do próprio desenvolvimento industrial. Vamos mostrar a importância do Brasil nesse contexto histórico, ignorado pela maioria dos historiadores, e entendermos onde foi que erramos.

Usina de gás do Rio de Janeiro, idealizada e inaugurada em 1854 pelo Barão de Mauá.
Fonte: Klumb, Revert Henrique (IMS)

Para entendermos profundamente as raízes do problema faremos uma viagem, e nessa viagem iremos a períodos históricos bem distantes, ao final do século XVIII quando as ferrovias ainda nem tinham sido criadas, e depois mostraremos a importância de D. Pedro II e do Barão de Mauá, não apenas para a história do Brasil, mas para a história mundial. E acreditem: não estamos exagerando, é um fato.

Nesta foto de 1895 se vê o bairro de Copacabana, de onde partia o cabo submarino de comunicações idealizado por Dom Pedro II e inaugurado por Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, que recebeu o título de Visconde no dia dessa inauguração: 22 de junho de 1874
Fonte: IMS

Esse texto condensa diversas informações divulgadas em nossas postagens, de uma forma linear e com abordagem empresarial. É algo original e possivelmente inédito em todo estudo histórico feito atualmente no Brasil, considerando que o que é feito atualmente pelos profissionais da área e feito a partir de uma abordagem essencialmente ideológica e dicotômica, sempre o bem contra o mal, não se explora o fato de que em história existem os famosos 50 tons de cinza.


 

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A chamada revolução industrial começa a partir do desenvolvimento do uso de vapor em máquinas, gerando movimentos mecânicos, culminando na criação de motores movidos a vapor. Com a criação dessa tecnologia a primeira aplicação prática disso foi seu uso em teares, mudando totalmente a economia da época e criando o que os historiadores passaram a chamar de Revolução Industrial.

Fábrica de tecidos Cascatinha, em Petrópolis, em 1885. Ao fundo, e em um plano superior, um trem passando pela linha da EF Príncipe do Grão-Pará.
Fonte: Marc Ferrez

Para uma compreensão melhor do ocorrido vamos dar uma pequena explicação: a tecelagem é uma técnica conhecida desde a Babilônia e a Mesopotâmia, civilizações das mais antigas conhecidas pelo homem, processo conhecido também pelas civilizações pré-colombianas, Maias, Incas e Astecas, algo feito de forma artesanal, e que por conta disso era demorado e custoso. Criado o “motor” a vapor, sua primeira aplicação foi na automação de teares, que deixam de ser manuais. Posteriormente esses “motores” a vapor passaram a ser usados em várias outras indústrias.

Máquina a vapor exposta na seção Brasileira da Exposição Internacional da Argentina, em 1882
Fonte: Samuel Boote (Arquivo Nacional)

Todo um setor da economia gerador de empregos e anteriormente inexistente é criado.

E O QUE ISSO TEM A VER COM AS FERROVIAS?

A manufatura do ferro é outro produto conhecido pelo homem desde o início dos tempos. Lendas, e a própria Bíblia, atribuem a Tubalcain, descendente de Caim, a primazia de ser o primeiro homem a manipular o ferro.

Para quem nunca ouviu falar vejam o filme Noé de 2014, feito a partir dessas lendas, ou procurem na Bíblia em Gênesis 4:22

: : “E Zilá também teve a Tubalcaim, mestre de toda obra de cobre e de ferro” : :

A Inglaterra se caracteriza por ter minas de ferro, próximas a minas de carvão, um carvão de elevada qualidade. Com o crescimento da população e com a maior demanda de ferro, eram preciso veículos maiores e de maior capacidade para o transporte do minério de ferro e do carvão para as siderúrgicas da época. O transporte feito até aquele momento era feito em carroças.

Fonte: Catawiki

Os donos das siderúrgicas, a partir de propostas comerciais, concursos, e outros tipos de apoios, incentivaram que engenheiros da época, a partir dos motores a vapor usados nos teares, desenvolvessem veículos movidos a vapor capazes de tracionar os veículos de carga da época usados para transporte de carvão e minério de ferro. Os trilhos já existiam mas eram de madeira e, pela diminuição de fricção, eram usados para facilitar o transporte de minério de ferro e carvão em pequenos trechos.

Portanto entendam bem o cerne e o aspecto mais importante de nossa postagem, que ajudará com isso a entender tudo, absolutamente tudo, que está acontecendo com as ferrovias no Brasil atual e que iremos explicar.

: : Ferrovia em seus primórdios foi desenvolvida para transportar minério de ferro e carvão, e nada mais : :

Foi a partir daí, e por isso, que foram desenvolvidos os veículos a vapor que com o tempo chegaram ao que conhecemos hoje como “vaporosas”, as conhecidas Locomotivas a Vapor. Foi um processo evolutivo lento, mas consistente, que gerou as máquinas a vapor como hoje as conhecemos.


 

E DOM PEDRO II? QUAL A SUA PARTICIPAÇÃO NISSO ?

Pedro II foi um dos homens mais cultos de sua época, dominava várias línguas, várias ciências e tinha um profundo conhecimento de geopolítica quando essa palavra ainda nem existia. Era imperador de um país continental povoado essencialmente no litoral, e sabia que precisava povoá-lo no interior, caso contrário poderia perdê-lo.

Mapa da Guerra do Paraguai (1870)
Fonte: Biblioteca Nacional

Para se entender a imensidão do Brasil, citaremos aqui um fato pouco comentado sobre a Guerra do Paraguai. Ela durou mais tempo do que deveria, porque simplesmente as primeiras tropas despachadas para combater Solano Lopes se perderam. Não conheciam seu próprio país.

Pedro II resolve pedir a Mauá que além de rico, era um homem conceituado e muito conhecido, que construísse uma ferrovia no Brasil. As razões para o traçado não são efetivamente conhecidas, existem várias versões, e a mais plausível para nós é a mais simples de todas: sendo uma ferrovia que atenderia, além da côrte, as famílias abastadas da cidade, teria enorme visibilidade para o restante do Brasil.

Locomotiva subindo a Serra da Estrela em direção ao Alto da Serra de Petrópolis em 1898
Fonte: IMS

Entenderam como D. Pedro já era um visionário? Em uma época em que esses conceitos nem tinham sido criados D. Pedro por meio de uma pequena ferrovia queria criar um factóide, criar um fato político e econômico, criar um produto piloto a ser vendido para outras localidades, queria chamar a atenção. E sem dinheiro público envolvido. Nada diferente dos motivos pelo qual hoje defendemos o retorno da ligação com Petrópolis e da construção da Ferrovia Centro Sul Fluminense: servir de vitrine para o Brasil.

Vamos entender a situação da época.

O Rio de Janeiro, por suas características geográficas, sempre foi um local quente e abafado. Para aquela parcela da população que usava roupas de lã vivenciar o verão carioca, naquela época e com aquelas roupas, devia dar uma sensação muito desagradável. Petrópolis já era conhecida, mas levava-se em torno de 8 horas de carruagem ou a cavalo para chegar lá contornando a baia de Guanabara. Era a residência de verão da elite carioca da época, era a Miami dos ricos da corte carioca do século XIX.

: : Petropolis era também na época um entreposto comercial, recebia carga do interior e as repassava para a capital : :

Ao construir a sua ferrovia em 1854, Mauá precisava ter lucro e, diferente do país onde as ferrovias se originaram – a Inglaterra – onde a ferrovia era dedicada ao transporte de minério de ferro e ao transporte de carvão, ele cria algo que nenhum historiador conseguiu enxergar de forma correta. Mauá cria algo inexistente até mesmo na Inglaterra, cria o que nós aqui na AFTR, e por incrível que pareça só nós, passamos a chamar de “estilo Leopoldina de ser”.

: : O transporte pelas ferrovias de TUDO, absolutamente TUDO o que podia ser transportado : :

Entendam bem isso para entender o restante do texto. Isso na ocasião era algo INÉDITO NO MUNDO. O Brasil foi pioneiro nisso. Isso com o tempo aconteceria de modo natural, mas o mérito da Dupla D. Pedro II & Mauá foi antecipar uma tendência.

Abaixo publicação da AFTR sobre o Estilo Leopoldina de Ser.

>> Parte 1

>> Parte 2

Abaixo um documento referente à Lei Áurea, descoberto em 2006, com referência da Princesa Isabel ao Visconde de Mauá, mostrando a relação fraterna entre ele e a família imperial.

Fonte: Fundação Palmares

 

Não perca a continuação dessa série histórica, semana que vem, aqui no site da AFTR !

 

Gostou? Curtiu ? Comente ! Compartilhe !
Agradecemos a leitura. Até a próxima !

(A opinião constante deste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da Associação)

Loading

Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

seis + 3 =

Previous post Atenção à operação no MetrôRio e Supervia neste final de semana (2 e 3/12)
Next post A importância de Mauá e Dom Pedro II – Parte II Final
error: Este conteúdo não pode ser copiado assim. Caso use o arquivo, por favor cite a fonte.