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Por Mozart Rosa

[Artigo escrito e publicado originalmente em 2020]

(Esta é a continuação do artigo em que homenageamos dois grandiosos homens e figuras históricas do Brasil: Dom Pedro II e o Barão de Mauá. Caso não tenha lido, clique aqui !)

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OS GRANDES BRASILEIROS DOM PEDRO II E O BARÃO DE MAUÁ (parte II)

Relembrando parte do artigo anterior, ao construir a sua ferrovia em 1854, Mauá precisava obter lucro e, diferente do país onde as ferrovias se originaram – a Inglaterra – onde a ferrovia era dedicada ao transporte de minério de ferro e ao transporte de carvão, ele cria algo que nenhum historiador conseguiu enxergar de forma correta: Mauá cria algo inexistente até mesmo na Inglaterra, cria o que nós aqui na AFTR e por incrível que pareça só nós, passamos a chamar de Estilo Leopoldina de ser”. Isso influenciou até mesma na montagem das composições ferroviárias: enquanto na Inglaterra inicialmente se criavam padrões muito parecidos aos atuais usados pela MRS, com composições cada vez maiores e com cada vez mais vagões para o transporte cada vez maior de graneis, no caso Minério de Ferro e Carvão. Aqui tínhamos composições pequenas de no máximo 10 vagões transportando de tudo, inclusive passageiros. O transporte de passageiros também já se iniciava na Europa, mas de forma incipiente.

Carro de luxo da EFCB em 1912 na Oficina Trajano de Medeiros, no Engenho de Dentro
Foto: Acervo Benício Guimarães

Não acreditem em tudo o que diz a Wikipedia. O transporte de passageiros, citado como existente nos primórdios das ferrovias, não era de passageiros. Eram autoridades presentes às inaugurações, em carros adaptados para as ocasiões.

O Livro O futuro das estradas de ferro no Brasil” de Cristiano Ottoni escrito em 1859, livro a ser reeditado em breve pela AFTR, informa que em 1837 poucos países possuíam ferrovias ou projetos, dentre eles a Inglaterra, Bélgica, Franca e inclusive o BRASIL. Na ocasião aqui já existiam projetos e intenções ferroviárias desde 1835, mas apenas em 1852 começou a sair do papel e em 1854 foi inaugurada a primeira ferrovia. Infelizmente o livro não está 100% certo, como mostraremos mais à frente. Em 1827 já existiam ferrovias nos Estados Unidos, por exemplo.

Nesta publicação é possível ver também a preocupação de Cristiano Ottoni de, usando a ferrovia, fazer a integração nacional. Foi preciso esperar 161 anos para que alguém no comando na área de infraestrutura entendesse e colocasse em prática conceitos de integração nacional, usando a ferrovia, como propostos por Cristiano Ottoni em 1859. Demorou um pouquinho. Só um pouquinho.

Os trilhos de ferro constituem o verdadeiro, e talvez único, meio de bem conciliar a unidade e integridade do Império com a descentralização administrativa a que as Províncias, sejamos justos, não podem deixar de aspirar.”

Cristiano Ottoni

Christiano Benedicto Ottoni, óleo sobre tela, Jordão de Oliveira, 1955
Fonte: Acervo MRCO/Ibram

Nos Estados unidos, a primeira companhia ferroviária foi a Baltimore and Ohio Railroad (B & O), fundada em 1827 construída também para o transporte de carvão. No início a preocupação não era a integração nacional e nem o transporte de passageiros. Copiou-se o que se fazia na Inglaterra.

Raríssima imagem da locomotiva “Atlantic”, uma das primeiras locomotivas da B&O, construída em 1832 e ainda preservada!!!
Fonte: Across Maryland History: The B&O Railroad’s Early Days

Paulatinamente com o tempo a coisa foi crescendo de forma orgânica nos países onde as ferrovias existiam, já existiam fabricas de vagões de passageiros, mas só depois que Mauá começa a operar sua ferrovia e começa a ter lucros com seu modelo de operação que se percebe como esse modelo de negócio poderia ser extremamente lucrativo, foi a partir daí que o foco deixa de ser só o transporte de graneis.

Fonte: publicidade Grupo Saint Gobain

O Grupo Saint Gobain, dono hoje no Brasil de empresas como Quartzolit, Brasilit e da cola Tek Bond, que todo mundo tem em casa, é um dos mais antigos grupos empresariais da França, surgido a partir de uma fábrica de vidros planos e espelhos, fornecendo esses produtos, inclusive na ocasião da construção do Palacio de Versailles

Palácio Versailles

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Até o início de nossas ferrovias era impossível transportar vidros e espelhos por carruagem, e as ferrovias tornaram isso possível, influenciando nossa arquitetura e a colonização do interior do Brasil pela elite. A partir desse momento os fazendeiros transformaram as casas-sede das fazendas em residências para as suas famílias, que podiam de forma confortável fazer o trajeto da capital para o interior e também transportar pela ferrovia todos os materiais necessários para dar conforto às famílias dos fazendeiros e da população em geral, moradora daquelas localidades, Não apenas vidros, mas louças e metais sanitários, banheiras, absolutamente tudo, materiais que pelo peso e pela fragilidade não poderiam ser transportados por carruagens passaram a poder ser transportados pelos trilhos.

Rara imagem de um vagão de transporte de tijolos da Cia St Stephen’s Brickworks, em St.Albans, na Inglaterra
Fonte: Hertfordshire Genealogy

Os acionistas do Grupo Saint Gobain da época e seus descendentes atuais são muito gratos ao Brasil pelos seus ganhos. O Brasil cresceu, se desenvolveu e se interiorizou graças às ferrovias. Vendo o sucesso comercial existente aqui no Brasil, nosso modelo empresarial passou a ser copiado, e o que era incipiente lá fora passou a ser corriqueiro.

 

Cornelius Vanderbilt, magnata das ferrovias Norte Americanas, iniciou seu império ferroviário a partir de 1860 seguindo o modelo comercial das ferrovias Brasileiras, bem ao “estilo Leopoldina de Ser”.

Exportamos para o mundo de forma plena, um modelo de negócio que existia de forma incipiente ou inexistia em alguns países. 


E O FUTURO DAS FERROVIAS NO BRASIL ?

(E aqui um conjunto de informações de extrema importância)

O futuro das ferrovias no Brasil está hoje nas mãos de homens que receberam suas informações sobre o tema a partir do que aprenderam com egressos da RFFSA. Leiam nossos textos sobre o assunto clicando aqui.

Esses homens são engenheiros formados pelo IME, militares, políticos, funcionários do DNIT. E a visão de todos é a visão do Estilo EFCB de ser. O que hoje é ensinado em instituições como o IME e o que hoje circula como informação a ser seguida em instituições como o DNIT tem origem no que foi predominante na RFFSA, o Estilo EFCB. Assim como nas instituições de ensino o Marxismo Cultural sobrepujou todo o pensamento conservador, no setor ferroviário o Estilo EFCB sobrepujou o Estilo Leopoldina de ser.

Estação Barão de Mauá, principal terminal da EF Leopoldina no Rio de Janeiro
Fonte: Museu Imperial

A história de uma guerra, sempre é contada a partir da versão dos vencedores. O que a AFTR faz é resgatar a versão de quem perdeu essa guerra.

Cancela da estação ferroviária de Petrópolis
Fonte: Arquivo Nacional

Lembram da frase de George Orwell, sobre o controle do passado, sempre mencionada por nós? Ela é muito relevante nesse caso. Talvez em algum momento os detentores do poder tenham acesso as nossas informações e esse jogo vire, é importante, e já é passada a hora de conhecerem esse outro lado dessa moeda.

Para os que estão chegando agora: Estilo EFCB foi o estilo adotado a partir da década de 1950 quando o Brasil descobre suas províncias minerais e direciona todos os esforços das ferrovias para o transporte de minério. Por pura coincidência as linhas próximas a essas províncias eram as de bitola larga da EFCB, e com a criação da RFFSA começa a disputa de poder entre egressos da EFCB (Central do Brasil) e egressos da EFL (Leopoldina) culminando na Guerra das Bitolas.


CONCLUSÃO FILOSÓFICA

Que a conclusão de nosso texto seja lida e compreendida sem nenhum viés religioso, apenas filosófico e arquetípico. Ao impor via estilo EFCB de ser o transporte exclusivo de graneis, na ocasião apenas minério de ferro, foi como se os Descendentes de Caim assumissem o controle com um transporte lucrativo, mas despersonalizado, frio, impessoal, sem compromissos com a população e com o bem comum, sem o compromisso com o todo, sem se preocupar com o desenvolvimento regional, concentrando todo o resultado nas mãos de poucos.

Ao defender o retorno do Estilo Leopoldina de Ser, em paralelo ao Estilo EFCB que reconhecemos ter enorme valor, nós queremos fazer assumidamente e de forma intencional assim como descendentes de Seth, de David e de Salomão é:

  • restaurar tradições;
  • restaurar e apoiar as pessoas;
  • resgatar a fraternidade e o amor que existiam nas cidades por onde o trem passava e parava;
  • restaurar a interação do homem com as ferrovias;
  • possibilitar o lucro para todos, de pessoas como o sr. Waldir Albuquerque, personagem citado em nosso texto;
  • restaurar o Estilo Leopoldina de Ser;
  • não concentrar o lucro nas mãos de poucos, os metacapitalistas atuais;

Estação Barão de Mauá

  • ao restaurar estações antigas, resgatar as belezas arquitetônicas, memória e cultura de uma época e região;
  • restaurar a economia das pequenas cidades, todo aquele provincianismo existente que unia as pessoas.
  • possibilitar o fornecimento de serviços tão necessários para a população, serviços propostos por nós em nossas postagens;
  • permitir que a população das pequenas cidades também ganhe dinheiro com as ferrovias escoando sua produção por esse meio rápido e eficiente de transporte.

Leiam este texto que exemplifica de forma simples alguns dos benefícios que as ferrovias podem trazer à coletividade

O Estilo Leopoldina de Ser, com seu atendimento as pequenas cidades como é feito nos Estados Unidos, incentivou o desenvolvimento dessas pequenas cidades e ajudou o Estados Unidos a serem o que são. Queremos ajudar o Brasil a chegar lá, a conquistar uma posição que ele merece.

Que fique claro: ambos os estilos podem coexistir, um não invalida o outro.
UM COMPLEMENTA O OUTRO.

Voltando as lendas, e aos arquétipos, seria como quando Hiran Rei de Tiro e descendente de Cain se une a Salomão, descendente de Seth, na construção do Templo. Apesar de descenderem de linhagens antagônicas, se uniram por um único objetivo. A força de Caim se une a leveza e a sabedoria de Seth, o arquiteto Seth se une ao engenheiro Caim. A sabedoria de Seth planeja e a força de Caim executa.

Sempre lembrando que nos referimos a arquétipos.

A MRS Logistica é herdeira direta do Estilo EFCB, profundamente hostilizada em algumas localidades por onde passa. Ler nosso texto, entender os arquétipos e as projeções inconscientes das pessoas, é um passo para tentar reverter essa situação.

Obrigado a todos pela atenção, AFTR também é cultura.


CURIOSIDADES

Para quem achou a citação a Tubalcanin interessante, abaixo um livro com algumas informações sobre o tema.

Sydney Bristowe, escritora de Sargon the Magnificent.
Não confundir com a Personagem de Jeniffer Garner no Seriado Alias.

Algumas informações sobre eventos citados em nossa postagem:

  • A partir do aproveitamento do vapor na construção de motores, foi construído em 1819 o Savannah, primeiro navio a vapor do mundo e o primeiro a atravessar o Atlântico. Ainda com casco de madeira e algumas chapas de ferro protegendo o calado.
  • A partir de 1856 intensifica-se mais ainda o transporte de minério de ferro pelas ferrovias pois é patenteado o processo Bessemer, o primeiro processo industrial de baixo custo para a produção de aço a partir de ferro-gusa fundido. O processo foi nomeado em homenagem ao seu inventor: Henry Bessemer.
  • A Ponte Eads localizada nos Estados Unidos e que liga a cidade de St. Louis, estado do Missouri, à East St. Louis no estado de Illinois, foi a primeira ponte de aço a ser construída no mundo. Foi construída por Andrew Carnegie, o primeiro magnata da siderurgia dos Estados Unidos. É considerada uma das obras de aço mais importantes da arquitetura de todos os tempos. É uma ponte rodoferroviária.

Fonte: WTTW

Inauguração do Carneggie Hall em 1891
Fonte: History Daily

Outro país que ganhou rios de dinheiro com as ferrovias brasileiras foi a Bélgica. O engenheiro Belga Henri Vlemincx dirigiu de 1859 a 1865 o Serviço de Tráfego da Estrada de Ferro Dom Pedro II, e direcionou para a Bélgica encomendas de trilhos, vagões, locomotivas, pontes metálicas, galpões, inclusive do Vagão do Imperador. A Bélgica já tinha um pequeno parque industrial que se beneficiou bastante de encomendas Brasileiras. O viaduto/ponte Paulo de Frontin, em Vera Cruz (Miguel Pereira) é uma outra importante obra (de arte) ferroviária produzida na Bélgica.

Viaduto Paulo de Frontin, trecho da EF Melhoramentos do Brazil
Foto: Eduardo (‘Dado’) em 2018

Diversas ferrovias brasileiras tem material de origem Belga graças ao lobby feito por Henri Vlemincx

Fonte: Biblioteca Digital Hispanica

 

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Agradecemos a leitura. Até a próxima !

(A opinião constante deste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da Associação)

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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