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Por Mozart Rosa

A Volta do Trem Regional de Passageiros no Brasil

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Trens Regionais: a proposta da AFTR

Como já mostrado em nossa sequência de artigos temos infelizmente no Brasil a capacidade, dentro do setor ferroviário, de fazer com que o que já era ruim ficar pior. A eletrificação de linhas de longa distância proposta e promovida pelo pessoal da EFCB foi um grande exemplo disso. Essa iniciativa, parte de um pacote de maldades com o qual o setor foi agraciado no passado, foi mais uma iniciativa da turma da EFCB e fez parte daquelas ações do chamado “Padrão EFCB” termo cunhado e usado por nós aqui na AFTR, para diferenciar do “Padrão Leopoldina”, tema de um futuro artigo nosso que será publicado muito em breve.

Fragmento de um documento confidencial onde se evidencia o prejuízo bilionário ao país durante a construção da Ferrovia do Aço
Fonte: Arquivo Nacional

Aparentemente os prejuízos bilionários decorrentes da compra de material para eletrificação da Ferrovia do Aço, material que nunca foi usado e se encontra espalhado e abandonado em galpões espalhados pelo estado de São Paulo, além de outro projeto fracassado que foi a tentativa de eletrificação da linha tronco da EFCB ligando o Rio a São Paulo também nunca concluído e posteriormente abandonado, não foram suficientes para mostrar aos defensores de tais ideias que elas são inaplicáveis na pratica. São fracassos esquecidos e não considerados pelos inteligentes de plantão.

Quando se pensa no retorno do trem regional não se deve pensar, para a implantação de tais trens, o uso de veículos elétricos

Byron Bay Train é o primeiro trem movido a energia solar do mundo. Fica na Austrália e é um trem de caráter turístico. Para operações regulares e constantes o Diesel como fonte de energia é a que oferece melhor relação custo-benefício.
Fonte: Byron Bay Train

Lamentavelmente parte da sociedade ainda não atingiu um nível cultural que permita a tais instalações permanecerem ilesas. O risco de vandalismo é enorme. Ocorre frequentemente com o sistema operado pela Supervia, por exemplo. O uso de veículos a diesel é fundamental para o funcionamento satisfatório e seguro do sistema. Ademais os modernos veículos existentes tem consumo próximo ao de ônibus, e com a vantagem de transportar mais passageiros.

:arrow_right:Portanto essa ideia, propagada por conta das agendas politicamente corretas de uso de veículos movidos a energia sustentável como a energia elétrica, é simpática mas transposta para o mundo real não se sustenta.:arrow_left:

É algo caro para implantar e difícil de fiscalizar.

Um exemplo dessa bizarrice, é a proposta que circula entre alguns integrantes do setor, de utilizar os trens aposentados da Estrada de Ferro Corcovado para a subida da Serra de Petrópolis. Em princípio parece uma boa ideia, mas deixa várias perguntas sem resposta:

  • Qual o custo de seguranças armados a cada 100 ou 200 metros para garantir a integridade dos cabos de energia, alimentação desses veículos?
  • Como ficará esse custo embutido no valor da passagem?
  • O valor da passagem, com esse custo embutido, torna o negócio viável?
  • Colocar Policiais Militares para isso, deixando o policiamento comum, seria correto?
  • Quanto a construção de uma ou duas subestações de energia, para alimentação e funcionamento do sistema, impactaria no valor total do projeto ?
  • E não adianta propor o monitoramento por câmeras. Quem propõe isso nunca viu a velocidade e as técnicas ninja usadas pela turma especialista em roubar cabo telefônico e cabo de energia. Os funcionários da Supervia, que opera em área predominantemente urbana, sabem disso. Imaginem na subida da Serra de Petrópolis que atravessa muitos trechos ermos.

Composição da EF Corcovado, recentemente substituída por trens mais modernos
Fonte: Wikimedia

Só para lembrar aos nossos críticos: a Estrada de Ferro Corcovado fica em local relativamente contido, com características geográficas próprias.

Outra lambança em curso em alguns estados é o uso das locomotivas diesel oriundas da RFFSA para tracionar trens de passageiros. Isso também não tem a menor possibilidade de funcionar a contento. Temos repetido exaustivamente aqui em nossos textos.

Trem de passageiro no Brasil nunca deu lucro quando as composições eram tracionadas por locomotivas a diesel

Trem Turístico operado pela Vale em Ouro Preto-MG, tracionado por uma locomotiva a diesel de alta potência, normalmente utilizada para tração de trens de carga.
Como citado, este tipo de operação não traz lucro. É subsidiada pelo intenso transporte de carga que a empresa realiza.
Foto: Sylvio Bazote

E o motivo é simples: o uso de locomotivas com motores com potência acima de 1000 HP, adequadas para graneis, são inadequadas para passageiros. Isso ocorre pelo consumo desnecessário e estratosférico de combustível. Portanto qualquer projeto de retorno do trem de passageiros que leve em conta o uso de tais locomotivas está fadado ao fracasso, e foi desenvolvido por alguém que na realidade não entende que ferrovia é um negócio, que precisa ser lucrativo.

Trem que realiza o serviço de passageiros entre os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, também operado pela Cia.Vale. Tracionado por locomotivas de grande potência, adequadas para trens de carga, este serviço não traz retorno financeiro suficiente para gerar lucro, mas traz um retorno social. Os custos são cobertos pela intensa operação de carga realizado pela própria empresa.
Foto: Lincon Zarbietti (O Tempo)

Abaixo veículos possíveis de serem fabricados no Brasil pela empresa Cearense Bom Sinal. São VLTs, convencionais, mas com o interior modificado. Veículos a diesel e de Bitola Métrica, ideais inclusive para as ferrovias Mineiras.

Veículos com motor de 440 HP, consumo de diesel próximo ao de ônibus rodoviários, sem consumo de pneu e suspensão. Veículos fabricados especificamente para esse objetivo.

Vamos deixar claro o seguinte: essa propaganda, até o presente momento, gratuita que a AFTR faz de tais veículos decorre simplesmente do fato de que são os únicos veículos atualmente fabricados no Brasil adequados para transporte regional de passageiros. Se outras empresas começarem a fabricar tais veículos será muito bom para o Brasil e sabendo disso, nós divulgaremos.

Modelo MOBILE 2R
106 a 122 PASSAGEIROS SENTADOS
COMPRIMENTO 38.510 mm

 

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Agradecemos a leitura. Até a próxima !

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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