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Olá, Amigas e Amigos.
Em um primeiro momento pode-se perguntar o que um assunto tem a ver com o outro? O que Getúlio teve a ver com a falência e extinção dos Bondes no Rio de Janeiro?
Mas teve mesmo, e muito… leia e confira.
Bem vindos a mais um artigo exclusivo do site AF Trilhos do Rio. Agradecemos a visita e desejam a todos uma excelente leitura!

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Mostrar documentalmente o quanto Getúlio Vargas foi deletério para o Brasil daria um livro. Se hoje somos um país de terceiro mundo com enormes diferenças sociais, devemos “agradecer” a este senhor. Mas para quem foi doutrinado a acreditar o contrário, realmente fica difícil de aceitar isso.

O motivo do fracasso das ferrovias no Brasil (9 – II) – Getúlio Vargas

No caso dos trens, já mostramos isso em inúmeras postagens. Mas e no caso dos Bondes? Como ele conseguiu estragar isso também? Leonel Brizola dizia que o Rio de Janeiro era o tambor do Brasil. O que rufava aqui era escutado em todos os estados. Isso era verdade no passado, hoje infelizmente não é mais. No passado o Rio de Janeiro ditava tendências. Éramos a capital federal. No caso dos Bondes, a primeira cidade a ter um serviço regular de Bondes, inicialmente a tração animal e posteriormente a energia elétrica, foi o Rio de Janeiro, em 1858/1859. E isso se espalhou pelo Brasil.

Bonde de tração animal que fazia o trajeto entre Madureira e Irajá. Imagem: Acervo Light

E tudo era bancado pelo empresariado. Aqui no Rio de Janeiro, a concessão dos Bondes em sua fase final pertencia à Light. Foi quem eletrificou parte do sistema ao comprar outras empresas de Bonde já existentes. E essa participação do empresariado era regra em todo o Brasil, com vários exemplos que podem ser mencionados. Carlos Alberto Morsing, personagem citado várias vezes em nossas postagens e com trajetória em tantos detalhes esmiuçada que vai virar um livro 👀, também foi proprietário de uma empresa de bondes, por exemplo.

Bonde em São Paulo. Imagem: Pinterest

Esclarecimento Histórico: A Light Paulista, posteriormente Eletropaulo e atualmente Enel, surgiu primeiro que a Light Carioca. A Light Carioca surgiu depois e construiu a Represa de Ribeirão das Lajes. Surgiu para explorar energia. Só depois ingressou no segmento de Bondes, que já existiam, absorvendo diversas empresas. Isso nas décadas de 1910 e 1920.

Ao assumir o poder pelo golpe em 1930, Getúlio Vargas, entre outras estrepolias, determinou o congelamento do preço das tarifas dos bondes e das passagens ferroviárias. Quem viveu no governo Sarney com congelamento/tabelamento de preços sabe o que isso significou. Num primeiro momento, todos acharam maravilhoso, mas depois as coisas começaram a desaparecer e os serviços passaram a ter uma qualidade horrorosa.

Comitiva do presidente Getúlio Vargas chegando à ilha da Marambaia, em Mangaratiba, em um bonde puxado por meninos uniformizados, na ocasião da implantação da escola de Pesca Darcy Vargas em 1939. Imagem: Research Gate

Em relação às leis econômicas viver fora dali, o faça por sua conta e risco. E Getúlio desrespeitou uma dessas leis ao congelar os preços das tarifas. Por conta disso, empresas como a Light, no Rio, deixaram de investir nos Bondes. E pelo Brasil afora, diversas empresas fizeram o mesmo ou simplesmente fecharam. Relatos sobre o que aconteceu em Vassouras, em Petrópolis e em Além Paraíba-MG, cidades que também tinham redes de bondes, e em Santos-SP, mostram isso de forma transparente. No caso de Santos, a City, que fornecia a energia e operava os Bondes, achou melhor sucatear os Bondes a operar no prejuízo. Com o tempo, os serviços que de forma mesmo precária ainda operavam foram transferidos para as mãos do estado. Assim foi no estado da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro.

Imagem: acervo da Prefeitura de Santos-SP

Observem que essa “transferência” sempre gera indenização para quem transfere. Isso está no Código Civil desde sua criação e na própria Constituição Federal. No custo dessa “transferência”, muita coisa acontece.

Aos interessados, pesquisem o Artigo 1228 do Código Civil, que trata do assunto, ou o Artigo 5º, Inciso XXIV, da atual Constituição Federal: “A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”. E isso já estava previsto nas constituições anteriores e nas primeiras redações do Código Civil.

No caso do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda assumiu o governo em 1961 e “recebeu” da Light os Bondes em 1963. De que forma, não sabemos. Se viu então na situação de dar um tarifaço que permitisse recompor o caixa da companhia que operava os Bondes, ou extingui-los. Esse tarifaço o deixaria em situação bem ruim com a população e faria a festa para seus opositores. Fez algo que certamente a maioria de nós imaginaria, resolveu extinguir o serviço de Bondes.

 

Ficou com a fama, mas sinceramente, quem no lugar dele faria diferente? E como a população entenderia isso?

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A operação dos Bondes pela Light Rio já apresentava inúmeras deficiências, justamente por ter tido seu valor de tarifa congelado por Getúlio Vargas durante parte da década de 30. Isso provocou um enorme déficit nas contas do setor da Light que cuidava dos Bondes. Nossos Bondes nunca passaram da terceira geração. Não eram substituídos e modernizados, causando enorme desgaste junto à população.

Inúmeros protestos aconteceram, tanto pela qualidade dos serviços como pela intenção da Light em recompor o caixa do setor dando um tarifaço, a ponto de Juscelino Kubitschek, o então presidente, ter interferido na questão. A então UNE – União Nacional dos Estudantes provocou protestos violentos.

Sendo assim, Carlos Lacerda tomou a atitude na época mais coerente, resolveu extinguir o serviço de bondes.

Novamente, citaremos aquela famosa frase de Brizola de que o Rio de Janeiro era o tambor do Brasil. Ele, na época, sabia bem o que estava dizendo. Essa atitude de extinguir os Bondes foi seguida por governantes de norte a sul do Brasil. Se os motivos foram os mesmos ou houve algum planejamento visando a sua substituição, não sabemos. Sabemos apenas o que aconteceu em Santos-SP. O mais provável foi o efeito manada, se eles fizeram, faremos também. O psicólogo polonês Salomón Asch explicou isso, seria algo como o uso das máscaras faciais, que segundo dizem não existia e nem existe estudo aprofundado sobre o assunto, apenas uma recomendação da OMS. Mas se todos estão exigindo que se use, exigiremos também.

 

O fato é que os bondes foram extintos e os que sobraram foram maçaricados.
Essa foi a realidade dos fatos.

 

Existem muitas histórias envolvendo o assunto, nenhuma com comprovação. A mais famosa envolve a possibilidade de que ele extinguiu os bondes para privilegiar os automóveis, copiando a situação acontecida nos Estados Unidos e comprovada lá, onde a GM comprou diversas empresas de bonde e as sucateou para vender automóveis. Essa hipótese só surgiu no Brasil no início do século XXI, com o advento da Internet.

Outra hipótese foi de que ele extinguiu os bondes para privilegiar os empresários de ônibus, hipótese que não se sustenta dado ao pouco poder financeiro e político que tais empresários tinham na época. Sobre nenhuma dessas hipóteses nada podemos afirmar, apenas relatá-las, mas a hipótese mais plausível é a da necessidade do tarifaço, tendo em vista os balanços da Light, esses sim ainda disponíveis para consultas.

 

O VLT CARIOCA

O VLT Rio, um meio de transporte vitorioso, opera no centro da cidade do Rio de Janeiro. Nada mais é do que a oitava versão do Bonde, criado lá no início do século. Não é um “novo” meio de transporte, é a modernização daquele Bonde que rodava pelo Rio de Janeiro e foi usado até por D. Pedro II. Quem acompanhou as obras do VLT viu a enorme quantidade de trilhos antigos removidos para dar lugar aos trilhos novos, mostrando que o VLT foi a modernização de um serviço secular que estava enterrado. Em muitos trechos, praticamente o mesmo traçado.

Entendam: Bonde e VLT são a mesma coisa, modais de baixa capacidade. O que os diferencia apenas é o tempo em que foram lançados, com seus respectivos avanços tecnológicos.

Basta ver fotos antigas que veremos que a rede de Bondes do Rio de Janeiro não foi modernizada. Tínhamos, ao final da década de 50, Bondes idênticos aos da década de 20 e 30. Quem viveu essa época e relatou para os netos, pessoas hoje na faixa de 50 anos, relatou sobre a precariedade dos Bondes, e essas pessoas hoje lembram bem disso.

Se considerarmos os Bondes de Santa Teresa como a primeira geração e os Bondes operados pela Light como a terceira geração, estacionamos ali. Enquanto em outros países do mundo a coisa foi evoluindo, aqui estacionou. Isso aparece de forma nítida ao observarmos os Bondes existentes em Santos-SP, de propriedade da prefeitura daquele município, no chamado Museu aberto dos Bondes, onde veículos de vários países e várias épocas estão lá em exposição e eventualmente trafegando pela cidade.

E encerramos aqui com uma pergunta, com duas possíveis respostas.

O que é mais interessante para mostrar conhecimento e falar para a família no almoço de domingo ou para os amigos no churrasco?

Falar sobre:

• A Teoria da Conspiração de que o empresário de ônibus malvadão acabou com o bonde? Empresários esses que economicamente eram inexpressivos na década de 60.

• Ou falar a verdade e criticar, segundo alguns, o pai dos pobres e, segundo outros, o maior presidente que o país já teve? (maior não era, pois era baixinho, tinha só 1,63m)?

Vejam como uma decisão estúpida tomada na década de 30 repercutiu em outra tomada na década de 60. Trinta anos depois.

Pensem.

Abaixo textos sobre bondes feitos pelo saudoso (e membro do fórum Trilhos do Rio!) Allen Morrison.

Bondes em Alem Paraíba. http://www.tramz.com/br/ap/ap.html

Bondes em Campos de Goytacazes. http://www.tramz.com/br/cg/cgp.html

Bondes em Campinas, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Niterói http://www.tramz.com/br/ch/ch1e.html

Abaixo algumas imagens de bondes em outras cidades:

Informação bônus: a influência de Getúlio Vargas em relação aos Bondes chegou também através da cultura, pois em 1937 ele assinou um decreto que obrigava os enredos de escolas de samba a só falarem de temas “patrióticos e históricos”. E um dos exemplos de censura mais lembrado é o visto abaixo: “Bonde São Januário”, música produzida por Ataulfo Alves e Wilson Batista.

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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