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Por Mozart Rosa

Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor como um todo, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.

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A historia é longa, por isso antes de finalizarmos dividimos o nono capítulo desta série em três partes. Vamos à segunda parte agora. Boa Leitura a todos.

09 – O Motivo do fracasso das ferrovias no Brasil: quem efetivamente acabou com as ferrovias no Brasil (Parte 2)

Getúlio Vargas: o homem, o mito e certamente o personagem histórico Brasileiro cuja história foi mais deturpada.

Getúlio foi um ditador e deu um golpe. Se voce não soube disso na escola o seu professor de história possivelmente negou o fato. Pesquise a partir de livros escritos no exterior sobre esse período ou nos arquivos de jornal. Getúlio era um admirador do Fascismo e do Nazismo, também admirador do trabalho de Joseph Goebbels e uma de suas primeiras açoes foi criar o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda. Órgão extremamente eficiente, que criou para Getúlio a imagem do Vovô bonachão e bonzinho.

Getúlio Vargas, durante a Revolução de 1930, na estação ferroviária de Itararé-SP
Foto: Claro Jansson (1877-1954)

E onde entra a ferrovia nisso tudo?

Em 1930 o Brasil, um imenso país continental que ainda era desconhecido pela maioria dos Brasileiros, tinha apenas quatro, sim, apenas QUATRO instituições com abrangência nacional:

  • O Exército.
  • A Igreja.
  • Os Correios.
  • As Ferrovias.

Sim, as ferrovias. As ferrovias em 1930 chegavam a mais de 800 municípios. Ferrovia é um negócio e como qualquer negócio, seja a lojinha da esquina seja o tradicional e centenário banco secular, quando não administrados corretamente quebram financeiramente. Simples assim. Dentro desse processo era normal empresas ferroviarias quebradas serem devolvidas ao governo.

Ferrovias existentes em 1930
Fonte:  I Centenário das ferrovias brasileiras (IBGE)

Pra quem não sabe ou tem noção de como funcionam algumas coisas, as empresas quebram quando mal administradas.

A partir do governo Getúlio as empresas entregues ao governo e que deveriam ser repassadas para novos empresários simplesmente continuaram nas costas do governo com o mesmo, bancando suas operações e obviamente nomeando para essas empresas todos os amigos possíveis. Começa ali o empreguismo estatal no Brasil.
Getúlio que era extremamente inteligente, e viu na encampação das ferrovias a possibilidade de, além de possuir uma instituição extremamente capilar e bem quista por todos, ter a chance de dar emprego a todos os amigos e apoiadores. Getúlio tinha seu vagão presidencial que inteligentemente usava em inaugurações e sempre era muito fotografado. Ele era o rei do Marketing de sua época.

Vagão presidencial de Getúlio Vargas, pertencente ao acervo do Museu Ferroviário do Engenho de Dentro
Foto: Cláudia Amorim de Jesus

Acontece que era só isso marketing. Não existia eficiência nas empresas encampadas, foi ali que o desastre começou.

Se ao ler alguma tese de mestrado ou doutorado, falando sobre a queda das ferrovias, a mesma não informe esses fatos, não merece ser considerada em sua totalidade. Considere assim também qualquer tese que queira entender o Brasil. Ali começaram as nossas mazelas: o empreguismo, o gigantismo do estado, boa parte do fracasso do Brasil como nação e do setor ferroviário como atividade econômica, isso tudo começa com Getúlio.

E muitos comentários ainda citam como culpados apenas o empresário do ônibus e da industria automobilística… são muitos e diversos fatores envolvidos, vamos refletir.

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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