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Tempo de leitura: 7 minutos

Artigo publicado em 09 de setembro de 2023 às 11h55
Última atualização em 10 de setembro às 3h58

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Olá, Amigas e Amigos.
Hoje iremos falar sobre duas empresas famosas, consagradas no gênero alimentício, e que tiveram a ferrovia utilizada a seu favor.
Curiosos para saber o que isso tudo tem a ver?
Bem vindos a mais um artigo exclusivo do site AF Trilhos do Rio! Desejamos a todos uma excelente leitura!

A Heinz e Swift, além de hoje serem reconhecidas como grandes empresas de alimentos, multinacionais famosas e poderosas, têm na origem de seu sucesso não apenas seus produtos, mas um fator em comum: as ferrovias.

Elas só cresceram e se tornaram líderes de mercado porque no passado apostaram nas ferrovias para distribuição de seus produtos. A Swift, originalmente criada nos Estados Unidos no século XIX, diferente dessa versão atual comprada pelo JBS que atualmente se dedica à comercialização de carnes nobres em suas lojas, foi a primeira empresa do mundo no século XIX a processar carnes em abatedouros centralizados. Isso era inexistente até então; anteriormente, os bois eram abatidos e desossados em pequenos abatedouros de forma quase artesanal.

A Swift foi pioneira no processo industrial de abate e desossa de carnes em grande escala. Para receber os bois de locais distantes para o abate e entregar a carne processada, era preciso um meio de transporte eficiente. Sendo assim, a Swift optou pelo uso do trem, na época uma novidade. Isso possibilitou com o tempo que a Swift se tornasse um dos maiores frigoríficos do mundo.

Imagem: Trains.com

Aqui no Brasil, ela fez a fortuna do Sr. Wolfe White Watkins, ou como é conhecido em Mesquita, apenas Mr. Watkins. Ele era o dono da SONAREC, Sociedade Nacional Reconstrutora, uma empresa que não existe mais e estava localizada no município de Mesquita, no local ocupado atualmente pela prefeitura. Ela deve ter fabricado, em parte ou em sua totalidade, os mais de 4000 vagões frigoríficos que a Swift tinha aqui no Brasil para transporte de carnes.

Uma curiosidade. Esses vagões não tinham as máquinas de refrigeração que vemos hoje nas ruas, nos caminhões de sorvete, carnes e outros produtos frigorificados. Eram vagões fabricados com chapas de zinco, e a refrigeração era feita por blocos de gelo.

O mesmo aconteceu com a Heinz, que resolveu deixar de ser uma empresa regional nos Estados Unidos para ser uma empresa de atuação nacional. Para isso, usou as ferrovias para distribuição de seus produtos. De uma pequena fábrica de molhos com distribuição regional, ao optar por transportar por trem seus produtos para todo os Estados Unidos, ela se tornou uma empresa com distribuição nacional, uma sacada do Sr. Henry John Heinz, criador da marca. Assim como a Swift, ambas criadas no século XIX. Ambas se tornaram líderes de mercado graças ao trem.

Imagem: Pinterest

Até então, as ferrovias transportavam basicamente como na Inglaterra: carvão e minério de ferro. A partir dali tudo mudou, e as ferrovias passaram a transportar de tudo, uma versão americana do que chamamos aqui na AFTR de “estilo Leopoldina de ser”.

 

O Estilo Leopoldina de ser – Parte 01

O Estilo Leopoldina de ser – Parte 02

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Ao transportar esses produtos, as ferrovias fizeram a sua mudança de chave. Novos tipos de vagões foram construídos, novos tipos de operações foram criados. A partir dali, tudo mudou; passaram a ser empresas de transportes múltiplos, o modelo atual disso no Brasil seria a operação da Rumo Logística.

Imagem: site Empreender em Goiás

Cornelius Vanderbilt entendeu essa nova realidade da época e surfou nessa onda, atuando nesses novos segmentos de transporte que surgiam. Tornou-se o primeiro milionário das ferrovias. Tudo, absolutamente tudo, passou a ser transportado pelas ferrovias.

 

No Brasil, o primeiro frigorífico a ser construído foi em Barretos-SP, por Antonio Prado (1840-1929), e chamava-se “Companhia Frigorífica e Pastoril”. Antonio Prado deve ter ouvido falar do sucesso da Swift, pois era um dos maiores acionistas da “Companhia Paulista de Estradas de Ferro” e espertamente uniu as ferrovias ao frigorífico.

Imagem: blog EF Paulista

No Brasil, a Swift desembarcou em julho de 1917 na cidade do Rio Grande-RS, iniciando a construção de um frigorífico. Nesse período, a Swift começou a diversificar seus produtos. Além da carne bovina fresca, a empresa oferecia uma ampla gama de produtos industrializados e de origem animal, como presunto, salsichas, bacon, carne de frango, ovos, manteiga, entre outros produtos, junto com os bois para abate. Tudo era transportado pelas ferrovias.

Imagem: divulgação

Não podemos afirmar, mas acreditamos que a Swift, nos Estados Unidos, abriu as portas para um novo modelo de transporte ferroviário que existe até hoje. Diversos motivos ajudaram a transformar os Estados Unidos na potência econômica que dominou o mundo após o final da Segunda Guerra Mundial. Um dos fatores foi a liberdade econômica que, desde a independência do país, permitiu que empreendedores criassem empresas como Heinz e Swift, além de diversas outras empresas que, se nominássemos aqui, daria um tratado. A base do sucesso de nossos vizinhos do Norte sempre foi o liberalismo, diferente de nossos governantes pós-império com forte visão positivista, que viam o estado como indutor de desenvolvimento. Isso está bem detalhado no livro do Sr. Ademar Benevolo de 1953. Pena que ele tenha falecido meses após a edição do livro, não tendo como divulgá-lo.

Capa do livro Introdução à História Ferroviária do Brasil, uma brilhante publicação de Ademar Benévolo que pode ser encontrada na internet e, em breve, na Biblioteca Digital da AFTR. Imagem: divulgação

Outro fator que ajudou muito ao sucesso das empresas americanas foi sua rede de ferrovias, que contribuiu muito para que empresas como Heinz e Swift distribuíssem seu produto por todo o país. Um outro exemplo que não citamos foi a Hershey, que também surfou nessa onda. Talvez se nossos administradores não fossem tão provincianos e míopes, como bem escreveu o Sr. Ademar Benevolo, nossa história poderia ser diferente. Um exemplo de sucesso, e não o atual exemplo de fracasso.

Sendo que esse modelo já existia no Brasil desde o início da operação da E.F. Mauá.Leiam nossas postagens sobre o Estilo Leopoldina de Ser.

Obrigado aos que chegaram aqui.

 

Imagem de capa: Youtube, canal The Henry Ford

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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