Tempo de leitura: 7 minutos

Texto redigido por Mozart Rosa e revisado por Daddo Moreira*

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Olá, Amigas e Amigos! Bem vindos a mais um artigo do site AF Trilhos do Rio.
Hoje, como de costume, publicaremos neste texto várias informações e curiosidades, esperamos que curtam!
Desejamos a todos uma excelente leitura!


Sempre dissemos que ferrovias são negócios e devem ser tratadas como tal. Hoje explicaremos o que são planos de negócios, e para isso trazemos um interessante texto onde apresentamos o modelo de negócio que foi usado por Chico Recarey, famoso empresário carioca da década de 1980, e de como esse modelo pode ser adaptado às ferrovias.

Plano de Negócios é um conjunto de estudos feitos para avaliar se uma proposta de negócio é viável ou não. Essa proposta pode surgir a partir de negócios idealizados pelo empresariado ou pelo setor público. Um plano de negócios serve para a instalação desde uma lojinha até um hospital, uma hidroelétrica ou um complexo de ferrovias.

Infelizmente, temos no Brasil exemplos de obras públicas iniciadas sem existir nem mesmo o projeto executivo ou, ainda pior, outras cuja verba foi liberada a partir apenas de apresentações de Power Point. A Ferrovia do Aço e o Metrô de Macaé são infelizes exemplos disso.

A Ferrovia do Aço e o Projeto Executivo

Projetos inadequados e suas aplicações equivocadas 4 – Metrô de Macaé

Quando o empresário comete erros, ele paga pelo prejuízo. Quando o setor público comete erros, pagamos todos nós. No plano de negócios, deve-se deixar bem claro qual será o custo total do empreendimento, como esse custo será pago, quem vai pagar, que nicho de mercado pretende atender, quais as fontes de receitas, qual a clientela e as perspectivas de faturamento, tudo. Daí sua importância.


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Diversos estudos precisam ser feitos antes que uma única despesa com a obra seja feita, principalmente quando esse projeto envolve mobilidade. Nós, da AFTR, elaboramos uma cartilha sobre os estudos necessários para a elaboração de um projeto de mobilidade. Vejam abaixo:

Cartilha de mobilidade

Infelizmente, aqueles que dizem amar as ferrovias, em suas propostas, nunca se lembram de apresentar um plano de negócios para suas ideias, apenas jogam ideias vagas para a plateia, que se resumem a gerar impacto e comoção.

“O governo deveria restaurar esse trecho e fazer passar um trem de turismo aqui”. Na maioria das vezes, quem propõe isso nunca operou um atrativo turístico na vida, desconhece o custo disso e ignora que a construção e operação de ferrovias são atribuições do empresariado.

“O governo deveria fazer uma ferrovia ligando a cidade A à cidade B”. Na maioria das vezes, quem propõe isso nunca operou um negócio na vida, ignora diversas variáveis, desconhece o que seja um plano de negócios e ignora que a construção e operação de ferrovias são atribuições do empresariado.

Mostramos aqui apenas algumas ideias sem sentido, mas várias são comumente apresentadas, principalmente nas Assembleias Legislativas Estaduais, para deputados interessados no setor, em empresas e autarquias estaduais que, em tese, deveriam ser responsáveis por fomentar o setor. A maior prova de que essas ideias carecem de qualquer sentido ou fundamento lógico e econômico é que nunca são concretizadas; basta olhar ao redor e ver que nada acontece.

Devemos considerar também o fato de que dirigentes de empresas estatais, no caso do Rio de Janeiro a Central Logística, pouco ou nada entendem do setor e, para tentar entender, escutam essa legião de ingênuos despreparados, mas que por estarem sempre presentes, conseguem ser ouvidos. Afinal, a máxima “Em terra de cego, quem tem um olho é rei” aqui se aplica com maestria, são cegos querendo guiar cegos.

Abaixo, apresentamos um conjunto de propostas de modelo de negócio para o setor, que acreditamos poder servir de base para eventuais projetos futuros.


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PROPOSTAS DE MODELO DE NEGÓCIOS APLICADOS ÀS NOVAS FERROVIAS

Propostas para a criação de novas empresas ferroviárias, tendo sempre como base o empresariado.

(Empresa A) Companhia Dona da Ferrovia
Empresa que receberá a autorização de construção de uma nova ferrovia, onde seria permitido à empresa dona dessa autorização ter sócios a seu bel prazer (no início do século XX era assim).
Essa empresa, além de ser dona da via permanente e responsável pela sua manutenção, será responsável pelo CCO da via, fornecendo seus produtos e serviços às diversas empresas interessadas em utilizar a via. Explorando e recebendo por isso o subsolo e a faixa de domínio, para uso de cabos de internet, cabos telefônicos, cabos de energia, gasodutos, torres de celular, tudo o que o subsolo e a faixa de domínio puderem comportar.

(Empresa B) Companhia de Transporte Ferroviário
Empresa de transporte ferroviário com composições para seu uso específico, eventualmente de transporte de carga ou de uso misto, que pode ter ou não na sua composição acionária os mesmos sócios da empresa A. Essa empresa pagaria à Empresa A pelo uso da via permanente.

(Empresa C) Companhia de Transporte Ferroviário
Empresa de transporte ferroviário com composições para seu uso específico, eventualmente de transporte exclusivo de passageiros, que pode ter ou não na sua composição acionária os mesmos sócios da empresa A. Essa empresa pagaria à Empresa A pelo uso da via permanente.

(Empresa D) Companhia de Transporte Ferroviário
Empresa de transporte ferroviário com composições para seu uso específico, eventualmente de transporte exclusivo de lixo, que pode ter ou não na sua composição acionária os mesmos sócios da empresa A. Essa empresa pagaria à Empresa A pelo uso da via permanente.

Diversas empresas transportando diversos produtos. Que podem ter ou não diversos sócios entre si.
Esse modelo de negócio com diversos sócios, entrelaçados em diversos negócios, foi muito usado no passado no Rio de Janeiro, talvez no Brasil, por comerciantes portugueses e espanhóis, que se popularizou nas casas de show, restaurantes, lanchonetes e até alguns anos atrás era usado até nas empresas de ônibus.


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E o que Chico Recarey, citado no início do texto, tem a ver com tudo isso?

Chico Recarey, famoso empresário do setor de casas de shows e restaurantes do Rio de Janeiro na década de 1980, nunca foi o único proprietário de seus empreendimentos; ele apenas aparecia como o rosto do grupo. Por trás dele, havia uma vasta quantidade de sócios em cada um dos empreendimentos que ele administrava. Esse modelo de negócio é muito semelhante ao que defendemos, e gerou muita riqueza para os envolvidos, além de ter capilarizado os negócios.

Existia e ainda existem clubes no Rio de Janeiro fundados e frequentados por Portugueses e Espanhóis, onde esse pessoal frequentemente se encontrava, e entre um coelho assado, uma sardinha frita e muito bacalhau, era nesses encontros que as negociações aconteciam. Novas casas de show, novas pizzarias, novas empresas de ônibus, muito do desenvolvimento empresarial do Rio de Janeiro foi gestado ali, entre uma taça de vinho e muita comida.

Este pode ser um caminho.

Aviso Importante: Este texto, bem como os modelos de negócios apresentados, embora simplórios, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento do setor, desde que se saiba interpretar o que está escrito, mas não necessariamente dito.

Temos outros modelos de negócios que não serão apresentados aqui, mas entendemos que o início da recuperação do setor, mais do que verbas, necessita de uma legislação menos coercitiva e de novas ideias, e isso nós temos.

 

Texto escrito em 24 de fevereiro de 2024 às 14h03
Última atualização em 10 de março de 2024 às 08h17
Imagem de capa: gerada por Inteligência Artificial DALL-E 3

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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