Texto de Mozart Rosa, revisão e introdução de Daddo Moreira*
Olá, amigas e amigos. Hoje falaremos sobre dois assuntos que aparentemente não tem nada a ver: a terceira linha da estação Acari do Metrô, e a estação Barão de Mauá, nossa querida Leopoldina.
De quebra, ainda abordaremos assuntos diversos e até mesmo um pouco de cultura pop.
Curiosos para entender melhor sobre esse artigo? Então sejam bem vindas e bem vindos, agradecemos a visita e desejamos a todos uma excelente leitura!
A ESTAÇÃO ACARI DO METRÔ E SUAS TRÊS LINHAS
Quando da construção do metrô no Rio de Janeiro, diversas previsões de expansões foram feitas, e para isso diversos terrenos foram reservados. Um deles foi em Acari, entre a Av. Brasil e a linha do metrô. Nesse terreno, seriam construídos uma série de galpões que serviriam de oficina e garagem para trens, visando auxiliar a expansão do sistema.
Anthony Garotinho, ao assumir o governo do estado, manteve a tradição dos governantes populistas do Rio de Janeiro e ignorou qualquer projeto de melhoria da mobilidade do carioca ou do desenvolvimento econômico do estado. Simplesmente mandou construir no terreno uma série de casas populares, uma versão própria do projeto “minha casa, minha vida”, e assim enterrou a perspectiva de uma expansão do metrô mais racional. Qualquer um poderá observar que, tirando as estações terminais como a Saens Peña, a estação de Acari é a única estação intermediária da Linha 2 a ter três linhas: essa linha do canto daria acesso às oficinas.


Uma expansão que seria bem mais barata do que a que foi feita de forma não republicana para as Olimpíadas de 2016, como mostrou a operação Lava Jato. Seriam trechos, em sua maioria, acima da terra e não subterrâneos. Contamos essa historinha real para mostrar como a falta de visão e, eventualmente, a incompetência de um governante prejudica uma população e tentar evitar que isso se repita.
OBJETIVOS DA PREFEITURA PARA A ESTAÇÃO LEOPOLDINA E ARREDORES
É preocupante ler o artigo abaixo publicado pela AFTR, onde a prefeitura pretende construir 600 residências nos terrenos anexos à estação Leopoldina. Nada contra fomentar a falta de habitação, mas são sempre casas populares, parece que é só isso que essas pessoas sabem fazer.
Obras prometidas para os arredores da Leopoldina incluem expansão do VLT
O Rio de Janeiro é um dos poucos estados do Brasil que possui uma estação ferroviária do porte da Leopoldina em sua área central, estação que, conforme projetos já apresentados pela AFTR, seriam todos patrocinados pela iniciativa privada e poderiam receber os futuros trens de:
– Petrópolis;
– Itaboraí;
– Região dos Lagos;
– São Paulo, incluindo Aparecida do Norte como estação intermediária e trens especiais em eventos específicos, anualmente.
Nunca é demais lembrar: projetos patrocinados e operados pelo empresariado. Este nome, empresariado, parece provocar ojeriza e asco nas pessoas que cuidam do setor de mobilidade, funcionários dos órgãos públicos responsáveis por isso. E são esses empresários que poderiam viabilizar a expansão do sistema.
A inépcia das pessoas que tratam desse setor é gritante. Veem aquele enorme espaço vazio apenas como local para construção de casas e não como local indutor da economia de nosso estado. É lamentável a falta de visão dessas pessoas. O imóvel da estação se encontra fechado e abandonado há pelo menos 20 anos, e em todos esses anos nada foi feito pelo governo do estado, que desistiu de fazer qualquer coisa, simplesmente por não ter em seu corpo técnico pessoas capazes disso, capazes de enxergar o óbvio: aquela é uma estação ferroviária e deveria ter em suas plataformas trens. O que fizeram: simplesmente a entregam à prefeitura, e ainda tem parte de seu terreno que até hoje é ocupado pelas aduelas do metrô.
Essas pessoas que administram o setor, seja no governo do estado ou na prefeitura, têm uma mente que parece ser incapaz de pensar fora da caixa, e os resultados sempre são desastrosos. Na realidade, nada foi feito, pois, como já mostramos, frequentemente as pessoas nomeadas para os órgãos que deveriam cuidar disso pouco ou nada entendem do setor ferroviário ou de mobilidade. Isso explica nunca conseguirmos ter uma malha ferroviária parecida com a europeia, ou mesmo como a paulista.
ATÉ QUANDO ISSO ACONTECERÁ?
Abaixo, links de dois projetos da AFTR, o primeiro trata da revitalização da Estação Leopoldina e de seus arredores com função ferroviária, e o segundo trata do trem para Petrópolis. Aqui apresentamos apenas dois, temos muito mais, inclusive beneficiando cidades do estado de Minas Gerais.
Aproveitamos para apresentar abaixo uma questão matemática, algo que parece que os envolvidos nesse projeto desconhecem:
– 600 casas construídas vão beneficiar, aproximadamente, 1.800 pessoas.
– A reforma da Estação Leopoldina e seu uso ferroviário beneficiariam, em uma etapa inicial e diretamente, pelo menos, 100.000 pessoas.
Qual a lógica disso? Nem contas eles sabem fazer? Desconhecem os conceitos básicos de custo/benefício?
Contaremos aqui uma pequena historinha famosa em cursos de vendas que ilustra bem a situação, mostrando como duas pessoas diferentes encaram a mesma situação segundo sua própria perspectiva.
Dois vendedores de sapatos são designados para um país da África. O primeiro manda para a empresa uma mensagem pedindo demissão com o seguinte texto: “Aqui ninguém usa sapatos, me demito”. O segundo manda a seguinte mensagem: “Obrigado pela oportunidade, aqui ninguém usa sapatos, ganharei muito dinheiro vendendo muitos sapatos”.
Nós, da AFTR, podemos dizer que seríamos o segundo vendedor.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
O que certamente poucos sabem é que essa história acima é real. Era contada aos que iam trabalhar na Calçados Clark. É a história daqueles que vieram montar um negócio da Clark no Brasil em 1830. A Clark foi a fábrica de sapatos mais antiga e a mais longeva do Brasil, tendo fabricado os sapatos da coroação de D. Pedro II e funcionou no país até a década de 1960, foram mais de 130 anos produzindo, e ainda existe na Inglaterra. Durante vários anos, forneceu também os sapatos usados pelo pessoal da Força Pública de São Paulo.
Seu primeiro representante no Brasil, vendo o estado do país onde muitos andavam descalços e o que se conhecia como sapatos eram pedaços de couro e outros materiais amarrados nos pés, ou ainda tamancos de madeira, pediu para voltar. Conta-se que Raposo Tavares, o maior de todos os Bandeirantes, fez sua epopeia de mais de 3000 km andando descalço. Seu segundo representante, contudo, viu no Brasil uma oportunidade e montou aqui uma das operações mais lucrativas que a Clark teve dentre as várias espalhadas pelo mundo.
Somos o segundo vendedor, temos a “visão além do alcance” de Lion do ThunderCats, que era uma bela metáfora para pessoas que enxergam além da caixa.
Abaixo, página do Jornal O Farol de 1904 com propaganda da Clark:
Abaixo, a página “Serqueira sobre mapas e histórias antigas”, que virá a ser hospedada no site “Trem de Dados”, uma iniciativa da AFTR, que apresenta histórias antigas maravilhosas do nosso país, desconhecidas pela maioria. Neste link conta-se a história da Clark:
Link para a página sobre a Clark
Abaixo, foto da Clark e também a da sua loja no Brasil que ficava na Rua do Ouvidor, Centro do Rio de Janeiro.
Abaixo, desenho esquemático do local onde ela ficava no Rio de Janeiro.
“AFTR: mais do que mobilidade. História, filosofia, entretenimento e cultura pop em seus textos”. Esse poderia ser é o nosso novo slogan.
Texto escrito em 03 de março de 2024
Última atualização em 04 de março de 2024 às 17h28
Imagem de capa: imagem gerada por Inteligência Artificial DALL-E 3