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A VFRGS, sua história e atualidade

O reflexo das Ferrovias Brasileiras

Por

Mozart Rosa

Tempo de leitura: 6 minutos

INTRODUÇÃO

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Hoje sairemos da temática comum do site, que é abordar assuntos relativos às ferrovias do estado do Rio de Janeiro. Não é nossa intenção descrever aqui a história riquíssima da Viação Férrea do Rio Grande do Sul ou, como passaremos a descrever aqui: VFRGS. A intenção é mostrar que o que aconteceu com ela é um reflexo do que aconteceu com a RFFSA.

Além disso, mostrar o que aconteceu com:

  • A privatização;
  • Os entes públicos;
  • Os políticos;
  • Os empresários.

Nenhum desses nada teve ou tem a ver com o estado atual de abandono em que se encontram os imóveis ferroviários remanescentes. A história real é um pouco mais antiga, mais complexa e não estudada.

Antiga estação de Vila Clara, Rio Grande do Sul

Usaremos a VFRGS como exemplo para contar um pouco dessa história.


HISTÓRIA

A VFRGS foi inaugurada em 1874, ligando Porto Alegre a São Leopoldo. Posteriormente foi construído um trecho até Novo Hamburgo. Foi uma ferrovia criada de uma forma diferente das outras Ferrovias Brasileiras, criada para ser uma ferrovia de passageiros. Com o tempo teve sua malha estendida para várias cidades do Rio Grande do Sul transportando também cargas.

Percival Farquhar

Em 1905, passa a fazer parte do grupo empresarial comandado por Percival Farquhar, em sua época um dos maiores empresários do setor no país, cuja história é pouco estudada pelos amantes da ferrovia. Farquhar tornou-se mais conhecido pelos Brasileiros graças a minissérie Mad Maria da Rede Globo, de 2005, que fala da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, empreitada da qual também participou.

 

Augusto Pestana

Em 1920 um movimento liderado pelo então Deputado Federal pelo RS, Augusto Pestana, estatizou a VFRGS.

Vamos aqui fazer algumas considerações:

  • Em relação à VFRGS não sabemos se realmente estava com problemas e que tipo de problemas ela tinha, o que sabemos são apenas relatos de época. Mas o fato é que Augusto Pestana, que liderou o movimento para encampação da ferrovia pelo Estado, coincidentemente foi seu primeiro presidente nessa nova fase;
  • Sabemos também que Augusto Pestana era positivista, o mesmo movimento do qual participaram os homens que proclamaram a República e que, dentre outras coisas, acreditavam na participação do Estado como alavancador da economia;
  • Sabemos também que Augusto Pestana era extremamente nacionalista, sendo contrário a presença de empresas estrangeiras na gestão de algumas empresas brasileiras;
  • Por fim sabemos que Augusto Pestana, embora fosse um administrador público eficiente já que durante 13 anos como administrador nomeado e, posteriormente, Prefeito eleito do Município de Ijuí, tenha apresentado resultados surpreendentes, não era um homem de negócio. E como já dissemos mais de uma vez:Ferrovia é um negócio”.
  • E concluímos aqui com algumas considerações. Por que a VFRGS nunca foi devolvida para o empresariado? Por que tirar dinheiro daquilo que é função do estado, como saúde, segurança e educação, para investir em ferrovias, sendo ferrovias tipicamente um negócio?

Quando a RFFSA foi criada em 1957, a VFRGS e sua malha inicialmente não fizeram parte da RFFSA. A VFRGS, embora fosse já uma estatal, funcionava de forma independente da RFFSA. Sua incorporação à RFFSA só ocorreria em 1959.

Sabemos que mais de 100 anos depois esse tipo de movimento, que quer mais Estado na economia, nunca acaba bem. Funciona muito bem para os empregados da instituição encampada, mas nunca para os consumidores dos produtos ou serviços que essa empresa encampada produz.

Esse texto, é um pequeno resumo do que foi e do que aconteceu com a VFRGS: uma empresa com uma rica história e que muito ajudou no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. O objetivo desse texto também foi mostrar, aos amantes das ferrovias, que a participação do Estado na economia, e especificamente no setor ferroviário em médio e longo prazo, sempre é danosa.

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Acreditamos que muitos de nossos leitores não tenham visto ou leram balanços publicados pela VFRGS, ou pela RFFSA, mostrando seus enormes prejuízos. Assim como desconhecemos se os amantes das ferrovias tenham lido os atuais contratos de concessão, onde não é mencionado como obrigação dos concessionários a manutenção de mobiliário ferroviário, que um dia serviram de estações. Neste caso, ao ler esses contratos, deve-se entender os direitos e deveres das concessionárias.

O estado de abandono de alguns prédios ferroviários não é descaso das concessionárias, nem do empresário que só pensa no lucro, como alguns comentam:

  • É resquício de administrações da RFFSA, que estavam mais preocupadas com os benefícios de seus funcionários, e deixavam o patrimônio ferroviário abandonado;
  • É resquício das leis aprovadas de maneira açodada no governo de FHC, para se livrar o mais rápido possível da RFFSA;
  • É resquício da falta de interesse no setor, durante os governos Lula e Dilma, que não nomearam pessoas qualificadas para comandá-lo, piorando e transformando esse setor em um cabide de empregos ainda maior.

Além disso hoje temos Internet, celulares com câmeras, Facebook, Instagram, Youtube, diversos meios de divulgar o que está errado. Antes disso esse abandono, essa lambança, era completamente desconhecida pela maioria.

Portanto ler que o fato de alguns prédios estejam abandonados, e que seria de responsabilidade das atuais concessionárias, que nada tem a ver com isso já que em seus contratos nem existe menção a manter esses imóveis, é de doer.

A título de curiosidade: o prédio que deverá em breve ser demolido, por ter sofrido incêndio recentemente e que durante anos foi a sede da SSP-RS, foi inicialmente a sede da SR-6, regional da RFFSA. Alguém conhece no Brasil atual alguma empresa com uma sede desse tamanho? Por aí vocês entendem o gigantismo da RFFSA.

Abaixo texto publicado pela AFTR, mostrando que a construção de rodovias originalmente é atribuição de governos, e ferrovias de empresários.

Os erros cometidos por Bolsonaro na Gestão do Setor Ferroviário

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Agradecemos a leitura, até a próxima!

A opinião constante neste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da instituição.

Foto de capa: Trem Pampeiro, entre Porto Alegre e São Borja, em março de 1967. Acervo Benício Guimarães/AENFER/AFTR/Trem de Dados

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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