Olá, Amigas e Amigos. Bem vindos a este artigo exclusivo da AF Trilhos do Rio. Hoje o assunto abordará duas personalidades que frequentemente vemos no meio ferroviário e de transportes em geral: os “Especialistas” e os “Curiosos”.
Como diferenciar? Para isso, bastam apenas cinco perguntas:
- Quem acabou com o transporte ferroviário de passageiros de médias e longas distâncias no Brasil?
- Qual foi a participação de Getúlio Vargas na derrocada das ferrovias brasileiras?
- Quem foram Eliezer Batista e Augusto Trajano de Azevedo Antunes?
- O que foi a “Guerra das Bitolas”?
- A RFFSA era uma empresa lucrativa?
A resposta correta a pelo menos uma dessas cinco perguntas permite saber se o interlocutor é um especialista em ferrovias ou um simples curioso.
Vamos desenvolver o assunto neste texto.
Agradecemos a visita e desejamos a todos uma excelente leitura!
Vejamos, então, alguns questionamentos que ajudam a distinguir os “Especialistas” dos “Curiosos”, acompanhem:
PERGUNTA 1:
- Quem acabou com o transporte ferroviário de passageiros de médias e longas distâncias no Brasil?
Foram os empresários de ônibus
Resposta ERRADA
Resposta CORRETA: Os trens foram extintos devido aos monstruosos prejuízos da RFFSA. Cada novo presidente da RFFSA, ao ver os números, impossibilitado de fazer demissões e enxugar a máquina, providenciava algum corte nos serviços. E esse corte sempre recaía sobre os trens de passageiros, o serviço mais deficitário da RFFSA, que era operado na maioria das vezes pela E.F. Leopoldina.

Além disso, havia as prioridades; leiam o texto da AFTR abaixo e entendam o que era, e sua importância na extinção de alguns serviços. Esse assunto de extrema importância, que explica muita coisa, é desconhecido inclusive por diversos ex-funcionários da RFFSA:
PERGUNTA 2:
- Qual a participação de Getúlio Vargas nas ferrovias brasileiras?
Um grande incentivador das ferrovias.
Resposta ERRADA
Resposta CORRETA: Getúlio foi um dos mais hábeis e oportunistas políticos que já existiram no Brasil, mas isso não significa que ele tenha sido o melhor político. Como disse dele o filósofo José Ortega y Gasset, “faz política de direita com a mão esquerda”. Por questões ideológicas, Getúlio tem um dos períodos de governo mais mal estudados do Brasil.

Uma pessoa precisa de no máximo 5 metros para parar após uma corrida; um automóvel a 60 km/h vai precisar de pelo menos 30 metros; um ônibus, uma distância muito maior; uma locomotiva, maior ainda; um navio, uma distância infinitamente maior. Citamos isso para que as pessoas entendam que parar uma nação ou um setor da economia de um país pode demorar anos, e isso muitos não percebem. Essa parada, literalmente e sem gíria, pode levar gerações a partir de decisões equivocadas tomadas, muitas vezes cobrando de governos que se iniciam soluções para problemas criados em governos anteriores.

No caso do setor ferroviário, embora aparente ter sido um governo amigo das ferrovias, não foi. Getúlio espertamente, além de manter sob o guarda-chuvas estatal empresas deficitárias que já estavam sob controle do governo, assumiu outras, justamente um setor que nasceu e cresceu pela mão dos empresários.
Até o governo de Getúlio, não era institucionalizada a participação do governo na gestão das ferrovias.
Em 1877, a província do Rio de Janeiro encampou a E.F. Cantagalo, que passava por uma situação financeira ruim. Mas em 1885, a vendeu para a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina. Em 1910, Nilo Peçanha assinou um decreto fundindo várias ferrovias com atuação no Rio de Janeiro, visando posteriormente repassá-las ao empresariado. Getúlio na ocasião usou o Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP para se fazer passar por um bom velhinho.
PERGUNTA 3:
- Quem foram Eliezer Batista e Augusto Trajano de Azevedo Antunes?
O primeiro seria o pai do Eike Batista? O segundo nunca ouvi falar.
Resposta ERRADA, pelo menos parcialmente.
Resposta CORRETA: Eliezer Batista realmente é pai do Eike Batista. Mas não foi isso que perguntamos. Perguntamos quem foi Eliezer Batista, mas o que ele fez na vida?
Eliezer foi presidente da CVRD – Cia Vale do Rio Doce, atual Vale S.A. por dois períodos: de 1961 a 1964 e de 1979 a 1986, um total de 10 anos. Por sua vez Augusto Trajano de Azevedo Antunes era presidente da MBR – Mineração Brasileiras Reunidas S.A. Por serem na ocasião, os maiores clientes da RFFSA, ambos tinham enorme participação nos destinos da companhia, conseguiam nomear presidentes e diretores, e as políticas ferroviárias do Brasil passavam pelas suas mãos.

Sem conhecê-los, sem entender sua participação nas políticas ferroviárias, sem entender que alguns serviços deficitários foram extintos para beneficiar o transporte de minério que ambos comandavam, sem entender o que eram as prioridades, os chamados especialistas não passam de curiosos.
PERGUNTA 4:
- O que foi a “Guerra das Bitolas”?
Não entendi. Que guerra?
Resposta ERRADA
Resposta CORRETA: A “Guerra das bitolas” foi um episódio praticamente só abordado pela AFTR, onde mostramos que funcionários da EF Central do Brasil, em busca de poder na RFFSA, deliberadamente fizeram de tudo para sucatear as linhas da E.F. Leopoldina. A extinção da E.F. Mauá, EF Príncipe do Grão-Pará, E.F. Cantagalo e E.F. Maricá fizeram parte desse processo. Mostramos isso em nossas postagens abaixo:
PERGUNTA 5:
- A RFFSA era uma empresa lucrativa?
Claro que sim.
Resposta ERRADA
Resposta CORRETA: A RFFSA em toda a sua existência jamais deu lucro, isso é demonstrado em balanços auditados.

Portanto qualquer pessoa, que questionada, não consiga responder com profundidade a qualquer uma dessas cinco perguntas, não deve ser considerado um especialista, provavelmente não passa de um mero curioso. Lamentavelmente já tivemos, inclusive, teses de mestrado feitas e aprovadas por pessoas que desconhecem essas informações.