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Texto escrito por Mozart Rosa em 29 de junho de 2024 às 15h29

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Olá, Amigas e Amigos.

Você cobra de governos ações que possibilitem o retorno dos trens de passageiros no Brasil?
Acha que isso tem a ver com os empresários do ônibus ou desenvolveu alguma outra teoria?

Seus problemas acabaram.

Não, não apresentaremos nenhum produto da extinta Organizações Tabajara.
No texto abaixo, mostraremos por uma simples analogia o que vem acontecendo nos bastidores de governos estaduais, especificamente do Rio de Janeiro e Minas Gerais, que explicará muito da realidade desconhecida pela maioria.

Leiam esse texto e entendam a gravidade, mesmo que de forma não intencional, do que acontece nos bastidores da política e o motivo do fracasso de nossas ferrovias.

Uma homenagem antecipada ao meu e a todos os pais pela data de amanhã.


MEU PAI E AS FERROVIAS. COMO ASSIM?
(Homenagem ao meu amado pai)

Meu pai, se fosse vivo, teria hoje 90 anos, e certamente já estaria aposentado.

Começou a trabalhar em um grande hospital público aqui do Rio de Janeiro, bem jovem como faxineiro, estudou e, por mérito próprio, conseguiu ser promovido a técnico de laboratório. Um ótimo técnico. Trabalhou nesse hospital por mais de 20 anos, tendo exercido cargos de chefia nesse laboratório. Depois, por mérito, conseguiu mudar de secretaria e de função, sendo então promovido.

Era uma época em que tudo era precário, parafraseando uma frase dita por um ex-diretor da rede Globo sobre os primórdios da TV: “laboratório de análises clínicas era movido a lenha”. Usavam-se seringas de vidro e agulhas, que precisavam ser lavadas após o uso.

Seringas de vidro. Lavá-las e higienizá-las era o pior serviço do laboratório.

 

Máquina Facit para fazer as quatro operações.

Para saber quanto e quais elementos estavam presentes no sangue, usavam-se as pré-históricas máquinas Facit para fazer contas, ancestral das modernas calculadoras, e usada no Brasil até a década de 80, eram usadas no laboratório, uma versão adaptada, onde os números eram substituídos pela figura a ser identificada pelo técnico que fazia o exame vendo fragmento do sangue analisado, em um microscópio.

Meu pai acompanhou o início da automação e o desenvolvimento dos exames laboratoriais. Quando criança, me mostrou uma novidade, agulhas descartáveis e uma nova forma de coletar o sangue com adaptadores para tubos de ensaio a vácuo, o sistema Vacutainer, sistema usado atualmente. Até então, usavam-se as já mostradas seringas de vidro e agulhas com esterilização diária. Começou também a operar outra novidade, uma máquina que fazia a análise de sangue de forma automática, que até então era feita manualmente.

Sistema Vacutainer

Nessa fase da implantação dessas modernidades, ele saiu do hospital, portanto, embora fosse um bom técnico, não acompanhou a evolução tecnológica e organizacional do setor. Na ocasião, o trabalho dele era colher o sangue pela manhã e à tarde, com os outros técnicos fazer os exames, isso nem existe mais. Hoje, na maioria das filiais existentes dos grandes laboratórios, existem os técnicos de coleta, que posteriormente mandam o sangue coletado e resfriado no local de coleta para grandes centros que processam o sangue e o analisam em máquinas ultrassofisticadas.

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Máquina automática para análise de sangue. Essa é uma máquina pequena, os grandes laboratórios usam máquinas bem maiores.

Existe hoje no Brasil toda uma legislação referente ao descarte de lixo hospitalar, existe um parágrafo específico para o descarte de agulhas, em caixas próprias para isso. Tudo isso era inexistente quando meu pai trabalhava.

Tanto seringas como agulhas não eram descartáveis, isso inexistia na época.

Caixa própria para descarte de agulhas usadas.

 

Aparelho localizador infravermelho de veias. Hoje existente no setor de coleta de diversos laboratórios, e inexistente na época.

Meu pai era o único técnico do laboratório que colhia sangue de crianças pequenas, isso é uma tarefa extremamente complexa. Hoje, com o desenvolvimento dos aparelhos acima, isso se tornou tarefa mais fácil.

Explicações dadas, faremos duas perguntas:

1) Seria correto dizer que ele entendia tudo de hospital? Poderia falar sobre a implantação de novos hospitais?

Claro que não. Poderia apenas opinar sobre a montagem de novos laboratórios, como o que ele trabalhava. Um hospital é uma estrutura extremamente complexa, com diversos setores, e ele conhecia profundamente apenas um desses setores, o em que ele trabalhava. E mesmo assim, deve-se lembrar que, se ainda fosse vivo, ele estaria afastado das rotinas de um laboratório há pelo menos 50 anos.

A coisa é tão complexa que em arquitetura existe uma eletiva, chamada Arquitetura Hospitalar, que mostra a quantidade de regras e normas necessárias ao projeto de um novo hospital. Provavelmente, da massa de arquitetos existentes no Brasil, talvez nem 5% sejam aptos a projetar um hospital.

2) Seria correto dizer que ele poderia falar sobre o maquinário do laboratório, tendo se afastado deste há pelo menos 50 anos?

Claro que não. Ele não acompanhou a evolução tecnológica do setor.

Sendo assim, analisando friamente todo o exposto aqui, vamos tentar entender qual o motivo de termos tantos:

  • Ex-maquinistas.
  • Ex-chefes de estação.
  • Ex-supervisores de trecho.
  • Ex-supervisores de oficina.
  • Ex-mecânicos.

Entendendo ser simples apresentar propostas de reativação ou construção de trechos ferroviários, não conhecendo o todo e conhecendo muito bem e em geral somente o setor onde trabalharam?

Todos já aposentados, e que possivelmente, salvo exceções, não acompanharam a evolução tecnológica do setor.

A maioria não entendendo que ferrovia é um negócio, que como negócio precisa ter lucro e todos esses profissionais sendo egressos da RFFSA, empresa que em seus 40 anos de existência nunca deu lucro, sendo durante sua existência a empresa com o maior número de funcionários e o maior prejuízo do Brasil, e que para cortar custos, não fez o que qualquer empresa faria demitir funcionários, preferiu extinguir serviços e linhas.

Normalmente, os da Leopoldina. Nossos textos da Guerra das Bitolas estão aí para provar isso. Quantas vezes precisaremos repetir isso?

Mas são esses senhores que são frequentadores habituais de instituições como ALERJ, ALESP, ALMG, em eventuais audiências públicas e comissões, garbosos e altivos, opinando sobre o setor, com sua visão retrograda.

Talvez isso explique muita coisa.

Já dissemos diversas vezes. “Ferrovia é um negócio”. Considerando que todos esses senhores são egressos da RFFSA e, como já dito aqui, a RFFSA foi uma empresa que durante toda a sua existência nunca deu lucro, o que esses senhores entendem do que seja um negócio?

A Trilhos do Rio em seus textos expôs diversas situações em que a participação de tais indivíduos foi extremamente deletéria para a efetivação de novos projetos. Um desses exemplos foi o metrô de Macaé. Pesquisem outros na nossa página.

AVISO IMPORTANTE:

Temos profundo respeito por esses profissionais, que frequentam instituições governamentais propondo a reativação de trechos ferroviários. Acreditem. Nunca houve, que tenhamos visto ou que tenha sido mencionado, cobrança de propinas, tráfico de influência, interesses escusos, nada do que normalmente escutamos falar quando uma proposta transita em governos. Mas infelizmente, essas pessoas se apresentam como conhecedores do assunto apresentando, e para provar isso citam os anos em que trabalharam na RFFSA, dando a partir daí, orientações erradas e apresentando ideias inexequíveis aos funcionários públicos responsáveis pelo setor ou a políticos também interessados no tema. Apresentam apenas um modelo que fez parte de suas vidas, mas que o tempo mostrou ser um modelo fracassado.

E obviamente nunca lembrando de incluir em suas propostas empresários do setor rodoviário. Segundo eles, são os vilões.

Pessoas sem visão de longo alcance guiando outras pessoas que precisariam de visão de longo alcance.

Entenderam?

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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