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Saudações!

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Qualquer um que acompanhe nossas postagens já percebeu que não fazemos parte exatamente do fã-clube de admiradores da RFFSA, e os motivos têm sido mostrados aqui frequentemente. Mesmo assim algumas pessoas insistem em defender alguns aspectos contestados através de fatos (e contra fatos não há argumentos), mas hoje mudaremos o foco. Falaremos sobre um desastre institucional ferroviário ainda maior que a RFFSA: a Indian Railways. Ajudaremos também a mostrar porque a Índia é um país tão desigual, às vezes até mais do que o Brasil, e como a Ferrovia nesse caso pode provocar tanto prejuízo ao seu povo e, mesmo assim, ainda é lamentavelmente endeusada por muitos…

Fonte: Indian TV
Fonte: Jayasankar Madhavadas (Global Railway Review)

Como sempre dizemos as ferrovias são um microcosmo de um país e na Índia não é diferente: castas, religião, questões históricas e culturais… tudo contribui para a desigualdade, mas conhecer a Indian Railways ajuda a explicar parte das enormes desigualdades sociais Indianas.
Diferente do Brasil, que é um país secular, a Índia é um país milenar, o Mahabharata existente desde 1000 a.c. está aí para provar. Além disso a Índia não era um país, era um povo que falava a mesma língua, o sânscrito, dividido pela religião e por etnias, existindo diversos principados governados por diversos Rajas. Quem transformou a Índia em uma nação foram os Ingleses, com a dominação que teve início efetivo no século XIX. Além de impor um domínio político e militar, a Inglaterra unificou a Índia e a transformou o povo em uma nação, importando o modelo europeu. E as ferrovias foram fundamentais no domínio e na unificação dessa nova nação.

Para quem não sabe existem grandes diferenças culturais, religiosas e étnicas entre os Indianos do Sul e do Norte tendo, por conta disso, ocorrido no passado guerras entre eles. O Sul sempre foi mais próspero que o Norte por conta do intenso comercio marítimo com vários povos inclusive os europeus. A Companhia das Índias Orientais, que todos devem ter estudado no ensino fundamental e foi uma das primeiras multinacionais da história, tinha sua base indiana no Sul gerando enorme riqueza para a região onde atuava. Enquanto isso o Norte era desfavorecido, sendo mais pobre e atrasado (claro que a história não é tão simples assim, mas essa postagem é sobre ferrovias e não sobre a história da Índia).

Fonte: Financial Times

Quando a Inglaterra inicia o processo de dominação uma de suas principais ações foi criar uma enorme rede ferroviária que atingisse todo o país, uma rede que chega hoje a 65.000 kms, sendo que a maioria foi construída pelos Ingleses. Simultaneamente foi forçada uma integração política entre todos os povos Indianos. Daí a importância das ferrovias construídas pelos Ingleses no processo de a unificação da Índia.

Fonte: Daily O

Embora os livros e filmes mostrem Gandhi como uma figura mítica, a realidade não foi bem assim: ele só foi bem-sucedido em seu intento pela covardia dos líderes ingleses na ocasião. Gente como Chamberlain, o mesmo que quase entrega a Inglaterra a Hitler e que só não foi adiante graças a Churchill.

Hitler teria dito que para resolver o problema de Gandhi bastaria uma bala, e a passividade Inglesa com Gandhi fez parte dos incentivos para Hitler fazer o que fez.

Outro aspecto que não é mostrado nos livros foi a forte influência socialista, a forte influência dos trabalhistas britânicos, e da Sociedade Fabiana nas ações de Gandhi.

Sendo assim ao conseguir a independência, por conta dessa influência, as primeiras ações pós-independência foram a nacionalização de diversos setores da economia, seguindo a cartilha socialista, o que obviamente incluiu aí as ferrovias. O mesmo aconteceu no Paquistão, a parte muçulmana do povo que virou um outro país.

Fonte: The Better India

A criação da RFFSA, e do monopólio na mesma época, também teve essas influências. E sempre que se perde a perspectiva empresarial de um negócio, e se passa a usar politicamente esse negócio, o desastre acontece.

Dizer que a Indian Railways é um cabide de empregos chega a ser um eufemismo suave: diríamos que é um guarda-roupas inteiro! Ela tem mais de um milhão de funcionários. Talvez, em número de funcionários, seja uma das maiores empresas do mundo.

Algumas pessoas amigas do setor ferroviário, que conhecem a operação de uma ferrovia, ao visitarem a Índia e utilizarem o trem (e passada a empolgação inicial pela nova experiência) ficaram impressionados e decepcionados com o número de funcionários e o serviço de péssima qualidade. O serviço prestado pela Indian Railways, em algumas linhas longe de grandes centros, consegue ser pior do que eram os da RFFSA nos subúrbios do Rio de Janeiro na sua pior fase. O nível de sucateamento é muito pior do que o existente na antiga Leopoldina.

Quando se publicam memes na internet, mostrando pessoas penduradas nos trens indo para o Aniversario Guanabara, esses memes são feitos a partir de fotos reais de ferrovias Indianas, Paquistanesas e de Bangladesh.

Instituições que operam com equipamento sucateado, sem investimentos, versões asiáticas da RFFSA.

Quem viu o filme indiano Quem Quer Ser Um Milionário teve uma visão do tamanho da desigualdade social da Índia causado, entre outros motivos, pelos vultosos subsídios a estatais como a Indian Railways. Dinheiro não cai do céu, portanto custear essas estruturas custa muito caro.

Então devemos ressaltar que considerar o modelo Indiano, como algo a ser copiado, é absolutamente irracional e não pode ser levado a sério.

Para quem gosta de detalhes visitem este link da Wikipédia bem razoável mostrando a rede Indiana de ferrovias.

Fonte: Pakistan Today

A título de curiosidade histórica o Paquistão já fez parte da Índia, é um povo que fala o Urdu, uma variação do Hindu, língua falada na maior parte da Índia. O Paquistão difere da Índia pela religião, pois a religião predominante é a Muçulmana.

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Obs.: a opinião constante neste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da Associação

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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