Tempo de leitura: 9 minutos

Olá, Amigos e Amigas.
Hoje falaremos sobre a Antrak, a companhia ferroviária Americana, que poderíamos comparar ou mencionar com uma RFFSA que deu certo.
Mas essa companhia Americana poderia servir de modelo ao Brasil?

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· • JÁ ADIANTAMOS A RESPOSTA: NÃO! • ·

 

Veremos os motivos e justificativas neste artigo. E como sempre você pode ler toda a matéria ou, se preferir, leia tópico por tópico do índice abaixo, aos poucos.

Desejamos a todos uma ótima leitura!

  1. INTRODUÇÃO
  2. DIFERENÇAS FINANCEIRAS AMTRAK / RFFSA
  3. VALE A PENA IMPORTAR MODELOS INTERNACIONAIS?
  4. OPERAÇÃO E TRENS DA AMTRAK
  5. INFORMAÇÕES IMPORTANTES

Fonte: Blog Amtrak

INTRODUÇÃO

Amtrak é uma empresa ferroviária americana, quase pública (uma das poucas que os americanos têm) pois recebe subsídios estaduais e federais mas é administrada como um instituição sem fins lucrativos, operando parte da malha ferroviária que não despertou interesse dos empresários americanos. Foi criada em 1º de maio de 1971 (completou 50 anos de existência semana passada) por conta da evolução da indústria aeronáutica e do transporte regular de passageiros por avião dentro dos Estados Unidos.

Isso provocou uma brutal decadência das ferrovias, afinal os aviões eram e ainda são muito mais velozes, fazendo com que a população migrasse em massa para o transporte aeroviário.

Malha operada pela Amtrak em 2016
Fonte: Wikipedia

Com o tempo e com a evolução da tecnologia ferroviária, além do reerguimento do setor, a Amtrak começa a investir em novos equipamentos, trazendo de volta o usuário com bons serviços, e despertando o interesse do empresariado por algumas de suas linhas.

Publicação dos funcionários da Penn Central Railroad anunciando a inauguração da Amtrak em 1º de maio de 1971
Fonte: Wikipedia

Uma vantagem das ferrovias, que os aviões jamais conseguiram superar, é que a maioria das linhas, tanto lá como cá, foram construídas no início do século e as cidades cresceram à sua volta. Existem estações ferroviárias em locais centrais das cidades onde o avião não chega. Portanto essas linhas modernizadas, e com veículos velozes, são uma ótima solução de mobilidade.

Algo parecido com a nossa Estação Leopoldina…

Portal Rio – Reativando a Estação Leopoldina

 


DIFERENÇAS FINANCEIRAS AMTRAK / RFFSA

A Amtrak funcionou durante um tempo como uma gestora de patrimônio. Foi constituída em uma época de futuro incerto, diferente do Brasil que pelos motivos já apresentados aqui em postagens da AFTR, vide A Guerra das Bitolas, destruía-se o que foi possível destruir. Lá eles tiveram a inteligência de entender que aquilo custou dinheiro ao ser construído e não poderia apenas ser destruído e jogado no ralo: esperaram para ver se um dia poderia voltar a ter valor.

“Talvez seu próximo vôo deva ser em um trem”, uma campanha da Amtrak na década de 1980
Fonte: Arquivo Histórico da Amtrak

Como sempre é comum, em fóruns ferroviários, a turma do palpite sem embasamento defende o modelo da Amtrak como solução para o Brasil. Quase como um retorno da RFFSA.

Um importante aspecto do modelo Norte-Americano a ser considerado, mas desprezado por todos os entendidos e especialistas, que vivem elogiando o modelo estatal da Amtrak é que, apesar de estatal, ela tem um limite para o prejuízo anual que pode ter, algo que nunca existiu no Brasil com a RFFSA, onde o céu era o limite: bastava gastar que o Tesouro pagava.

 

· • Lá, caso supere o nível de prejuízo, seu presidente além de demitido pode até ser preso • ·

 

Nos Estados Unidos Estatais como ela são domadas, existe um limite para o prejuízo e funcionários PODEM SER DEMITIDOS, bem diferente da realidade brasileira.

 

· • O modelo estatal da Amtrak NÃO é um modelo a ser seguido no Brasil • ·

 

Portanto isso vale principalmente para os entendidos e especialistas, que viajam para os Estados Unidos, andam em trens da Amtrak e por conta apenas disso já se acham conhecedores do assunto.

Publicidade mostrando as vantagens do percurso ferroviário entre Nova York e Washington. De carro o percurso atualmente é feito em aproximadamente 3h30
Fonte: Arquivo Histórico da Amtrak

VALE A PENA IMPORTAR MODELOS INTERNACIONAIS?

A partir de análise do sistema operacional e de modelos gerenciais existentes em outros países podemos importar modelos que se adaptem a realidade brasileira? Sim, mas importar pacotes fechados de solução nunca, pois esses pacotes dificilmente funcionam aqui como nos seus países de origem. É preciso entender o que acontece no país de origem, e não achar que aquilo que se vê superficialmente é a chave do sucesso. É preciso ir fundo, coisa que a maioria não faz.

Trem com carros de dois andares circulando na costa da Cailfórnia na década de 1990
Fonte: Arquivo Histórico da Amtrak

Nós aqui na AFTR temos um axioma, repetido frequentemente como um mantra:

Ferrovia é um negócio, e é prudente opinarem nesse assunto pessoas que ao menos uma vez na vida tivessem gerado algum tipo de negócio, criando pelo menos um emprego para entender as dificuldades de se empreender no Brasil.

E não é o que se vê. Nos diversos grupos de Facebook que defendem as ferrovias são várias vezes hilárias e absurdas as opiniões e propostas dadas sem noção para o desenvolvimento do setor.

Construção de carros com dois andares para transporte de passageiros, em 1977
Fonte: Arquivo Histórico da Amtrak

Quem acompanha com maior profundidade a política americana sabe que existem no congresso americanos correntes que debatem regularmente manter ou não a Amtrak, por conta dos prejuízos anuais constantes que ela gera para o estado.

E vejam que nem chegam aos pés dos prejuízos bilionários da extinta RFFSA.

Composição sueca de alta velocidade, modelo X2000, alugada pela Amtrak para testes. Este equipamento tinha a vantagem de não necessitar de trilhos específicos para trafegar em alta velocidade, dispensando adaptações ou reformas
Fonte: coleção Ingwar Afeldt.

Esse é um tema que vai e volta com regularidade. Existem rotas lucrativas, mas existe também uma enormidade delas que dão prejuízo. Nos Estados Unidos existe enorme preocupação com o dinheiro público, diferente daqui, onde gasto público é um saco sem fundo, portanto essa é a motivação da constante preocupação do congresso em manter ou não a Amtrak operando.


OPERAÇÃO E TRENS DA AMTRAK

Sobre a Amtrak, ainda sobre seu modelo operacional, ela ainda não usa Trens Leves em trajetos regionais, algo já defendido diversas vezes aqui nos textos da AFTR. Ainda utiliza em trajetos regionais composições tracionadas por locomotivas beberronas, como acontecia aqui no Brasil. Apesar do custo do diesel nos Estados Unidos pesar bem menos em uma operação de transporte ferroviário do que no Brasil, isso ajuda a aumentar os prejuízos.

Fonte: Smart Travel

Nós da AFTR vemos a ferrovia como parte de um processo de desenvolvimento econômico, achamos que o governo do estado do Rio de Janeiro deveria inclusive, por meio de sua Secretaria de Desenvolvimento Econômico, propor à Amtrak o uso de Trens Leves, fabricados pela Marcopolo em Xerem, em algumas de suas rotas. É um veículo adequado para operar em diversas rotas, atendendo muito bem e com custo operacional mais baixo do que os equipamentos atualmente utilizados. Além disso, se comprados da Marcopolo, gerariam empregos aqui em nosso estado.

Fonte: Smart Travel

A maioria das composições da Amtrak seguem o modelo do início do século: locomotivas convencionais tracionando carros de passageiros, sendo assim os Trens Leves são a evolução tecnológica do setor.

Estande da CRRC, fabricante ferroviária, na NTExpo em São Paulo no ano de 2017. Nestes eventos ocorrem intensas negociações e troca de informações sobre o mercado de mobilidade sobre trilhos mundial
Fonte: Eduardo (‘Dado’) em 2017

Ressaltamos novamente: isso faz parte das competências de um estado que apoia e quer o desenvolvimento das indústrias dentro de sua região, e a exportação de tais equipamentos, caso efetivada, vai gerar emprego e renda para moradores do estado do Rio de Janeiro.


INFORMAÇÕES IMPORTANTES

É comum nas postagens da AFTR pessoas, com uma visão aparentemente socialista, elogiarem a Amtrak por ser uma estatal e por ter passagens subsidiadas, achando que deveria ser um modelo para o Brasil se espelhar e se inspirar. O que essas pessoas não sabem é que, mesmo tendo passagens subsidiadas, a Amtrak cobra valores elevados pelas suas passagens, portanto as pessoas que possuem menor poder aquisitivo nos Estados Unidos não andam de trem.

Fonte: Smart Travel

Claro que este conceito é bem diferente do conceito de pobreza no Brasil, mas o “pobre americano” anda de ônibus e não de trem.

Fonte: Amtrak

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Agradecemos a leitura. Até a próxima !

(A opinião constante deste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da Associação)

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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