Tempo de leitura: 11 minutos

Por Mozart Rosa
Por Rodrigo Sampaio

Sejam muito bem vindos(as) a mais um artigo exclusivo da AFTR. Recomendamos a leitura completa, mas caso prefira, leia por partes ou escolha um tópico de leitura no índice abaixo:

Continua após a publicidade
  1. Introdução
  2. O que são os Trens Pendulares?
  3. Fabricantes
  4. Diferencial da proposta AFTR
  5. Modelos de Trens Pendulares à diesel
  6. Aplicações dos Trens Pendulares
  7. Uso dos Trens Pendulares no Brasil

Desejamos a todos uma boa leitura! 🙂

 



INTRODUÇÃO

Todos os artigos produzidos pela AFTR visam apresentar novas ideias, fornecer informações, desconstruir mitos, e expor soluções adequadas à realidade geográfica e econômica do Brasil. Sem simplesmente querer importar soluções que funcionam bem em outros países e que, em alguns casos quando transpostas à realidade brasileira, mostram-se um enorme fracasso.

Soluções que atendam ao famoso mantra da AFTR:

 

· • Soluções Tecnicamente Perfeitas e Economicamente Viáveis • ·

 

Hoje falaremos dos Trens Pendulares. O que são, onde são utilizados, como e os motivos que podem leva-los a serem adotados no Brasil, em específico no Rio de Janeiro e na Região Sudeste do país.

 


O QUE SÃO OS TRENS PENDULARES?

Fonte: ResearchGate

Os Trens Pendulares surgiram no Japão e são posteriores ao desenvolvimento dos Trens de Alta Velocidade (TAVs) na Europa, e mesmo no próprio Japão. Trata-se de um trem com um mecanismo interno que funciona como um pêndulo, daí seu nome. Esse mecanismo permite ao trem “balançar” ou oscilar de um lado para o outro nas curvas compensando assim seu movimento em velocidades mais elevadas. Desse modo eles não precisam de linhas mais retilíneas como as necessárias para o TAV, podendo alcançar velocidades de até 250 km/h, o que para o Brasil seria ótimo.

Interior de um Trem, do serviço Alfa Pendular, em Portugal
Foto: Jcornelius

OBS: A partir de agora, no decorrer da postagem, usaremos a terminologia Trem-Bala para designar o TAV – Trem de Alta Velocidade.
Continuando, o
objetivo de seu desenvolvimento foi usar linhas antigas onde o custo de reforma e retificação, para adaptá-las ao uso de Trem Bala, seria economicamente inviável. O Trem-Bala hoje pode alcançar velocidades superiores a 350 km/h, mas necessita de traçados retilíneos, tratamento especial de solo, além de outras características.

The V150 TGV, which set a new world speed record for a train on rails, hitting 574.8 kilometres per hour (357 miles per hour) on a 73-kilometre (45.3 mile) stretch of track between Paris and the eastern city of Strasbourg, is parked at the Reims railway station. AFP PHOTO FRANCOIS NASCIMBENI

Isso no Brasil, especialmente na região sudeste se torna inviável, é algo incompatível com a realidade econômica e geográfica do Brasil. Em locais como Minas Gerais, pela sua enorme quantidade de morros e serras, seria preciso a construção de uma descomunal quantidade de tuneis. Muito mais até do que os construídos para a Ferrovia do Aço, que por sinal foi um desastre econômico, até hoje não concluída e cujo custo exorbitante ajudou a levar o Brasil a recorrer ao FMI, durante o Governo do presidente Figueiredo.

Vários trechos da Ferrovia do Aço foram abandonados durante a construção
Fonte: Estado de Minas

Essa característica da compensação nas curvas, permitindo usar linhas ferroviárias existentes, torna o Trem Pendular um recurso valioso a ser usado em alguma fase de implantação dos Trens Regionais Brasileiros. Mas devemos lembrar, é claro, que sua velocidade máxima será diretamente proporcional ao estado de conservação e manutenção da linha por onde ele circulará.

Fonte: Pinterest

Mesmo assim a sua implantação é muito menos cara do que o Trem Bala, sendo o sistema adequado a estados com as condições geográficas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, sendo inclusive um veículo adequado para uma futura ligação Ferroviária Rio x São Paulo e para operar na Ferrovia do Sol, outra proposta da AFTR já apresentada, confiram.

Projetos AFTR 4: A Ferrovia do Sol

Sempre esclarecendo que se trata de uma alternativa economicamente mais viável que o Trem Bala, sendo um produto adequado às condições geográficas da Região Sudeste do Brasil, podendo ainda ser implementado de forma paulatina, a partir de linhas de trens regionais construídas no Rio de Janeiro e São Paulo, e podendo em um futuro chegar à Brasília e ao Sul do Brasil. O Trem Pendular, por “balançar” nas curvas, seria perfeito para trafegar no Estado de Minas Gerais, com sua imensa quantidade de morros e ferrovias que os contornam.

 


FABRICANTES DOS TRENS PENDULARES

Atualmente as maiores fabricas do mundo do Trem Pendular são a Alston, a Siemens e a CAF, todas empresas com fabricas no Brasil. Cada uma usa um nome comercial para o mesmo tipo de produto: a Alston, por exemplo, usa o nome Pendolino, que significa “pequeno pêndulo” em italiano.

A tecnologia usada atualmente foi desenvolvida pela Fiat Ferroviária, há mais de 40 anos, e absorvida pela Alston quando comprou essa divisão da Fiat. Atualmente, existem aproximadamente 400 trens Pendolino operando em 11 países da Europa: Itália, Portugal, Eslovênia, Finlândia, Rússia, República Tcheca, Reino Unido, Suíça, China, Alemanha e Romênia.

 


E ONDE ENTRA O DIFERENCIAL DA PROPOSTA AFTR

Simples: tradicionalmente, na Europa, os Trens Pendulares são movidos a energia elétrica. Entretanto no Brasil propomos que as primeiras linhas operando Trens Pendulares utilizem veículos a diesel. Isso diminuirá os custos de implantação desse serviço, sendo desnecessária a construção de rede aérea, compra de transformadores e a construção de subestações, sendo necessário apenas a compra dos veículos, pelas novas concessionarias que vierem a operar tais serviços.

Trem, do serviço Alfa Pendular, em Portugal
Fonte: Blog Portal Ferroviário

Em um país onde o respeito ao patrimônio privado está virando utopia, construir redes elétricas para uso ferroviário passando por locais ermos é uma temeridade. Se a Supervia, operando na região metropolitana do Rio de Janeiro, frequentemente tem cabos de energia roubados, paralisando a sua operação, o que se dirá de linhas para transporte regional passando por locais ermos sem uma única casa?

Fonte: Notícias de Nova Iguaçu

 


MODELOS DE TRENS PENDULARES A DIESEL

Os Trens Pendulares à diesel não são novidade, já existem veículos como esse operando pelo mundo:

Dos modelos mostrados acima podemos destacar algumas informações:

  • O ICE TD que é fabricado pela Siemens;
  • O Modelo Tilting Train opera na Queensland Rail, na Austrália, circulando em linhas de bitola quase métrica (1067mm), e com velocidade limitada hoje a 100km/k (mas já operou a 160 km/h);
  • O British Rail Class 221, que opera na Escócia, e cuja página na Wikipedia disponibilizamos para consulta.
  • O KiHa 261 Series, operando em Hokkaido no Japão
  • O KiHa 283 Series, também operando em Hokkaido no Japão.

Como veem mais uma vez a AFTR não inventa nada, apenas apresenta ideias disponíveis, do presente ou do passado, mas que são ignoradas pela maioria.

O Trem Pendular movido a diesel atende a realidade Brasileira, e nada tem a ver com a proposta de dois nossos ex-presidentes que propunham um Trem Bala ligando o Rio a São Paulo, cujo orçamento inicial começou em 1,5 bilhões mas chegou a 25 bilhões antes da ideia ser, enfim, descartada.

Fonte: Vitruvius

Na ocasião, inclusive, propuseram um túnel passando por baixo da Serra das Araras, que seria maior que o túnel de Gotthard na suíça. Esse túnel suíço, com 57 km de extensão, começou a ser escavado em 1996 e foi aberto ao tráfego apenas em 2017, ou seja, foram 21 anos de obras e custou, segundo algumas publicações apenas o túnel, a bagatela de US$ 12,276 bilhões (lembrem-se, são bilhões de dólares).

Fonte: NewsMobile.in

Lembrando que o túnel Brazuca seria ainda maior. Imaginemos o custo de algo semelhante no Brasil, com todas as (com o perdão e inconveniência da palavra, pois é pior do que isso) trapalhadas envolvendo obras, empreiteiras, corrupção etc.

Queremos tentar mostrar a partir de critérios técnicos, financeiros e geográficos, a impossibilidade de que um dia se possa ter no Brasil de forma corriqueira o Trem Bala. Quem propõe isso não entende de ferrovia, ou não entende de Brasil. Ou as duas coisas. Seria algo utópico e a um custo astronômico!

· • Nossa proposta é radicalmente diferente. Pelo aspecto técnico, empresarial e legislativo • ·

Quem acompanha as postagens da AFTR, já sabe disso.

  • Mínima participação do Governo.
  • Mudanças na legislação.
  • Todo apoio ao empresariado.

 


Fonte: TAVTrilhos

APLICAÇÕES DOS TRENS PENDULARES

Uma das aplicações viáveis para o uso desses trens é a Ferrovia do Sol: uma proposta da AFTR, que visa restaurar a antiga Estrada de Ferro Maricá. Outra aplicação é na ligação Rio x São Paulo, pelo traçado alternativo, proposto pela AFTR, que será mais detalhado em breve.

 

· • Mas isso no futuro, substituindo os Trens Leves propostos para o início de operação dessas ferrovias • ·

 

No traçado alternativo proposto pela AFTR para a ligação Rio x São Paulo, o Trem Pendular a Diesel possibilita fazer a ligação Rio x São Paulo em 3,5 horas na versão expressa e em 4 horas parando nas principais cidades do Vale do Paraíba. (números passiveis de confirmação).

Deixando claro a nossos leitores que não estamos inventando nada. Não estamos tirando da cartola uma solução mágica, mas apenas apresentando um produto já usado de forma corriqueira em outros países.

A bibliografia apresentada mostra que essa opção já foi ou está sendo utilizada com sucesso em ferrovias na Escócia na Austrália, no Japão, e em um dos casos foi posteriormente substituída provavelmente pelo aumento da demanda, por veículos elétricos.

 


O USO DO TREM PENDULAR NO BRASIL

A intenção da AFTR com essa postagem é mostrar que existe uma solução a ser usada em um futuro, em alguns trajetos de trens regionais que venham a ser implantados, mas não em todos. Em um país em que nem linhas de transporte ferroviário regional de passageiros tem, pensar no uso dos pendulares a curto prazo é pura utopia.

Vídeo sobre o assunto do canal Decapod

Uma última informação importante: Trens Pendulares a diesel podem alcançar velocidades de 160 km/h, sendo usual nos exemplos apresentados, uma velocidade de cruzeiro de 100 km/h. Trens Pendulares elétricos podem alcançar velocidades de 250 km/h.

Interior de um Trem Pendular
Fonte: Próxima Trip

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Agradecemos a leitura. Até a próxima !

A opinião constante deste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da Associação

Bibliografia:

www.amantesdaferrovia.com.br

https://en.m.wikipedia.org/wiki/British_Rail_Class_221

https://en.m.wikipedia.org/wiki/KiHa_283_series

https://en.m.wikipedia.org/wiki/KiHa_261_series

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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