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Por Mozart Rosa

 

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Projetos AFTR 3 – A Ferrovia da Serra do Mar
Uma alternativa viável e coerente à EF-118.

Para melhor compreensão dessa nossa proposta, extremamente ampla, será preciso inicialmente falar de três ferrovias que, em princípio, nada tem a ver entre si:

  • Linha do litoral da Estrada de Ferro Leopoldina;
  • Estrada de Ferro Cantagalo;
  • Estrada de Ferro Santo Antônio de Pádua (falaremos mais sobre ela no próximo artigo).

Inicialmente, então, um pouco de história:

A Linha do litoral da Estrada de Ferro Leopoldina

A chamada linha do litoral da E.F. Leopoldina surge a partir da encampação de duas empresas e suas respectivas malhas: a Companhia Estrada de Ferro Macaé e Campos e a Companhia Ferro-Carril Niteroiense, Posteriormente, já sob outra gestão, foi construída a ligação de Campos a Vitoria, sendo todo o trecho em bitola métrica.

Trecho da Linha do Litoral da EF Leopoldina em 2018
Foto: Eduardo (‘Dado’)

Durante mais de 100 anos essa linha Ligando Campos ao Rio de Janeiro funcionou a contento, mas infelizmente, como mostrado na série “A Guerra das Bitolas” por conta de disputas internas na RFFSA, a linha sofreu um processo de sucateamento sem precedentes, não recebendo investimentos adequados tanto na manutenção da via, quanto na compra de material rodante novo.

· • Tudo lhe era negado ou o acesso era dificultado • ·

Trem Cacique na década de 1960/1970, próximo à Rocha Leão
Foto: Leonardo H. Bloomfild (via Paulo Roberto de Oliveira Cerezzo)

Enquanto a EFCB passou a usar regularmente, na maioria de suas linhas, locomotivas a diesel, a E.F. Leopoldina continuava e continuou usando locomotivas a vapor em muitos de seus trechos. A Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, na subida pra Petrópolis, foi um exemplo. Por outro lado, mesmo com o uso de locomotivas diesel, a degradação era evidente. Quem usou o Trem-Cacique, até sua extinção, percebeu a sujeira nos carros, vidros e bancos quebrados, entre outras coisas causados pela manutenção deficiente.

A precariedade da ferrovia em matéria de 1995
Fonte: Jornal O Globo (Pesquisa Felippe Ribeiro)

E nada disso teve responsabilidade do empresário do ônibus, como normalmente dizem. Foi incompetência gerencial da RFFSA mesmo.

 

A Estrada de Ferro Cantagalo

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A ferrovia que inicialmente ligou Porto das Caixas a região de Nova Friburgo e posteriormente o Rio de Janeiro a Cantagalo teve seu auge no período cafeeiro. Entretanto erroneamente, e como muitos acreditam, não foi extinta por conta da queda da produção de café: ela foi extinta em mais um capítulo da “Guerra das Bitolas”. Até o final da sua operação serviu, e muito bem, ao parque industrial e ao comercio de Nova Friburgo e arredores, e que reformada e modernizada poderia estar até hoje em operação plena.

Uma das várias pontes da extinta EF Cantagalo, dentro do Parque dos Três Picos, entre Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo
Foto: Eduardo (‘Dado’) em 2017

Na década de 1980, inclusive, houve interesse das fabricas de cimento em reativá-la, o que não ocorreu pelas negativas da RFFSA, dona do nefasto Monopólio.

· • E o que a E.F. Cantagalo tem a ver com a EF-118? • ·

Calma, primeiro vamos relembrar o conto de Machado de Assis chamado “Teoria do Medalhão”, escrito em 1881 e ainda bem atual:

“Uma vez entrado na carreira, deves pôr todo o cuidado nas ideias que houveres de nutrir para uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente; coisa que entenderás bem”
[…]
“Proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade (…)”

Parece (parece!) que alguns dos envolvidos no projeto da EF-118 são leitores ávidos desse conto. Por outro lado, abaixo lembramos uma das frases tão comuns em nossos textos:

“Diferente de rodovias, ferrovias são um negócio. Como esse setor pode ser influenciado por gente que nunca na vida geriu ou tem noção de como é gerir ao menos uma barraca de cachorro-quente?”

 

O Que efetivamente é a EF-118

Inicialmente faremos algumas considerações sobre a EF-118, um projeto tão audacioso como descabido, por diversos fatores. Alguns chegam a sugerir que a documentação seja eliminada sem deixar margem para recuperação. Algo como os Romanos fizeram com os Cartaginenses, que até hoje não se sabe exatamente onde ficavam suas cidades. 😨

Percurso original da EF-118
Fonte: divulgação

Algo que vem de encontro às nossas críticas em outra série de artigos, chamada “Projetos inadequados e suas aplicações equivocadas” (e isso porque nosso revisor é um diplomata, o título original era bem mais agressivo 🤔), onde mostramos a falta de critério no desenvolvimento de alguns projetos pela área técnica do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

A linha do litoral, como já dito, foi deliberadamente sucateada pela RFFSA e, se reformada e retificada, poderia até hoje estar servindo aos objetivos para o qual foi construída, embora a decadência econômica de Campos e das cidades por onde ela passava pudessem hoje deixá-la em risco. Um aspecto importante não comentado na extinção dessa linha foram os “eco-chatos” (termo usado com certa frequência no meio), prováveis membros dos “alfacinhas verdes”, aquele grupo ecológico fictício que jogava bolinhos de Bacalhau no mar para que eles pudessem regressar ao seu habitat.

Trem do Parque Nacional de Cuyahoga Valley, em Ohio (EUA).
Um exemplo de operação ferroviária em uma área de preservação ambiental.
Fonte: Clevescene

Eles conseguiram, a partir da arguição de legislações esquecidas, desativar o trecho da ferrovia que passava pela reserva de Poço das Antas, para que assim o trem não prejudicasse o Mico-Leão Dourado. O estranho é que a medida não faz muito sentido (a não ser pelo fato da ferrovia não receber manutenção adequada na ocasião, acarretando riscos em caso de descarrilamento), pois ao citar o motivo de preservação da espécie de símio não devem ter levado em consideração que ele tem inteligência suficiente para não fazer moradia perto de ferrovias, e que estando na linha se afasta rapidamente quando o trem vai passar.

Trilhos da Linha do Litoral adentrando a Reserva Biológica de Poço das Antas
Foto: Google Street View

Não sabem, ou fingem não saber, que a ferrovia é amiga da natureza. Aqui mesmo no Brasil e em vários outros países ambas convivem e coexistem sem problemas, inúmeros são os exemplos. Aproveitem para relembrar a nossa postagem:

»» As Ferrovias e a Natureza

Com isso, e com o projeto de um novo traçado passando ao largo das reservas ecológicas, multiplicou-se o custo dessa nova ferrovia por pelo menos 10. Os empreiteiros agradecem penhoradamente a esses ecologistas que, além de aparentemente não entenderem tanto assim de [ecologia + ferrovia], também parecem não saber fazer contas.

Passagem de nível em Casimiro de Abreu, uma das PNs a ser contornada com o traçado da EF-118
Foto: Google Street View

É preferível fazer piadas com essas pessoas que acreditar que tenham existidos interesses escusos, com benefícios para quem apoiou tais iniciativas, que concretizadas fariam a felicidade das empreiteiras. Esperamos ainda que Ricardo Salles, o Ministro do Meio Ambiente, venha de alguma forma conhecer o projeto de nosso veículo ferroviário para bombeiros, e os benefícios que ele pode levar a reservas ecológicas, e assim desamarrar um pouco a atual legislação sobre o tema, extremamente restritiva.

O Porto de Angra dos Reis e a grande área de morros e encostas ocupadas por habitações
Fonte: Informativo dos Portos

Chamamos ainda a atenção dos leitores para um discurso do Presidente da República onde ele cita esses “eco-xiitas” (palavras de Jorge Seif, secretário de aquicultura e pesca). Ele cita nominalmente a Baia de Angra dos Reis, onde além de reduzir consideravelmente as potencialidades turísticas da cidade (segundo os próprios moradores e representantes de instituições as quais a AFTR é parceira), acabaram com o porto, extinguiram a ferrovia, prejudicando as exportações vindas principalmente de Minas Gerais, acabando com uma atividade econômica. Mas a construção de favelas comunidades foi liberada e está a todo vapor. O mesmo aconteceu com a Linha do Litoral.

Trecho da Linha do Litoral em São Gonçalo, obstruída por uma construção irregular
Foto: Eduardo (‘Dado’) em 2014

O Projeto da Ferrovia da Serra do Mar

Como todos os projetos da AFTR, esse é mais um que atende ao contexto do “Tecnicamente Perfeito e Economicamente Viável” defendido por nós. O objetivo original da EF-118 é atender ao Porto do Açu, ligando a malha da MRS Logística ao Porto… mas a que custo?
Nossa proposta é bem mais ampla, infinitamente mais barata e muito mais interessante para as atuais concessionarias que atendem a região, a MRS Logistica e VLI.

Vamos a ela:

  1. Construção de um trecho ligando Campos ao Porto do Açu, em bitola mista;
  2. Reconstrução e retificação do trecho em bitola mista da linha existente e abandonada, entre Campos e Portela, linha originalmente em bitola métrica, uma subida suave, Portela está a 48 m de altitude acima do nível do mar;
  3. Reconstrução em Bitola mista do trecho entre Portela a Cantagalo. Altitude de 391 m;
  4. Reconstrução em Bitola mista do trecho entre Cantagalo e Conselheiro Paulino;
  5. Reconstrução em bitola mista do trecho entre Conselheiro Paulino e Além Paraíba;
    • Ligação da bitola larga a linha da MRS;
    • Ligação da bitola métrica a linha da VLI ou outra concessionaria em bitola métrica;
  6. Reconstrução do trecho Nova Friburgo x Rio de Janeiro em bitola métrica.

Na próxima postagem, que complementa essa proposta, detalharemos melhor tudo isso, apresentando um quadro de distâncias e um vídeo auto-explicativo.

Mas observem algo importante: todo esse trecho em sua totalidade, com exceção de pouquíssimos metros, já existiu. Nossa proposta visa apenas a reconstrução de algo extinto, além de conectar linhas que nunca foram conectadas.

 

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Agradecemos a leitura. Até a próxima !

Imagem em destaque: Norway Train Fjord
(A opinião constante deste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da Associação)

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Autor

  • Mozart Fernando

    Engenheiro Mecânico formado pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral da AFTR no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de diretor-técnico da instituição. Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966. Esse Engenheiro durante esse período trabalhando no setor de cremalheiras acompanhou o desmonte da E.F. Cantagalo e conhecia diversas histórias envolvendo o desmonte da Ferrovia de Petrópolis realizado pela mesma equipe. Histórias que muitos preferem esquecer. Parte dessa convivência extremamente valiosa está transcrita nos textos publicados pela AFTR. Não se considera um “especialista” em ferrovias, outra palavra que hoje no Brasil mais desmerece do que acrescenta. Se considera um “Homem de Negócios” e entende que o setor ferroviário só terá chance de se alavancar quando os responsáveis por ele também forem homens de negócios. Diferente de rodovias, as ferrovias são negócios. E usar para ferrovias os mesmos parâmetros balizares de construção e projeto usados em rodovias redundará em fracasso. Mozart Rosa é alguém que mais que projetos, quer apresentar Planos de Negócios para o setor.

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