Por Mozart Rosa

Tempo de leitura: 30 minutos

Olá, Amigos e Amigas!
Dando continuidade a essa série especial que fala sobre o grande, porém pouco conhecido e divulgado, Engenheiro Morsing, trazendo seus projetos e os atualizando conforme os ideais da AFTR, hoje abordaremos a proposta que tornaria possível uma alternativa à ligação ferroviária entre Rio de Janeiro e São Paulo, através de um traçado diferente do já existente na Serra da Araras, repleto de túneis e outras obras de arte, que se tornou na época um projeto caríssimo, porém necessário. Entretanto, veremos nesta série que Morsing fez por merecer nosso reconhecimento: elaborou um outro traçado, até mais eficiente e menos dispendioso, unindo trechos ferroviários já existentes e os ligando a Portos do Rio de Janeiro, dentre outras virtudes.
Chega de papo, novamente sejam bem vindos(as) e vamos ao texto. Desejamos a todos uma excelente leitura!

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ÍNDICE

  • TRECHO 1
  1. O traçado alternativo Rio x São Paulo: A Variante de Morsing e os acréscimos da AFTR
  2. A Variante de Morsing
  3. Os benefícios para Barra Mansa e o Vale do Paraíba
  4. A extensão Ruy Barreto e o transporte de café
  5. Transporte Ferroviário de lixo
  • TRECHO 2
  1. O Acesso à Cruzeiro-SP e ao Sul de Minas Gerais
  2. Subconcessões
  3. Turismo Religioso
  4. E Minas Gerais?
  5. O retorno da Bitolinha
  • TRECHO 3.A
  1. Turismo Religioso e as Cargas Gerais
  2. Viação Gontijo
  3. Conclusão

TRECHO 1

O TRAÇADO ALTERNATIVO RIO DE JANEIRO x SÃO PAULO: A VARIANTE DE MORSING E OS ACRÉSCIMOS DA AFTR

Dividimos esse artigo em três partes para facilitar a compreensão, além dos respectivos subtópicos. Mas antes reproduziremos abaixo as três frases destacadas durante a postagem anterior:

  • Acesso a um porto do Rio de Janeiro para a EFOM/RMV;
  • O que representaria para toda a região sul de Minas Gerais, anteriormente atendida regularmente por ferrovias, ter um acesso ferroviário a um porto do Rio de Janeiro, e outro acesso ferroviário a São Paulo (Capital) em bitola métrica?
  • O que representaria para o turismo de Campos do Jordão, e regiões adjacentes, ter um acesso ferroviário à Cidade do Rio de Janeiro e também à São Paulo (Capital) em bitola métrica?
Em vermelho as linhas em bitola larga, em amarelo as linhas em bitola métrica, e em tracejado as linhas em bitola mista
Fonte: montagem sobre imagens dos Google Street View

A Variante de Morsing, aliada às propostas do corpo técnico da AFTR, junta tudo isso beneficiando uma região com mais de 5 milhões de habitantes. Esse seria o projeto ferroviário de maior alcance da história do Brasil moderno.


A VARIANTE DE MORSING

A Variante de Morsing efetivamente começa em Japeri, segue pelos fundos do Depósito Central de Munição do Exército até cruzar com a Rodovia Presidente Dutra, uma ótima possibilidade de, usando a Lei dos Pontos, a concessionaria Nova Dutra construir um viaduto ferroviário sobre a rodovia no trecho de Japeri.

Região de Japeri, mostrando a estação e Centro do Município, com a ligação proposta pela AFTR seguindo em direção a Rio Claro
Fonte: montagem em imagens de satélite do Google Earth

A partir deste ponto vai subindo, em um traçado com curvas suave, até chegar ao município de Rio Claro. São aproximadamente 90 km de ferrovia entre Japeri e Rio Claro, em campo aberto, necessitando basicamente de uma  limpeza, nivelamento, compactação de solo, e colocação de dormentes e trilhos, com necessidade de construção de obras de arte apenas no trecho dos lagos de Ribeirão das Lajes, inexistentes quando Morsing fez tal proposta.

Arte: Mozart Rosa

Colocamos 3 linhas em bitola métrica por acreditarmos que, sendo implantada essa linha inicial, pode despertar muitos interesses, inclusive com mais de uma concessionaria operando essas linhas em bitola métrica. Incluímos também na proposta a bitola larga, pois acreditamos interessar à MRS Logistica pelos ganhos que esse traçado proporciona a ela. Com esse traçado se abre um leque de possibilidades, como fazer a ligação Rio x Barra Mansa sem passar pelos tuneis da Serra das Araras, possibilitando o uso de composições Double Stack.

Trecho da proposta ferroviária na subida alternativa da Serra das Araras, entre Japeri e Rio Claro.
Fonte: montagem sobre imagens de satélite do Google Earth

 

Trecho entre a Represa de Ribeirão das Lajes e Rio Claro (linha correndo da direita pra esquerda), mostrando as ferrovias (linhas na cor preta) que podem se conectar com esta linha
Fonte: montagem sobre imagens de satélite do Google Earth

A menor inclinação do trecho possibilita também um menor consumo de combustível nas subidas e menos consumo de material frenante nas descidas.

Próximo aos lagos de Ribeirão das Lajes, a perspectiva mostra a rampa do trecho apontado por Morsing, aproveitando o próprio relevo relativamente suave da região
Fonte: montagem sobre imagens de satélite do Google Earth

Todos os possíveis arranjos comerciais estão de posse da equipe técnica da AFTR, inclusive uma proposta de subconcessão – inédita – que pode interessar à MRS

Proposta de construção de um terminal de transbordo e de embarque/desembarque de passageiros próximo a Piraí, integrado a um terminal rodoviário e à própria Rodovia Presidente Dutra
Arte: Eduardo (‘Dado’), sobre imagens de satélite do Google Earth

Nós da AFTR, a partir de Rio Claro, propomos os novos arranjos técnicos e comerciais. Entretanto primeiro entendamos o que existe em matéria de ferrovias, hoje no Rio de Janeiro a partir de Barra Mansa: nesta região existe uma linha em bitola métrica vinda de Minas Gerais, originaria da EFOM – Estrada de Ferro Oeste de Minas e posterior RMV – Rede Mineira de Viação, construída bem depois das propostas de Morsing, que sai de Barra Mansa e vai até Angra dos Reis, passando por Rio Claro. Esta linha está hoje, no trecho Barra Mansa x Angra dos Reis, completamente abandonada, mas pode ser retificada e reconstruída em bitola mista.

· • Mas por que em Bitola Mista? • ·

Nossa proposta é que o trecho Barra Mansa x Rio Claro seja retificado e reconstruído em Bitola Mista para atender a MRS, a VLI, ou à outra concessionaria interessada, operando em bitola métrica.

Linha da EFOM/RMV entre Barra Mansa e Angra dos Reis, atualmente abandonada, com todas as estações e paradas do trecho.
Arte: Eduardo (‘Dado’) sobre imagens do Google Earth

A MRS pode, a partir de Barra Mansa, usar essa linha para fazer o trajeto Rio de Janeiro x São Paulo sem passar pela Serra das Araras, com sua declividade, e sues vários pelos tuneis, que limitam o tráfego de composições com maior altura.
A concessionaria de bitola métrica, seja ela qual for, pode chegar vinda do interior de Minas Gerais e, a partir da linha que um dia já foi a EFOM/RMV, usar a Variante de Morsing para chegar à cidade do Rio de Janeiro e eventualmente ao porto de Itaguaí, como proposto na nossa postagem da Ferrovia Centro-Sul Fluminense.

Projetos AFTR 2 – Ferrovia Centro-Sul Fluminense (1)

Projetos AFTR 2 – Ferrovia Centro-Sul Fluminense (2)

Pode também, contornando a Baía de Guanabara, chegar ao porto de Niteroi, como proposto na nossa postagem sobre Linha 3 do Metrô. Possibilita, com isso, a expansão da ferrovia pelo lado mineiro, indo mais para o interior do estado gerando uma atratividade que ela não teve nem na época de sua construção.

Projetos AFTR 5 – A Linha 3 do Metrô

A região de Carrancas, Cruzilia, e outras cidades por onde a ferrovia passa atualmente, regiões produtoras de café, não tem uma ligação rodoviária decente com o Rio de Janeiro. A AFTR, inclusive, apresentou proposta à SETRANS de asfaltamento da RJ-159, que traria benefícios para o estado do Rio de Janeiro por alcançar aquela região. Mas, como sempre, fomos ignorados.

Trecho da Rodovia Estadual RJ-159 ao chegar ao limite interestadual com Minas Gerais, onde o seu prolongamento dá acesso a cidades turísticas de Minas Gerais
Fonte: Google Street View

Toda essa região é ou já foi servida por trilhos e, com a construção do traçado de Morsing, faz a ferrovia passar a ter enorme valor econômico, com possibilidade também de chegar ao estado de Goiás como no passado. Já mostramos acima os benefícios disso e, tendo acesso ao porto de Itaguaí ou de Niterói, pode ser importante forma de escoamento da produção agrícola do cerrado Brasileiro.

Porto de Itaguaí
Fonte: Porto Gente

Além dos diversos arranjos comerciais possíveis, devemos lembrar também dos veículos de serviços desenvolvidos pela AFTR, que muito podem fazer pela população das diversas cidades mineiras por onde passa e por onde poderá passar a ferrovia.

Ainda sobre esse trecho mineiro da antiga EFOM/RMV – e de acordo com o Sr. Carlos Antonio Pinto, ex-ferroviário, pesquisador e morador local – existe uma ferrovia construída em 1965 que está abandonada, moderna, ligando Lavras a Divinópolis e, que dentro dessa proposta, pode vir a ser usada.

Diagrama simplificado das linhas da EFOM/RMV
Fonte: internet

Por outro lado, dessa ferrovia existente e abandonada em solo do Estado do Rio de Janeiro no trecho Rio Claro x Angra, esse trecho pode ser reformado e usado para o trânsito de veículos de serviço para a população, e de veículos de carga e de passageiros atendendo a cidade de Angra dos Reis, podendo partir até da cidade do Rio de Janeiro.

Vagão abandonado no igualmente abandonado pátio de Lídice, na linha da EFOM/RMV em Rio Claro
Imagem: Eduardo (‘Dado’) em 2017

Transporte regular de passageiros por ferrovias, ligando o Rio de Janeiro a Angra dos Reis? Acreditem, não é utopia, é perfeitamente viável com a implantação dessa proposta. O transporte de carga geral torna essa ferrovia viável.

Interior do VLT produzido pela Marcopolo
Fonte: GHZ

Devemos lembrar que a linha Rio Claro x Japeri, proposta por Morsing, terá como interesse principal se ligar a malha mineira que restou da EFOM/RMV, mas nada impede que o trecho de linha Rio Claro x Angra dos Reis, que já existe, seja retificado e restaurado, pois são aproximadamente 60 kms. Fazer a ligação da malha ferroviária de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, a um dos portos e também à Capital como previsto na nossa proposta do Portal Rio, vai gerar uma quantidade tão absurda de arranjos comerciais que fará a economia daquela região de Minas Gerais dar uma alavancada talvez até maior do que quando houve a implantação dessa ferrovia no início do século XX.

Portal Rio – Reativando a Estação Leopoldina

Aproveitando-se dessas novas ligações ferroviárias, a possibilidade de se constituírem concessionarias de transportes de passageiros, ligando várias dessas cidades mineiras a cidade do Rio de Janeiro, é algo bem factível. Além, óbvio, do transporte de carga geral. Isso impactará de forma brutal a economia de cidades como Lavras, Divinópolis e seus arredores. Incentivará, além disso, a concessionaria futura ou atual a investir na ampliação e na reforma das linhas originais dessa antiga ferrovia. Inclusive não devemos esquecer das propostas primárias da AFTR, que seria restaurar o “Estilo Leopoldina de Ser”, e da construção das usinas de queima resíduos para a produção de energia elétrica: um pilar de todos os projetos da AFTR.


OS BENEFÍCIOS PARA BARRA MANSA E O VALE DO PARAÍBA

Até agora apresentamos benefícios para os extremos dessa linha, seja no estado de Minas Gerais, seja no estado do Rio de Janeiro, mas em nenhum momento até agora citamos os benefícios que o município de Barra Mansa pode ter com a implantação desse projeto.

Trens da VLI estacionados em Barra Mansa na linha da EFOM/RMV (bitola métrica)
Imagem: Eduardo (‘Dado’)

A região tem forte vocação para as indústrias siderúrgicas, pois além da CSN em Volta Redonda existem também a Siderúrgica Barra Mansa e a antiga Metalúrgica Barbará, comprada pela Saint Gobain, fabricante de tubos de ferro fundido e acessórios. Todas são empresas fabricantes de produtos muito mais adequados de serem transportados por ferrovias do que por rodovias. A ferrovia amplia, assim, as possibilidades comerciais dessas empresas.

Trem da VLI saindo da fábrica da Intercement
Fonte: Flickr

Outra possibilidade é o transporte de cimento produzido pela InterCement em Ijaci-MG, que pode chegar ao mercado consumidor do Rio de Janeiro através das ferrovias, bem como toda a carga da região.


A EXTENSÃO RUY BARRETO E O TRANSPORTE DE CAFÉ

A primeira menção ao traçado de Morsing é de 1925, na publicação “Revista das Estradas de Ferro”, em matéria mostrada no noss artigo anterior. Posteriormente o Sr. Ruy Barreto, em seu artigo também já apresentado, mostra a importância desse traçado para a economia mineira. O que nós não sabíamos, e nos foi dito pelo próprio sr. Ruy Barreto, é que o traçado ao ser construído e se conectando à ferrovia atualmente subutilizada, resquícios da EFOM/RMV, poderá servir de via de escoamento para a produção de café de regiões de Minas Gerais, que juntas produzem em torno de 25 milhões de sacas de café por ano, e que transportam esse café de Minas Gerais para Santos, vejam só, por caminhões.

Vagão de 44 m³ para transporte de café, fabricado pela empresa Belga Baume & Marpent e utilizado no transporte até o Porto de Santos
Fonte: La page des Tassignon

Pode-se construir esse trecho e conectá-lo à ferrovia existente que adentra o estado de Minas Gerais, também construindo aqui na Baixada Fluminense uma linha em bitola métrica para o porto de Itaguaí, paralelo a linha de bitola larga existente, o qual chamaremos de Extensão Ruy Barreto. Este trecho já vinha sendo defendido por nós, inclusive, como mostrado na postagem da Ferrovia Centro-Sul Fluminense.

A construção do Traçado de Morsing, e da extensão Ruy Barreto, poderá reduzir custos de transporte e transformar o Rio de Janeiro novamente em um polo exportador de café, fazendo o estado voltar a ter relevância maior para a economia nacional.

Pátio da estação de Rio Claro, ponto de conexão da linha proposta por Morsing e apresentada pela equipe da AFTR
Imagem: Eduardo (‘Dado’)

A equipe da AFTR é especializada (mas não “especialista”😆) em mobilidade e em ferrovias, mas pouco ou nada conhece sobre movimentação portuária. Entretanto, segundo informações recebidas, é perfeitamente possível que em um dos portos localizados em Itaguaí seja construída uma área para importação e exportação de grãos alimentícios, podendo importar trigo e exportar café, além de outros grãos produzidos nos locais atendidos por essa ferrovia, com consequente diminuição no custo do frete e no fornecimento a cidades de Minas Gerais.


TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE LIXO

Além de toda essa quantidade de benefícios, essa nova linha em bitola métrica passará na porta do maior aterro sanitário do Rio de Janeiro, de propriedade da Ciclus, que poderá usar a ferrovia para receber lixo de outras localidades podendo também ali construir uma usina de queima de lixo para geração de energia elétrica.

Aterro Sanitário de Seropédica, administrado pela empresa Ciclus Ambiental.
Fonte: Energia Hoje

A antiga malha da EFOM/RMV, de uma linha decadente e abandonada, se transforma em um negócio milionário.

Porto de Niterói. Em primeiro plano, o prédio da desativada estação ferroviária General Dutra
Fonte: O Globo

Além disso e voltando um pouco no assunto, lembramos que existe também uma outra opção de local para exportação desse café que pode ser o porto de Niterói, caso as autoridades abracem a ideia da AFTR de, na construção da linha 3 do metrô, incluir uma linha métrica para uso do porto de Niterói. Este porto está subutilizado, e possui barreiras naturais que diminuem o vento, ajudando a diminuir perdas, sendo adequado à movimentação de grãos, e podendo se firmar como porto exportador desses produtos.
A reconstrução da linha ferroviária em volta da baia de Guanabara também está prevista em diversas propostas da AFTR.


TRECHO 2

O ACESSO A CRUZEIRO E AO SUL DE MINAS GERAIS

Trata-se de uma proposta exclusiva da AFTR, criada pelo seu corpo técnico: a construção da Variante de Morsing que chamamos de trecho 1, propicia um acesso rápido e inédito a Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. De Rio Claro até Cruzeiro existe a possibilidade de se construir um trecho de ferrovia quase retilíneo, de aproximadamente 130 kms, sem passar por centros urbanos e que possibilitam velocidades médias elevadas. Chegamos então a uma possível ligação com a linha de bitola métrica em Cruzeiro, da antiga E.F. Minas x Rio e com isso se realiza um sonho de mais de 100 anos, possibilitando que as cargas das cidades do Sul e Sudeste de Minas Gerais, anteriormente servidas por essa ferrovia, cheguem ao Rio de Janeiro.

Trecho proposto entre Rio Claro-RJ e Cachoeira Paulista-SP (linha lilás), podendo ser ligada à Cruzeiro, próximo dali. CLIQUE PARA AMPLIAR
Montagem sobre imagem de satélite do Google Earth

Um viaduto ferroviário cruzando a Dutra perto de Cruzeiro pode ser construído pela concessionaria Nova Dutra, usando a Lei dos Pontos, proposta da AFTR.

Projeção de um possível viaduto ferroviário próximo ao acesso da Rodovia Presidente Dutra para Cachoeira Paulista
Fonte: montagem sobre imagens do Google Street View e Mapio.net

Além disso existe a possibilidade de uma ligação com a bitola larga de 1600 mm em Cachoeira Paulista-SP, caso o setor técnico e comercial da MRS ache compensador participar, construindo uma linha mais retilínea e com velocidade média maior e com menor tempo de viagem que a linha hoje usada e do século XIX, entre Cruzeiro e Barra Mansa.

Esquema mostrando as linhas em bitola larga seguindo em direção a Cachoeira Paulista e as em bitola métrica seguindo em direção a Cruzeiro
Montagem sobre imagens do Google Earth

Lembrando que nosso amigo Bruno Sanches, da ABPF em Cruzeiro, obviamente deverá ser consultado sobre tudo isso. Afinal foi ele e sua equipe que, em um trabalho abnegado, impediram a destruição pura e simples de todo o trecho ferroviário em bitola métrica de Cruzeiro e região.

Trem da ABPF
Fonte: Jornal Atos

O que acham de um trem Rio de Janeiro x São Lourenço, ou Rio de Janeiro x Tiradentes, ou algum trecho similar? As possibilidades são enormes! Embora sendo trens regionais, e não sendo o foco da ABPF que opera na região, essa proposta pode perfeitamente sair do papel por meio de um outro operador ferroviário de passageiros.

 


SUBCONCESSÕES

O foco são cargas, mas as Subconcessões nos permitem sonhar.

Subconcessões: um importante instrumento a ser introduzido no setor.

A subconcessão, como proposta por nós, é a entrega da operação desses trens de passageiros a novas empresas ferroviárias, focadas no transporte de passageiros e carga geral, dividindo a linha com a concessionaria maior de graneis.

Falamos aqui em passageiros, mas o volume de carga geral passível de ser transportado é expressivo, pode incentivar a criação de novas empresas ferroviárias no Brasil dispostas a explorar esse nicho. Cargas gerais e passageiros são versões para o século XXI de empresas focadas no “Estilo Leopoldina de Ser”.

Foto de 1985 mostrando um trem de transporte de grãos da Dakota Railways, uma típica Shortline americana
Fonte: Twitter American Railways

Sobre o transporte de carga geral queremos prestar aos nossos leitores uma informação que muitas vezes passa batida por todos que comentam o assunto: a AFTR já apresentou diversas vezes em suas postagens imagens conceituais de veículos produzidos pela Bom Sinal e Marcopolo, adaptados para transporte de carga geral, algo inédito no Brasil.

Proposta AFTR de trem leve, neste caso da Bom Sinal, para transporte de cargas com maior valor agregado
Montagem: Mozart Rosa

Além disso defendemos em todos os projetos o uso de Contêiner de 10’, criando um nicho de mercado inédito. São ações como essas, que também geram lucro, que diferenciam empresas antigas, focadas no estilo EFCB, das empresas novas a serem constituídas, que podem optar em seguir o “Estilo Leopoldina de Ser”

 


TURISMO RELIGIOSO

Alguém no governo precisa reconhecer a importância do turismo religioso e das ferrovias dando suporte a esse turismo. Vejam abaixo, em uma de nossas postagens, a importância das ferrovias fomentando a adoração a Santo Amaro e suas festas. Mais adiante ainda falaremos melhor a respeito do assunto, citando Aparecida do Norte, cidade da padroeira do Brasil e principal destino religioso do país.

 

Projetos AFTR 3 – A Ferrovia da Serra do Mar (parte final)

O trecho II do traçado alternativo, embora previsto para chegar em Cruzeiro na Bitola métrica, pode perfeitamente ter um desvio para Cachoeira Paulista que, além de atender o transporte de cargas dessa localidade, pode atender também ao transporte de passageiros.

Nesta imagem podemos visualizar a proximidade (menos de 1km) entre a estação ferroviária e as instalações da Canção Nova em Cachoeira Paulista-SP
Fonte: Google Earth, informações por Eduardo (‘Dado)

A emissora de rádio e TV Canção Nova, uma comunidade católica que tem sede nessa cidade, recebe diariamente uma quantidade significativa de ônibus fretados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e outros estados, principalmente com idosos. Estes certamente ficariam mais confortáveis em trens de passageiros como os projetados pela AFTR.

Infraestrutura da Canção Nova em Cachoeira Paulista, possuindo um grande estacionamento para ônibus e até um camping para romeiros!
Fonte: Canção Nova

Essa emissora tem entre seus membros diversos padres famosos e tem uma audiência bastante significativa. A opção de um trem de passageiros regular na cidade pode fomentar esse tipo de turismo que já existe de forma incipiente.


E MINAS GERAIS?

A região de Minas Gerais a ser atendida é enorme, ainda mais com a possível reforma e ampliação em solo mineiro de ferrovias degradadas ou abandonadas, se ligando a essa linha que sairá de Cruzeiro-SP adentrando Minas Gerais. É possível assim chegar a cidades como Três Corações e Varginha, que muito podem se beneficiar do transporte de carga geral, além da construção de usinas de queima de lixo (transportado via trem) para geração de energia elétrica que pode ajudar bastante no desenvolvimento da região.

Trem com conteiners de transporte de resíduos
Fonte: Recognizedtrader.us

Varginha não é a terra apenas do 👽. Tem forte vocação industrial com muitas empresas que prosperariam ainda mais tendo a disposição uma ferrovia de carga geral para receber matérias primas, e despachar produtos manufaturados. Existe na região, inclusive, um moinho que pode voltar a receber trigo pela ferrovia.

Trem da RFFSA transportando trigo do Moinho Sul Mineiro, em Varginha.
Fonte: Correio do Sul

Três Corações foi uma importante estação, onde existia um entroncamento ferroviário. A proposta da AFTR resgata isso, fazendo o transporte de carga geral para a região, lixo para eventuais usinas de queima para geração de energia elétrica, e trazendo a produção de Três Corações para os grandes centros. A partir daí pode-se usar essas linhas ferroviárias, por meio de Subconcessões, para transporte de passageiros.

Isto é um passo, não é um sonho

Trecho original da Estrada de Ferro Minas and Rio em 1969, ligando Cruzeiro-SP a Três Corações-MG
Fonte: Arquivo Público Mineiro

Isso será trazido por novas concessionarias que vejam as potencialidades dessa proposta. A carga geral produzida nessa região será destinada ao mercado consumidor do Rio de Janeiro e de São Paulo. E vice-versa. E, vale lembrar: ainda falaremos da ligação a São Paulo. E finalizando, nesse trecho também poderão rodar os veículos de serviço desenvolvidos pela AFTR.


O RETORNO DA BITOLINHA

Essa proposta da AFTR, tanto no trecho 1 como no trecho 2, possibilita restaurar dentro do estado de Minas Gerais a ferrovia em diversas cidades onde ela foi extinta, mais especificamente nas cidades onde existia a famosa Bitolinha, mas neste caso restauradas em bitola métrica, dentro do “Estilo Leopoldina de ser”, onde além das cargas pode existir o transporte de passageiros, também com forte apelo turístico.

Trem turístico da FCA circulando nas linhas da EFOM/RMV em Minas Gerais
Fonte: Wikipedia

Esse título é um pouco chamativo, trata-se de um eufemismo, pois não acreditamos ser viável ou nem mesmo defendemos o retorno dos trens da Bitolinha de 760mm, mas defendemos sim, como já deixamos claro acima, que nas cidades do interior do estado de Minas Gerais por onde a Bitolinha passou, e certamente deixou muitas lembranças, que novas concessionárias reconstruam essas ferrovias, agora em bitola métrica, sempre observando o “Estilo Leopoldina de Ser”. Transportando carga geral, resíduos, e passageiros, mas dessa vez com a possibilidade de se conectarem a linhas-tronco que os possibilitara chegar a cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. As linhas originais da Bitolinha, passavam por cidades que hoje tem potencial turístico e econômico que justificam, essa reconstrução.


TRECHO 3.A

O TURISMO RELIGIOSO E AS CARGAS GERAIS

Vamos falar melhor sobre esse assunto, que é uma outra proposta exclusiva da AFTR criada pelo seu corpo técnico: uma NOVA ligação ferroviária Rio x Aparecida do Norte em Bitola métrica, saindo da estação Barão de Mauá (Leopoldina), passando por Aparecida do Norte, Guaratinguetá, indo até Pindamonhangaba podendo lá se ligar a E.F Campos do Jordão.

O que acham de uma linha de trem Rio de Janeiro x Campos do Jordão? Ou São Paulo x Campos do Jordão? Ou uma linha regular Rio x Guaratinguetá, ou São Paulo x Guaratinguetá? E o que podemos dizer de uma estação bem robusta em Aparecida, para fomentar o turismo religioso? Um trem que pode ligar a cidade da padroeira do Brasil ao Rio de Janeiro, a São Paulo e até às cidades do interior de Minas Gerais? Com o prolongamento dessa linha até a capital de São Paulo qual seria o movimento de paulistas, tanto de lá quanto do interior, para Aparecida?

Estação ferroviária de Aparecida
Fonte: CFVV


No desenho de linhas apresentados no início do texto, com três linhas em bitola métrica, não parece ser um exagero. Acreditamos que esse traçado, pelos inúmeros arranjos comerciais que possibilita, comporte pelo menos três concessionarias independentes: eis o motivo de tantas linhas em paralelo. E no entorno das estações dessa nova linha pode-se construir terminais rodoviários para ligar os ônibus à estação ferroviária, integrando-os e racionalizando o sistema de transporte nas cidades por onde a ferrovia passa. Pode-se ainda definir a destinação de espaços para instalações de agências de aluguel de automóveis, para facilitar a vida de futuros turistas e homens de negócios. Isso é previsto em várias propostas da AFTR.

Agências locadoras de veículos na belíssima estação ferroviária do Porto, em Portugal
Fonte: Porto Car Rental

Mas novamente frisamos: não se trata apenas de construir uma linha de passageiros, é implantar nessas linhas o “Estilo Leopoldina de Ser”, com transporte de carga geral, passageiros, veículos de serviço criados pela AFTR, dentre outros, prestando serviços à população, incluindo tudo o que for possível transportar pelo trem, e não apenas graneis como ocorre muito atualmente, mas aproveitando linhas existentes, e transportando passageiros por meio de Subconcessões.

Sempre lembrando, novamente mais uma vez de novo again, que as usinas de queima de lixo para geração de energia elétrica podem trazer enormes benefícios para as cidades por onde passarão as linhas ferroviárias.

Fonte: ORF Salzburg

O que pode representar para a região de Campos do Jordão e Pindamonhangaba, em termos econômicos e de proteção ao meio ambiente, uma usina de geração de energia elétrica com a queima de lixo, com este material sendo transportado pela ferrovia, além do transporte pela ferrovia de carga geral para essas cidades?

Vamos destacar novamente: uma ligação ferroviária Rio x Aparecida, saindo da Estação Leopoldina. O quanto atrairia de turistas de outros estados e até de outros países? Isso pode ser importante fonte de divisas para o Brasil. Um trem de romeiros e devotos de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil e dos Ferroviários.

Trem Eucarístico trazendo a imagem de Nossa Senhora Aparecida até o Rio de Janeiro
Fonte: Site Estação Ferroviárias do Brasil

No dia 30 de maio de 1931 foi feita a consagração de Nossa Senhora Aparecida como a padroeira do Brasil, mas o que poucos sabem é que a imagem da Santa, encontrada pelos pescadores e que fica na Basílica de Aparecida, veio para o Rio de Janeiro para a cerimônia de consagração… de trem!

Trem Eucarístico trazendo a imagem de Nossa Senhora Aparecida até o Rio de Janeiro
Fonte: Site Estação Ferroviárias do Brasil

Durante anos existiu um trem partindo do Rio de Janeiro e outro de São Paulo com destino a Aparecida do Norte, mas posteriormente esse trem foi extinto. A construção do traçado alternativo também pode viabilizar o retorno dessa composição.

Além disso muitas pessoas idosas, ou pessoas com problemas de locomoção, gostariam de ir a Aparecida e não o fazem por serem os ônibus apertados, o que não acontecerá com os trens. Diversas cidades mineiras integrantes desse nosso projeto podem ter rotas ligando-as a Aparecida. Enfim, descortina-se um horizonte de possibilidades! Somos um país cristão e conservador, pois então tentemos fazer a ferrovia cumprir sua função de também aproximar nosso povo de sua padroeira.


Antes de iniciarmos a descrição do Trecho 3.B no próximo artigo, com uma proposta extremamente importante para a economia paulista, falaremos de uma das maiores empresas de transporte rodoviário de passageiros do Brasil: a Viação Gontijo.

Fonte: Além do Fato

Para o morador do Rio de Janeiro entender o que é essa empresa podemos dizer que ela é a versão mineira da 1001. Uma empresa monstruosa, com partidas e chegadas de cidades de Minas Gerais para outros estados, e fazendo transporte intermunicipais dentro de Minas Gerais. Uma empresa de certa forma pouco conhecida pelos Cariocas.

Ônibus da Viação Gontijo em 1980
Fonte: Ônibus Brasil, créditos na imagem

Pois bem, considerando que os trechos 1, 2 e 3.A de nosso traçado alternativo alcançam o interior de Minas Gerais, o que impediria a Viação Gontijo, por meio de uma Subconcessão ou mesmo assumindo alguns trechos, operar trens leves em trechos saindo de cidades do interior de Minas Gerais, alcançadas por nossas propostas, para Campos do Jordão, Aparecida, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras cidades?

Lembrando que os trens leves são aqueles produzidos pela Bom Sinal e Marcopolo

Relacionamos abaixo apenas algumas das cidades mineiras que podem vir a ser beneficiadas por nossas propostas, e algumas rotas que poderão ser criadas.

Ônibus da Viação Gontijo fazendo o trajeto Três Corações x Belo Horizonte
Fonte: Ônibus Brasil, créditos na imagem

Negócios são negócios, e a Viação Gontijo não chegou aonde chegou desprezando boas oportunidades de negócios:

Rio de Janeiro x Três Corações
Rio de Janeiro x Varginha
Lavras x Barra Mansa x Rio de Janeiro
Lavras x Barra Mansa x São Paulo
Divinópolis x Rio de Janeiro
Divinópolis São Paulo
Uberaba x Rio de Janeiro
Uberaba x São Paulo
Araxá x Rio de Janeiro
Araxá x São Paulo

E, é claro, rotas ligando algumas dessas cidades mineiras a Aparecida do Norte.

Ônibus da Viação Gontijo no terminal rodoviário de Aparecida do Norte
Fonte: Youtube, créditos na imagem

 


CONCLUSÃO

Aqui lançamos apenas ideias, quem deve realmente opinar sobre o assunto são pessoas ligadas ao transporte rodoviário, que esperamos se interessar em investir no transporte ferroviário. Eles, sim, são entendedores do setor.

Encerramos a abordagem do Trecho 3.A, mostrando parte dos diversos arranjos comerciais que possibilitam viabilizar todos o traçado previsto, com benefícios para os estados envolvidos e principalmente para o estado de Minas Gerais. Mas não devemos esquecer que a eventual construção de um porto em Ubatuba-SP, e uma ferrovia de acesso, como tentado e iniciado no início do século XX, transformaria o Trecho 3.A em parte de um importante corredor de exportação para produtos agrícolas de Minas Gerais e até de parte dos estados do Centro-Oeste, com redução no custo do frete pelas distâncias menores do que as atuais distâncias para alcançar o Porto de Santos, através das ferrovias atualmente existentes.

Uma das pontes construídas e abandonadas do projeto ferroviário que ligaria Ubatuba a Taubaté
Fonte: Piramidal

O traçado alternativo proposto pela AFTR une diversas ferrovias abandonadas e subutilizadas, e dá a elas um valor comercial anteriormente inexistente.

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A opinião constante neste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessariamente ou totalmente, a posição e opinião da instituição.

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Autor

  • Eduardo ('Dado')

    Formado em Arquivologia, pós-graduando em Engenharia Ferroviária, técnico em TI, produtor e editor multimídia, webmaster e webdesigner, pesquisador e historiador informal. No começo dos anos 2000 se aprofundou na área de mobilidade e transportes (e a preservação histórica inerente ao assunto, sobretudo envolvendo os transportes sobre trilhos), e a partir de contatos pessoais e virtuais participou de, e formou, grupos voltados para a disseminação do assunto, agregando informações através de pesquisas presenciais e em campo. Em 2014 fundou formalmente a AFTR - Associação Ferroviária Trilhos do Rio onde reuniu membros determinados a lutarem pela preservação e reativação de trechos ferroviários, além de todos os aspectos ligados às ações, como o resgate da memória e cultura regional, melhoria na mobilidade e consequentemente na qualidade de vida da população, etc Foi presidente e é o atual coordenador-geral da AFTR Não se considera melhor do que ninguém, procura estar sempre em constante evolução e aprendizado, e acumula experiências sendo sempre grato aos que o acompanha e apoia. "Informação e conhecimento: para se multiplicar, se divide"

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